Morador do centro de Itabira relata incômodo com sinal sonoro estridente da EEMZA e propõe substituir por músicas clássicas

Foto: Carlos Cruz

O professor aposentado Francisco Andrade, conhecido como Chico “Karatê”, morador do Centro Histórico, tem se sentido incomodado diariamente com o estridente sinal sonoro emitido pela Escola Estadual Mestre Zeca Amâncio (EEMZA) no início, intervalos e final das aulas de cada turno. “É um som que incomoda, assusta mesmo quem já convive com isso há décadas”, relata.

Chico destaca que esse sinal estridente é o mesmo instalado desde a inauguração do prédio da escola, em 1968, durante a ditadura militar. Ele considera que esse resquício do regime ditatorial precisa ser abandonado para o bem da vizinhança e dos próprios estudantes, professores e servidores da escola.

“É ainda mais assustador quando vivemos em uma cidade cercada por barragens de rejeitos de minério. Recentemente, uma visita em minha casa se assustou com a sirene, pensando que fosse um problema com as barragens”, conta. “Ela só se tranquilizou quando contei que era o sinal de intervalos das aulas em escola vizinha”, conta.

Impacto na saúde

O morador avalia que o efeito em estudantes é notavelmente sentido no sistema nervoso, interferindo na atenção, que é o primeiro pilar da cognição. “Sirenes diárias estridentes são uma forma barulhenta de criar psicopatologias”, alerta Chico “Karatê”.

A sugestão é substituir o estridente sinal da EEMZA, o mesmo do tempo do professor Oswaldo, que enfileirava os estudantes para seguirem marchando do pátio para as salas de aula como se fossem milicos, por músicas, de preferência clássicas.

Segundo ele, é uma forma de promover a educação musical entre os estudantes e melhorar a qualidade das músicas que ouvem. “Educa os ouvidos para que se tornem mais sensíveis”, argumenta.

Apoio da nova diretora da EEMZA

A professora Jaqueline Camilo, recentemente eleita diretora da EEMZA, também se diz incomodada com o som estridente.

“Eu mesma às vezes me assusto, mesmo estando acostumada. Assim que assumir a direção, vamos tratar dessa mudança, de acordo com a viabilidade técnica. Acho a proposta de substituir a sirene por música uma excelente ideia”, afirma.

Tendência em outras cidades, mudança pode ocorrer em todo estado de Minas Gerais

Se assim fizer, a direção da EEMZA estará antecipando uma tendência em várias cidades brasileiras, onde a substituição de sirenes estridentes por meios mais suaves consta de projetos de lei para se tornar obrigatória. As escolas da Fundação Itabirana de Ensino (FIDE), também no centro da cidade, devem seguir o exemplo, embora nesses casos as sirenes sejam menos estridentes.

Na Câmara Municipal de Belo Horizonte, por exemplo, tramita o Projeto de Lei 720/2023, que prevê a substituição de sinais sonoros por musicas, sem gerar incômodo sensorial ou risco de pânico em pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). O PL, de autoria do vereador Bruno Miranda (PDT), propõe a substituição gradativa dos sinais sonoros nas redes pública e privada por sinais musicais adequados.

Segundo a relatora do projeto, Professora Marli (PP), a medida é sensível e inclusiva, preocupando-se com a inclusão e o bem-estar das pessoas com TEA no ambiente escolar. “A introdução de sinais musicais que não causem desconforto exacerbado é uma estratégia que pode criar um ambiente mais acolhedor e acessível para esses alunos”, ela defende.

Por essa tendência, a proibição de sinais sonoros estridentes em escolas públicas e privadas pode se tornar realidade em todo o estado de Minas Gerais, caso seja aprovado o Projeto de Lei (PL) 3.643/22, do deputado Ulysses Gomes (PT). O projeto também determina a substituição de sirenes e alarmes sonoros nas escolas por sinais musicais adequados aos alunos com TEA.

De acordo com o autor do projeto, para as pessoas com TEA, que têm hipersensibilidade auditiva, sons com pressão sonora podem provocar desconforto e dor, desencadeando alterações comportamentais. “Nestes casos, a manutenção de uma pessoa em locais expostos a ruídos pode ser sinônimo de tortura para quem tem hipersensibilidade”, salienta.

Posts Similares

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *