Pureza secou e abastecimento em Itabira só não entra em colapso total com os reforços das outorgas da Vale e do rio Tanque

Bairros abastecidos pela ETA Pureza, assim como também os que recebem água da ETA Gatos, estão sendo severamente afetados pela escassez hídrica neste ano

Foto: Carlos Cruz

Há mais de duas décadas, pelo menos desde quando foi aprovada a Licença de Operação Corretiva (LOC), em 2000, com as condicionantes para a mineradora Vale continuar extraindo e beneficiando minério de ferro no Complexo de Itabira, que se sabe que a alternativa para solucionar o crônico e histórico problemão, que é o abastecimento de água na cidade de Itabira, está na transposição de água do rio Tanque.

No entanto, por conivência e complacência das administrações passadas, que consideraram equivocadamente, como fez também irresponsávelmente o órgão ambiental estadual, que as condicionantes da água estavam cumpridas pela Vale com os “puxadinhos” que realizou nos sistemas de abastecimento na cidade, essa solução “definitiva” foi empurrada indefinidamente pela Vale.

Para esse jogo de empurra, os argumentos da mineradora foram vários, entre eles o de que sobraria água do aquífero Cauê para abastecer a cidade com sobras até para atrair novas indústrias, com a exaustão progressiva das Minas do Meio, a começar por Chacrinha, já exaurida. Só que agora a cava exaurida recebe rejeitos de minério e material estéril de outras minas.

Essa obrigação da Vale se deve ao fato de a mineração ter acabado om as Fontes do Pará, Borrachudo, Camarinha, além de secar outras fontes superficiais que existiam nas encostas da serra do Esmeril.

E, também, por deter as principais outorgas, inclusive dos aquíferos dos quais capta 1,1 mil litros por segundo (l/s), quase três vezes o consumo urbano em Itabira, deixando para a cidade as sobras de minguados cursos d´água, onde os recursos estão cada vez mais escassos.

Desabastecimento

Manancial da Pureza está praticamente seco com a estiagem prolongada. Saae faz manobras também na ETA Gatos para minimizar o desabastecimento na cidade (Foto: Thamires Lopes/Ascom/Saae)

Portanto, deve ser creditada na conta de toda essa omissão histórica que beira à prevaricação, da Vale e das autoridades municipais, esse sofrimento que a população de Itabira atualmente enfrenta mais que muitas outras cidades mineiras com a seca severa e prolongada que assola o estado de Minas Gerais e outros estados brasileiros.

Nesta segunda-feira (23), o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) de Itabira, mais uma vez emite comunicado à população informando que o abastecimento pela Estação de Tratamento de Água (ETA) Pureza está comprometido.

Com isso, pode faltar água em muitas residências, principalmente naquelas que não dispõem de reservatórios suficientes para suprir as necessidades básicas dos moradores por pelo menos dois dias sem que água nova entre nas caixas d’água.

Com o iminente colapso do manancial da Pureza, e mesmo com o reforço de 160 l/s que a Vale tem obrigação de fornecer ao Saae, por força do TAC ministerial, lançado na alça hidráulica que reforça o sistema, e mais 30 l/s emergencial acordado pela mineradora com a autarquia municipal, cerca de 40% da população de Itabira pode ficar sem água nos próximos dias.

Daí que é preciso fazer uso racional, sem desperdício de água, para que não seja agravada essa situação de desabastecimento.

Segundo o Saae, podem ter o abastecimento impactado os moradores dos bairros Água Fresca, Amazonas, Areão, Bethânia, Clóvis Alvim I, Clóvis Alvim II, Cônego Guilhermino, Esplanada da Estação, Gabiroba, Hamilton I e II, Jardim das Oliveiras.

E mais ainda os que residem nos bairros João XXII, Juca Batista, Juca Rosa, Machado, Madre Maria de Jesus, Novo Amazonas, Panorama, Praia, Colina da Praia, Colina da Praia III, Santa Inês, São Bento, Valença, Vila Nossa Senhora do Carmo, Vila Piedade, Vila Prudêncio, Vila Salica, Vila Santa Izabel, Vila Santa Rosa, Vila São Geraldo, Centro.

