MPF pressiona por julgamento de ex-CEO da Vale em Brumadinho, enquanto Vietnã mira minério concentrado para siderurgia limpa
Foto: Marcelo Camargo/ Agência Brasil
Carlos Cruz
Enquanto não são boas as notícias para o ex-presidente da Vale Fábio Schvartsman, alvo de novo pedido do Ministério Público Federal (MPF) para ser julgado criminalmente na Comarca onde o crime aconteceu com o rompimento da barragem B1 da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, ocorrido em 25 de janeiro de 2019, para a mineradora as perspectivas internacionais são mais alvissareiras.
É que o Vietnã sinalizou interesse em expandir a importação de minério de ferro da Vale, com foco em produtos mais sustentáveis e eficientes para sua indústria siderúrgica.
Isso enquanto o MPF apresenta manifestação formal ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), buscando reverter decisão do Tribunal Regional Federal da 6ª Região (TRF-6), que trancou a ação penal contra Schvartsman via habeas corpus.
Na visão do procurador regional Pedro Barbosa Pereira Neto, excluir o ex-CEO do polo passivo da ação transmite uma mensagem de impunidade e frustra a legítima expectativa de responsabilização pelas 270 mortes causadas pela tragédia. O órgão defende que o caso deve seguir para a fase de pronúncia no Tribunal do Júri, conforme previsto no Código de Processo Penal.
O parecer aponta que a denúncia oferecida pelo MPF contém elementos suficientes para que o processo siga adiante, permitindo à Justiça avaliar em profundidade as condutas dos réus. “A exclusão de Schvartsman, principal dirigente da empresa à época, seria uma afronta ao princípio da igualdade de tratamento legal”, diz o documento.
Demanda vietnamita por pellet-feed pode favorecer Itabira

Enquanto isso, do outro lado do mundo, o primeiro-ministro do Vietnã, Pham Minh Chinh, apresentou à Vale uma proposta de cooperação para ampliar o fornecimento de minério de ferro – com preferência pelo pellet-feed, um tipo de concentrado com alto teor de ferro e baixa presença de contaminantes.
O produto é valorizado por siderúrgicas que operam com tecnologias menos poluentes, como os fornos elétricos a arco (EAF) e os sistemas de redução direta (DRI), que têm menor emissão de carbono em relação ao alto-forno convencional.
A escolha por pellet-feed reflete o desejo do Vietnã de modernizar sua matriz industrial e atender às exigências ambientais globais. O país asiático busca garantir insumos para sua crescente demanda por infraestrutura, ao mesmo tempo em que reduz impactos ambientais no processo de produção de aço.
Esse movimento foi impulsionado pela recente aproximação diplomática entre os dois países. Em julho, o presidente Lula se reuniu com o primeiro-ministro vietnamita, Pham Minh Chinh, e reafirmou o interesse do Brasil em negociar um acordo comercial mais amplo com o Vietnã.
Na ocasião, os líderes dos dois países destacaram o potencial de cooperação em áreas como mineração, biocombustíveis e meio ambiente, comprometendo-se a realizar missões empresariais para ampliar o comércio bilateral.
É o que já está acontecendo com essa articulação diplomática, que fortalece o posicionamento da Vale como fornecedora estratégica de minério concentrado de alta qualidade.
E que pode favorecer diretamente o Complexo Minerador de Itabira, que produz predominantemente pellet-feed, alinhado com os padrões exigidos por siderurgias que buscam rotas de produção mais limpas.
O mais antigo complexo minerador do país continua assim sendo estratégico na cadeia produtiva da Vale, abastecendo usinas de pelotização da própria mineradora que transformam o concentrado em pelotas, consideradas ideais para uso em siderurgias sustentáveis.
A infraestrutura consolidada e o histórico de fornecimento de finos de minério de alta qualidade colocam Itabira como possível grande fornecedor de parte dos 25 milhões de toneladas anuais de pellet-feed – e também sinter-feed, em menor volume – nessa nova fase de negócios da mineradora com o Vietnã.
Minério limpo é prioridade global e impulsiona tecnologia verde da Vale

Além do Vietnã, a demanda por pellet-feed vem crescendo de forma consistente entre grandes economias como China, Emirados Árabes Unidos, Japão e Alemanha, todos alinhados à transição energética e à busca urgente pela descarbonização industrial.
O tipo de minério concentrado produzido pela Vale se destaca por seu alto teor de ferro e baixa presença de impurezas, características que favorecem processos siderúrgicos mais eficientes e com menor emissão de gases poluentes.
Atenta a essa tendência, a Vale tem acelerado investimentos em soluções sustentáveis, como o briquete verde, um aglomerado de minério que também utiliza pellet-feed como base e pode reduzir em até 10% as emissões de CO₂ na fabricação de aço.
A meta é arrojada: atingir 100 milhões de toneladas por ano em pelotas e briquetes até 2030, ampliando a oferta de insumos para a siderurgia limpa e consolidando-se como líder na transformação da cadeia global do aço.
Esse movimento posiciona centros de produção como Itabira num papel estratégico, já que o município abriga um dos principais complexos da empresa voltados ao beneficiamento de pellet-feed, o maior em capacidade produtiva.
Mais do que uma oportunidade conjuntural, pode-se daí advir uma possível renovação econômica com ganhos estruturais, colocando Itabira na rota dos grandes projetos sustentáveis e da inovação em mineração.
Para o município, essa tendência representa uma chance real de redefinir o futuro local com mais responsabilidade econômica, social e ambiental, tanto por parte da Vale, e, claro também da Prefeitura.
Inclusive, sem descuidar da necessária e urgente diversificação da economia local, historicamente dependente da atividade mineradora.
Trata-se, portanto, de um momento que, se bem aproveitado, pode recuperar o tempo perdido e preparar o município para uma nova era, a quarta Itabira, como diria Drummond – menos extrativista e mais integrada à nova lógica produtiva global, pautada por uma economia limpa e sustentável. A conferir
Fontes consultadas: Ministério Público Federal, Notícias da Mineração do Brasil, Infomoney, Agência Brasil, Portal da Vale.









