Vale aposta em minério de ferro de menor teor para ampliar mercado e diversificar produtos

No destaque, o “chapéu chinês”, já detonado pela extração de minério de menor teor, nas Minas do Meio, em Itabira (MG)

Foto: Carlos Cruz

A Vale prepara para julho o lançamento de um novo minério de ferro com menor teor, buscando ampliar sua competitividade e atrair clientes, especialmente na Ásia. A estratégia visa diversificar a oferta da mineradora em um cenário de volatilidade no mercado global e pode ser fundamental para a continuidade das operações no complexo minerador de Itabira, berço da empresa no Brasil.

O anúncio foi feito por Daniel Stieler, presidente do Conselho de Administração da Vale, em entrevista ao Estado de S.Paulo. Sem revelar detalhes técnicos, Stieler destacou que a nova composição do minério pode abrir oportunidades comerciais e fortalecer a posição da empresa diante da demanda asiática.

Novos ciclos tecnológicos

Itabira, que já produziu minério de alta qualidade com hematita de teor superior a 60%, extraída do lendário Pico do Cauê, hoje apenas uma “fotografia na parede”, passou por diferentes ciclos tecnológicos ao longo das décadas.

No início dos anos 1970, inaugurou um novo ciclo tecnológico com as usinas Cauê e Conceição, com a concentração de itabiritos friáveis. Em meados da década passada, inaugurou o terceiro ciclo tecnológico com a moagem e concentração de itabiritos duros, produzindo pellet-feed, um produto de alta demanda no mercado mundial.

Agora, com o futuro ciclo com a produção de minérios de menor teor, a Vale busca ampliar mercados para a matéria-prima extraída no Quadrilátero Ferrífero, sobretudo em Itabira, à medida que as reservas de alto teor se exaurem nessas minas mineiras.

Além disso, a iniciativa pode viabilizar um novo ciclo tecnológico sustentável, permitindo o reaproveitamento de rejeitos de minério de ferro e contribuindo para a eliminação de barragens.

Desafios jurídicos e disputas

Itabira abriga algumas das maiores estruturas de contenção de rejeitos do mundo, com mais de 500 milhões de toneladas armazenadas, parte delas com teor de ferro significativo. O reaproveitamento desses materiais pode representar uma alternativa viável para prolongar a vida útil das operações na região e reduzir impactos ambientais.

Entretanto, a exploração desses rejeitos enfrenta um imbróglio jurídico envolvendo empresas que adquiriram direitos de pesquisa em barragens da Vale. Um dos casos mais emblemáticos é o da Itabiriçu Nacional, que obteve alvará de pesquisa mineral em áreas que incluem parte das pilhas de estéril e rejeitos contidos na barragem Itabiruçu.

A disputa se intensificou após resoluções da Agência Nacional de Mineração (ANM), que redefiniram a propriedade dos rejeitos minerários e passaram a considerá-los como parte da lavra pertencente ao concessionário original.

A Itabiriçu Nacional contesta essa interpretação, enquanto a Vale busca impedir judicialmente, até aqui com sucesso, que terceiros realizem prospecções geológicas em suas barragens, alegando questões de segurança e direito sobre as reservas antropogênicas.

Por sua vez, a Itabiriçu argumenta que a resolução da ANM não retroage ao ponto de invalidar o alvará de pesquisa que ainda detém, o que estaria amparado na Constituição Federal.

Espera-se que com a introdução do minério de menor teor, a Vale busque não apenas atender às exigências do mercado, mas também consolidar um modelo de mineração mais sustentável e adaptado às novas demandas globais.

No entanto, a resolução dessas disputas jurídicas será essencial para definir o futuro da exploração dos rejeitos e a viabilidade de novos ciclos tecnológicos na região, sobretudo em Itabira, que tem data provável de exaustão em 2041.

No entanto, esse  horizonte que está sempre mudando, foi mantido no último relatório Form-20, divulgado no dia 29 de março – e que pode ser acessado aqui: https://viladeutopia.com.br/wp-content/uploads/2025/04/Form-20-F-2024.pdf.

 

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