Semana do Ar em Itabira é oportunidade para discutir o automonitoramento da qualidade do ar, as queimadas e os incêndios florestais

Fotos: Reprodução/
Acervo Vila de Utopia

Monitoramento independente é essencial para confrontar dados da mineradora Vale e da siderúrgica Atlas

A Semana do Ar em Itabira, promovida pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Proteção Animal (Semapa), ocorre entre os dias 8 e 15 de agosto, no auditório do Parque Municipal Natural do Intelecto, justamente quando o município enfrenta um dos períodos mais críticos do ano em relação à qualidade atmosférica.

Com a chegada dos ventos fortes típicos de agosto, partículas finas de minério e sílica são levantadas em nuvens de pó preto que se espalham por bairros e comunidades.

Os incêndios florestais em Itabira têm se tornado eventos recorrentes. Neste final de semana, focos de queimadas atingem a região do Pontal, dentro de uma área pertencente à mineradora Vale, como acontece todos os anos

Soma-se a isso o fogo criminoso que, impune, consome áreas de vegetação seca na zona urbana e rural, com destaque para o recorrente incêndio florestal no Pontal, neste final de semana, que ano após ano escancara a fragilidade das políticas de fiscalização e prevenção de proprietários e da Prefeitura.

Com atividades voltadas à educação ambiental e à promoção da saúde, o evento busca sensibilizar a população sobre os impactos da poluição atmosférica. Mas diante da realidade local, marcada por altos índices de doenças respiratórias e uma mineração que encobre a cidade com poeira, é preciso ir além da sensibilização.

A participação da mineradora Vale na programação é importante para que a população faça questionamentos que são cruciais – e que mesmo há anos cobradas, continuam insolúveis.

Para início de discussão, há de se considerar o fato que a mineradora realiza o automonitoramento da qualidade do ar, cujos dados são divulgados no portal ItabiraAr, da Prefeitura.

Mesmo quando há episódios críticos, com a poeira da mineração encobrindo toda a acidade, esses dados do automonitoramento frequentemente indicam condições “moderadas”, o que sugere falhas de calibração ou subnotificação.

A necessidade de um monitoramento independente torna-se evidente, especialmente para confrontar os dados oficiais e garantir transparência à população.

Poluição do ar no Distrito Industrial, segundo moradores, em uma indústria de curtume: “Não é a primeira vez nesta semana.”

Estudos científicos reforçam a urgência por medidas mais eficazes

A professora Ana Carolina Vasques de Freitas, da Universidade Federal de Itajubá (Unifei), será uma das referências técnicas na Semana do Ar. Ela coordenou pesquisas em parceria com a Universidade de São Carlos que evidenciam a relação entre a concentração de material particulado em suspensão e o aumento nas internações por doenças respiratórias.

Os dados utilizados nesse estudo foram obtidos por meio de monitoramento ambiental independente e apresentaram divergências significativas em relação aos indicadores divulgados pelo sistema de automonitoramento da Vale.

Em sua pesquisa, foram identificadas concentrações de metais pesados como ferro, chumbo e vanádio em níveis superiores aos encontrados em grandes capitais brasileiras. Esses dados reforçam a urgência de políticas públicas que vão além da retórica ambiental.

Poluição da usina de ferro gusa: sem fiscalização

A Prefeitura, por sua vez, promete desde a gestão passada instalar uma estação fixa de monitoramento no Distrito Industrial, onde moradores do bairro Barreiro enfrentam poluição constante da usina de ferro gusa e agora também de uma caldeiraria de curtume.

Enquanto isso, o único monitoramento existente é feito pela própria siderúrgica Atlas, sem fiscalização independente, ficando um jogo de empurra entre os órgãos ambientais municipal e estadual.

A Semana do Ar precisa ser mais do que um evento educativo. É hora de cobrar a continuidade dos estudos epidemiológicos iniciados pela USP em 2000, exigir a implementação de um sistema de monitoramento autônomo e garantir que os dados sobre a qualidade do ar sejam acessíveis e confiáveis. E que todas as medidas de controle sejam adotadas pelas empresas poluidoras, punindo também os contumazes piromaniacos que ateam fogo no mato seco.

Afinal, ar limpo e despoluído não é apenas um direito. É uma questão de bem-estar, de saúde pública, de qualidade de vida e de respeito ao meio ambiente, às pessoas, aos animais, às plantas e a toda a biodiversidade que torna a Terra o único planeta ainda habitável.

Serviço

Confira a programação clicando aqui.

 

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