Paisagismo brasileiro e biodiversidade: o impacto das espécies exóticas e a urgência do uso de plantas nativas

No destaque, jardim florido e diversificado da professora Maria Alice de Oliveira Lage, em Itabira, MG: exemplo a ser seguido na cidade

Foto: Carlos Cruz

O paisagismo pode e deve ser um aliado na conservação ambiental, resgatando a identidade ecológica do Brasil

Por Gustavo Granjeiro*

EcoDebate – O Brasil abriga uma das maiores biodiversidades do mundo, com biomas ricos como Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica. No entanto, o paisagismo urbano tem privilegiado espécies exóticas, muitas vezes sem considerar seus impactos ambientais.

A introdução indiscriminada dessas plantas pode comprometer ecossistemas inteiros, uma vez que algumas se tornam invasoras, competindo com a flora nativa e afetando polinizadores e dispersores de sementes. Essa substituição compromete a biodiversidade e reduz serviços ecossistêmicos essenciais, como a regulação do clima e do ciclo da água.

Diante da crise climática, o paisagismo sustentável surge como uma estratégia fundamental para mitigar seus efeitos.

A incorporação de espécies nativas contribui para reduzir ilhas de calor, melhorar a qualidade do ar, regular a infiltração da água no solo e aumentar a resiliência urbana a eventos climáticos extremos, como enchentes e secas.

Além disso, essas plantas demandam menos irrigação e produtos químicos, tornando a manutenção mais eficiente e sustentável.

Apesar de sua importância, a flora nativa ainda é pouco valorizada

Grande parte da população desconhece as espécies locais e está mais familiarizada com plantas estrangeiras, amplamente difundidas no paisagismo convencional.

Para reverter esse cenário, é essencial investir em educação ambiental e incentivar políticas públicas que promovam a produção e comercialização sustentável de espécies nativas.

A criação de viveiros certificados e o fomento a projetos inovadores, como florestas urbanas e jardins de chuva, podem transformar as cidades em espaços mais biodiversos e equilibrados.

Integrar a biodiversidade ao planejamento urbano não é apenas uma questão estética, mas um compromisso com a sustentabilidade e a qualidade de vida.

O paisagismo pode e deve ser um aliado na conservação ambiental, resgatando a identidade ecológica do Brasil e garantindo cidades mais verdes, resilientes e preparadas para os desafios climáticos do futuro.

floresta de bolso de pinheiros

Floresta de Bolso de Pinheiros, um exemplo de restauração ecológica em São Paulo. Criado por Ricardo Cardim e parceiros, o projeto transformou um terreno árido em uma área verde biodiversa, destacando o potencial das espécies nativas da Mata Atlântica no paisagismo urbano. Foto: Cardim Paisagismo.

jardim de sequeiro da universidade de Brasília

Jardim de Sequeiro da Universidade de Brasília (UnB), idealizado pelo professor Júlio Pastore. O projeto utiliza plantas nativas do Cerrado, adaptadas ao clima seco, para criar paisagens sustentáveis e de baixo custo. Um modelo de paisagismo experimental que alia beleza, funcionalidade e conservação da biodiversidade. Foto: Julio Pastore/FAV UnB.

*Gustavo Granjeiro, biólogo, mestre em Ciências Ambientais e doutor em Ecologia. Pesquisador no laboratório de Neurociência Cognitiva e Comportamental do Instituto D’Or de Pesquisa e Educação

Leia também aqui: Por uma Itabira com mais jardins floridos e bosques com árvores nativas por toda cidade

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