“Itabira precisa acelerar a diversificação econômica antes que o minério acabe: podemos ser um caso de sucesso ou de fracasso”, disse Marco Antônio Lage

Em seu discurso de posse, Marco Antônio Lage cobrou mais empenho da mineradora Vale nas ações e obras do programa Itabira Sustentável

Fotos: Ascom/PMI

Carlos Cruz

Após a posse dos 17 vereadores eleitos para o próximo quadriênio, o prefeito reeleito Marco Antônio Lage (PSB) e o vice Marco Antônio Gomes (Progressistas) foram também empossados para um segundo mandato, depois de vitoriosos nas urnas em 6 de outubro por uma coligação de centro-esquerda, obtendo 52.085 votos (76,13%), um marco histórico.

A posse ocorreu nessa quarta-feira (1), no teatro da Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade. Em seu discurso de posse, Lage destacou a importância de construir novas bases econômicas para Itabira, processo esse que se arrasta, sem resultados, desde pelo menos o início dos anos 80, quando foi lançado pela Associação Comercial de Itabira (Acita) o programa Itabira 2025, quando se previu para este ano a exaustão mineral.

Esse horizonte agora foi estendido para 2041, conforme relatório Form-20, de 2023, arquivado junto à Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos em 18 de abril do ano passado. Esse indicador leva em conta as reservas já conhecidas, com plano de lavra e concessões para a sua exploração, sem considerar ainda os recursos adicionais existentes.

Daí que esse horizonte tem sido alterado desde que a empresa deu início às vendas de suas ações na Bolsa de Valores de Nova Iorque, nos Estados Unidos, com as obrigatórias apresentações dos relatórios Form-20. E mantém o município em suspense, sem saber quando o último trem carregado de minério partirá rumo ao porto de Tubarão para abastecer as siderúrgicas do outro lado do mundo.

Além do fantasma da exaustão mineral, Marco Antônio ressaltou os desafios enfrentados durante seu primeiro mandato, incluindo a pandemia e o medo do rompimento de barragens. “Foram tempos difíceis: o mundo lutava contra a pandemia e nossas famílias viviam entre o medo e a dor”, disse ele.

Além disso, lembrou que os itabiranos enfrentaram também o receio de rompimento de barragens, potencializado pelos desastres-crimes de Mariana e Brumadinho. “Hoje Itabira não tem mais tanto medo como antes. A Covid foi superada, as barragens estão controladas e fiscalizadas e nosso plano para a diversificação econômica é uma realidade”, afirmou Lage, mesmo não saindo ainda do papel.

Desenvolvimento econômico e social

O prefeito enfatizou em seu discurso que não existe crescimento econômico sem desenvolvimento social. “O primeiro mandato priorizou o cuidado com nossa gente, seja do núcleo urbano quanto da nossa extensa zona rural. Os bairros e a roça viraram prioridades no nosso governo”, salientou.

Segundo ele, o itabirano de baixa renda vive hoje melhor com os programas sociais e de erradicação da fome no município, ressaltando que qualquer proposta de alternativas econômicas tem que passar pelo social. “Eu fico com a pureza da resposta das crianças”, poetizou, citando versos da canção de Gonzaguinha.

“Trabalhamos muito, com dedicação, planejamento, técnica e ética. O resultado está nas ruas, nas casas, na vida das famílias e eu confirmo tudo isso em cada olhar e sorriso que encontro na população.”

Assumindo o segundo mandato, Lage reafirmou seu compromisso de trabalhar com dedicação e inteligência para garantir a sustentabilidade de Itabira após o fim da mineração. “Assumo por mais quatro anos com o mesmo foco de trazer sustentabilidade para nossa Itabira”, declarou.

Programa Itabira Sustentável

Para isso, a aposta de Marco Antônio Lage está no programa Itabira Sustentável, um acordo de colaboração firmado entre a Prefeitura de Itabira e a Vale, lançado em 30 de novembro de 2023, com todas as pompas e contingências, mas que ainda muito pouco saiu das cartas de intenções, com exceção do curso de Medicina do UNIFuncesi, cujo apoio da mineradora já estava mais ou menos acertado anteriormente.

Ainda não saiu do papel mesmo tendo a preparação e discussão sobre esse plano ter iniciado no começo de seu primeiro mandato, com o “auxílio luxuoso” de uma consultoria internacional, a Arcadis, paga pela Vale. O plano reúne projetos de curto, médio e longo prazo. O curto prazo já passou, o médio já está sendo atravessado e o longo prazo ainda não se sabe o que será.

“Podemos ter um ‘case” de sucesso ou de derrota em Itabira”, disse o prefeito que torce e trabalha para que o município se transforme em um “case” de sucesso, como ele gosta de dizer, superando o medo de virar cidade fantasma como tantas outras em Minas Gerais, caso não ocorra a diversificação da economia local em bases sólidas e duradouras.

Para isso, ele promete dar mais ênfase às cobranças sobre a mineradora, que tem até aqui se negado, peremptoriamente, a divulgar e debater com Itabira, para execução das ações imediatas, antes que o fim aconteça, o que está no Plano Regional de Fechamento Integrado das Minas de Itabira. Esse plano, por lei, deve ser atualizado a cada cinco anos e encaminhado à agência reguladora da mineração, mas isso tem ocorrido que se dê ciência a Itabira, a principal interessada.

