Brasil amplia exportações de café para a China enquanto Estados Unidos elevam tarifas

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Por Valdecir Diniz Oliveira*

No mesmo dia em que o presidente Donald Trump oficializa uma tarifa de 50% sobre o café brasileiro exportado aos Estados Unidos, a China anuncia a habilitação de 183 novas empresas brasileiras para vender o produto ao mercado chinês. A medida, com validade de cinco anos, representa um alento para o setor cafeeiro nacional, que vê seu principal destino comercial se fechar abruptamente.

Os Estados Unidos são responsáveis por cerca de 30% das exportações brasileiras de café, movimentando mais de US$ 4 bilhões por ano. A tarifa representa um golpe duro, especialmente para produtores de café arábica, insumo essencial para a indústria americana de torrefação.

O impacto da medida poderá ser sentido pelos próprios consumidores americanos, que verão o preço do tradicional cafezinho subir. Redes como Starbucks já projetam reajustes ou mudanças na cadeia de suprimentos. O tarifaço, longe de proteger o mercado local, tende a penalizar a base de consumo norte-americana.

Do outro lado do mundo, surgem boas perspectivas. Embora a habilitação das empresas brasileiras para exportar à China represente uma oportunidade, o país asiático ainda consome muito menos café: em 2024, importou apenas 55 mil toneladas, contra 471 mil toneladas compradas pelos EUA.

Ainda assim, o mercado chinês é promissor. O consumo per capita de café na China é de apenas 16 xícaras por ano, frente à média global de 240. No entanto, o crescimento é acelerado, impulsionado por redes como a Luckin Coffee, que firmou acordo para comprar 240 mil toneladas de café brasileiro até 2029, com receita estimada de US$ 2,5 bilhões.

A habilitação das empresas pode ser o início de uma nova rota comercial. Projeções indicam que, mantida a tendência de crescimento, a China poderá figurar entre os cinco maiores importadores de café brasileiro nos próximos dez anos.

Pix vira alvo de crítica de Trump e desafia monopólios

Além do café, o sistema de pagamentos instantâneos Pix entra na mira do governo americano, que acusa o Brasil de práticas comerciais desleais. Empresas como Visa e Mastercard, que dominam o mercado de cartões, perdem espaço frente ao Pix, gratuito, instantâneo e integrado à vida financeira da maioria dos brasileiros.

O presidente Lula argumenta que o avanço do Pix representa o fim da dependência de sistemas tarifados, e o ministro Haddad reforça que ceder à pressão estrangeira seria retroceder na inclusão bancária.

Diante da ofensiva americana, o Brasil busca fortalecer laços com os países do Brics (China, Índia, Rússia e África do Sul) e ampliar sua presença em mercados como Alemanha, Japão, Coreia do Sul e Oriente Médio. A entrada da bandeira chinesa UnionPay no Brasil também desafia o domínio de Visa e Mastercard, oferecendo taxas mais baixas e integração com carteiras digitais.

O Pix não apenas rompe com modelos ultrapassados como inspira plataformas semelhantes, como o FedNow, previsto para ser implementado nos Estados Unidos. Aliado à modernização do sistema bancário, ele posiciona o Brasil como referência mundial em inovação financeira. Países acompanham o modelo, que combina inclusão, baixo custo e eficiência.

Em vez de limitar-se à reação diante das pressões externas, o Brasil lidera uma abordagem que conecta democracia econômica, soberania tecnológica e sustentabilidade comercial.

O tarifaço de Trump, pensado como uma punição, provoca uma reorganização estratégica da economia brasileira. Ao buscar novos mercados, fortalecer o Pix e estreitar relações com o Brics, o Brasil transforma o revés em oportunidade.

Enquanto os chineses saboreiam o genuíno café brasileiro, os americanos amargam um cafezinho mais caro — e um sistema financeiro menos competitivo.

*Valdecir Diniz Oliveira é cientista político, jornalista e historiador

 

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