Outros bairros que devem ser afetados são Major Lage de Baixo, Panorama, São Cristóvão, São Marcos, Barreiro, Distrito Industrial I e II, Posto Agropecuário, Ribeira de Baixo, Ribeira de Cima, Vista Alegre, Fazenda do Lago, Vale Verde, Jardim dos Ipês, Jardim Universitário, Jardim Flamboyant, Jardim Buritis, Jardim Belo Monte, condomínio Belleville, condomínio Morada da Brisa, Cohapi, Vale do Sol.

Situação semelhante ocorre também com os bairros abastecidos pela ETA dos Gatos (Campestre, Bela Vista, Nova Vista, Jardim das Oliveiras, São Pedro, Santo Antônio, entre outros). O abastecimento por essa ETA também só não entrou em colapso total devido às manobras que o Saae tem feito e com a captação emergencial de água do rio Tanque por meio de caminhões-tanque.

Portanto, o mesmo apelo de racionalização para o consumo consciente é válido também para esses moradores. Nada de ficar lavando carros com a escassa água distribuída pelo Saae, sendo necessário também reduzir o consumo para o uso doméstico e higiene pessoal.

Captação de água do rio Tanque é outra dívida histórica da Vale

Condicionante ambiental da transposição de água do rio Tanque deve incluir a restauração de sua mata ciliar (Foto: Reprodução/Aecom Engenharia)

Essa situação, infelizmente deve ocorrer nos próximos anos, uma vez que a crise climática tende agravar e com ela a escassez hídirca. Isso pelo menos até que se faça a transposição de água do rio Tanque, solução que deveria ocorrer desde o ano 2000, o que evitaria esse quase colapso no abastecimento que a cidade vive atualmente, com a seca prolongada e severa que atinge várias cidades brasileiras, como nunca antes visto no país.

A administração municipal anterior, por considerar equivocamente que as condicionantes da água estavam cumpridas pela Vale, havia proposto, aprovado e sancionado projeto de lei de parceria público-privada para fazer essa transposição.

Com a PPP, a população itabirana pagaria o investimento, com o aumento entre 25% e 30% na tarifa de água. Graças à ação da promotora Giuliana Talamoni, essa conta não recairá mais sobre a população, ficando por conta de quem monopolizou as principais outorgas de água na cidade, a mineradora Vale

Mas somente em 2026 – e olhe lá se será fato e não outra ficção – que a transposição deve ser concluída, segundo informa a promotora Giuliana Talamoni, em entrevista a este site. Essa transposição será integralmente bancada pela Vale, como obrigação de fazer, pelos motivos já expostos e conhecidos.

Serviço

Atendimento

O Serviço de Atendimento ao Cliente do Saae é feito pelo telefone 115, que funciona 24 horas e a ligação é gratuita.

Outra opção é entrar em contato pelo WhatsApp do Saae: (31) 3839-1330. Ao entrar em contato, tenha em mãos a conta de água ou o número de sua matrícula.

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4 Comentários

  1. A crise climática mundial chegou à Itabira com força total. O articulista descreveu com lucidez o problema e agora não adianta chorar sobre o leite derramado. Toda a sociedade itabirana tem que colaborar para resolver o problema
    Fui vereador em Itabira anos 60/70.
    Falta de água já era preocupação.

  2. O problema é que a mineradora Vale enriqueceu a custa do sub-solo Itabirano, extraiu o minério, rebaixou a lençol freático, comprometeu com com os órgãos responsáveis e autoridades em conjunto com o poder público resolver o problema do abastecimento de água potável para a população Itabirana. Principalmente através da LOC – Licença de Operação Corretiva Vale em 2000. Acontece que até hoje por omissão, interesses obscuros todos prefeitos que vieram depois de 2000, não fizeram o seu dever de casa, incluído o prefeito atual.

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