“Nosso território merece respeito e vamos exigir que Itabira receba a compensação por tudo que deu à Vale e ao Brasil”, disse o prefeito, que insiste na colaboração da Vale para que sejam efetivadas as propostas contidas no programa Itabira Sustentável.

O programa inclui mais de 60 projetos estruturantes, distribuídos em 15 eixos estratégicos, como a diversificação econômica, a criação de um novo condomínio industrial, inclusão produtiva, apoio à agropecuária sustentável, modernização da legislação urbana, turismo, e a reestruturação do transporte público coletivo.

Obras estruturantes

Entre as obras estruturantes, o prefeito cobra a participação da mineradora na reforma e duplicação da rodovia MG-129/434, que liga a cidade à BR-381/262, via de ligação da capital mineira com parte importante do Nordeste Mineiro, conforme dizia, acertadamente, o farmacêutico Trajano Procópio, que presidiu a Câmara Municipal de Itabira, tendo realizado em 23 de setembro de 1927, o Primeiro Congresso das Municipalidades do Nordeste de Minas.

Nesse congresso, que teve cobertura do jovem repórter Carlos Drummond de Andrade, as autoridades pretendiam organizar a região e buscar mudanças econômicas e sociais.

E reivindicavam, desde então, a melhoria dos meios de transporte, “rodoviário e de ferro” como sendo essenciais para o desenvolvimento econômico da região, assim como a implantação de indústrias para geração de empregos.

São essas mesmas melhorias estruturantes que permanecem e são reivindicadas no programa Itabira Sustentável, que se implantado, elevará o patamar de desenvolvimento do município até então inalcançável.

Mas o prefeito, crédulo que é, ainda nutre grandes esperanças com a parceria com a mineradora Vale. “Estamos optando pela esperança no lugar do medo, a unidade de propósito em vez do conflito e da discórdia”, afirmou Lage.

Para o desenvolvimento de Itabira e para o bem-estar dos itabiranos, o prefeito conta também com a transposição de água do rio Tanque para resolver em definitivo o problema da escassez e da má qualidade desse insumo essencial à vida e para atrair novas indústrias, que é para debelar de vez o fantasma da exaustão mineral, que é inexorável. A expectativa é de que seja concluída até meados do seu novo mandato que ora se inicia.

Sem a diversificação econômica, com a criação de novas bases produtivas no município, Itabira viverá a derradeira derrota incomparável, o que para a Vale será uma mancha irreparável em sua história, depois de ter enviado a riqueza incrustada em seu subsolo para a Europa, pro Japão e agora para a China, fomentando a revolução industrial, o desenvolvimento do Brasil e desses países, menos de Itabira.

Homenagem a dona Tita e respeito à diversidade
Dona Tita, matriarca do quilombo Morro de Santo Antônio, é homenageada no Ano do seu Centenário (Foto: Ascom/PMI)

Marco Antonio Lage salientou também em seu discurso de posse a importância da diversidade, além de homenagear a matriarca do quilombo Morro de Santo Antônio, Maria Gregório Ventura, a dona Tita, presente na solenidade de posse dos vereadores, prefeito e vice-prefeito.

Por meio da lei municipal 5.471, foi instituído o Ano Municipal do Centenário da Matriarca Quilombola Dona Tita, uma justa homenagem e reconhecimento também da importância desse povoado preto que muito contribui para a história de Itabira, preservando as suas tradições como valores históricos inalienáveis.

“Com 73% de população negra em Itabira, é urgente que políticas públicas eficientes contribuam para evolução de uma cidade antirracista”, disse o prefeito, que reafirmou o seu compromisso com a defesa da diversidade e a luta por uma Itabira de todos, sem discriminações e preconceitos de quaisquer naturezas.

Magui, funcionária mais antiga da assessoria de comunicação da Prefeitura, recebe vaso com dracena de Raquell Guimarães, a primeira-dama que não quer ser peça figurativa: “minha vida é feita de coragem, determinação e amor.” (Foto: Ascom/PMI)

“Quero ser cada vez mais o prefeito da gente, que respeita as pessoas, que enxerga as pessoas, que atende as pessoas, independentemente da cor, classe social ou gênero”, reafirmou Marco Antônio Lage, que precisa também fazer gestão para que a Câmara Municipal, enfim coloque em pauta o projeto que ele enviou em 18 de fevereiro de 2022, que instituiria o Conselho Municipal de Promoção da Diversidade (COMLBTQIA+).

A finalidade desse conselho é discutir e propor ações governamentais “que visem o acolhimento, a proteção, a saúde, o trabalho e a participação da sociedade civil na definição da política municipal de promoção da cidadania e da diversidade LGBTQIA+ no município de Itabira”.

O projeto desde então ficou esquecido nos escaninhos da Câmara sob a presidência do conservador vereador Heraldo Noronha, que cedeu às pressões do Conselho de Pastores de Itabira (Compai), e também do vice-prefeito, que é pastor evangélico, formando um lobby político poderoso que não foi, entretanto, capaz de impedir a acachapante reeleição de Marco Antônio Lage no pleito municipal do ano passado.

O desarquivamento desse projeto de lei será importante pelos seus resultados práticos, mas também para medir o compromisso da atual legislatura com os direitos de última geração, ou se prefere manter-se no conservadorismo de uma sociedade retrógrada, preconceituosa e discriminatória, que não reconhece direitos dessas minorias.

Que prevaleça em Itabira a igualdade racial e de gênero, conforme consta, inclusive, do programa Itabira Sustentável.

 

 

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