O mundo vasto mundo de CDA – XV

Pequisa e acervo:
Cristina Silveira

Imagens Eleitorais. O Príncipe

 C.D.A.

Movimenta-se a república das letras para manter democraticamente, pelo voto, uma abstração monárquica: O Príncipe da Poesia.

Se a vida é um tecido dialético de contradições, não há mal em que também nesta área limitada elas se manifestem e conduzam à síntese. Vimos há pouco a tentativa de introduzir conselheiros imperiais, intocáveis e vitalícios, no Senado republicano, constituído de homens transitórios, eleitos pelo princípio majoritário.

A integração do Príncipe na democracia literária se faz com maior suavidade. Aliás, os Príncipes se deixam facilmente assimilar, como o demonstram D. Pedro e D. João, titulares tão incorporados à nossa vidinha republicana que até parecem eleitores do PSD (D. Pedro Henrique, do Paraná, esse é UDN).

Mas se vamos aprofundar as coisas, veremos que nem mesmo a noção de príncipe é privativa da realeza ou nasceu com ela. Em Roma, significava apenas o primeiro dos senadores, o princeps senatus, com direito a votar em primeiro lugar. O imperador Augusto é que transformou essa honraria de regimento em título imperial. Isso talvez diminua o encanto da láurea, afinal, tudo é república.

Por uma coincidência feliz, quem levou pelo Brasil afora, em espetacular raide aéreo, as bases da eleição do futuro príncipe dos poetas foi José Condé, cujo sobrenome lembra necessariamente Monsieur Le Prince, ou seja, o primeiro Condé, único na corte a ser chamado só por este título, sem mais nada.

Vejo, pelas primeiras apurações conhecidas, que os votos se dirigem em maior número a Guilherme de Almeida e Manuel Bandeira, e é de palpitar que entre esses esteja pintando o vencedor. O principado se enobrecerá, conferido a qualquer dos dois, se príncipe significa “o primeiro em merecimento e graduação”, como tive o cuidado de verificar no Dicionário de Morais. Resta a dificuldade de desempatar entre os dois primeiros, e este eleitor, na medida de seu voto, se declara por Guilherme de Almeida.

Consagro a Manuel Bandeira mais do que admiração: descoberta da juventude, seu nome está ligado para mim à própria ideia de poesia, que em grande parte desvendei através de seus versos. Guilherme de Almeida sempre foi a meus olhos um artista perfeito, capaz de elevar a poesia ao último requinte de expressão; não influiu em minha formação literária, e por isso mesmo posso julgá-lo mais livremente. Dos dois, ele é quem a meu ver, melhor encarna a figura do Príncipe.

Manuel Bandeira, CDA, Cecília Meireles, Vinícius de Moraes.

Não imagino Manuel príncipe, embora o visualize exercendo altos poderes no reino de Pasárgada, onde é mais do que amigo do rei, é dono das almas e das coisas. Não imagino príncipes Cassiano, Vinícius, Ribeiro Couto, Milano, Henriqueta, João Cabral meus “fratelli” Aníbal Moura e Abgar, Quintana, Murilo, Cardoso, Tasso, Menotti, Meyer, Schmidt, Bopp, e Deus sabe como a poesia de cada um desses grandes, mais ou menos divulgados, ressoa no leitor. Cecília Meireles, sim veria nela a principalidade nata – uma estrela.  [Beltejosa] ou Aldebarã, tanto mais distante quanto mais luminosa.

Mas vejo facilmente Guilherme príncipe, pela feição aristocrática de seu espirito e de sua poesia, a culminar no primoroso “Pequeno Romanceiro“ em que partindo de fontes populares medievais, e usando formas arcaicas e simples, converte os poemas em joias de coroa real.

Bem, e não é que alguns eleitores se lembraram do meu homônimo C.D.A., concedendo-lhe alguns votos. O sufragado, reconhecido mas peremptório, encarrega-me de dizer que agradece a lembrança generosa, porém não se considera nem sequer “Prince adequa taime a la tour abeche”, tem que ser preciso apelar para a modéstia e por temperamento e antiprincipe. E seu voto nele é voto perdido. C.D.A. Correio da Manhã (RJ), 11/8/1959.

  Menotti Del Picchia, Monteiro Lobato e Cassiano Ricardo

1959 – Príncipe dos Poetas Brasileiros. Poetas de Hoje. Além de Cassiano Ricardo, foram também votados em 1937 alguns poetas que continuam hoje em plena atividade. Entre os que votaram em Olegário Mariano estava o nosso CDA. Coluna Escritores e Livros, José Condé. Correio da Manhã (RJ), 27/5/1959.

1959 – Príncipe dos Poetas Brasileiros. Em certa ocasião, a revista Fon-Fon abriu um concurso para eleger o príncipe dos poetas brasileiros. Os eleitores credenciados eram só intelectuais. E Alberto de Oliveira obteve o maior número de sufrágios.

Mas os organizadores do concurso viram que o público não ratificaria a escolha. Olavo Bilac contava com um círculo de leitores e admiradores muito maior do que Alberto de Oliveira. Assim não hesitaram em fazer uma fraude e proclamar o poeta de Via Láctea, o vencedor. Correio da Manhã (RJ), 1/5/59.

Olegário Mariano (1889-1958)

1959 – Príncipe dos Poetas Brasileiros. Pela 3ª vez Fon-Fon realiza a eleição dum príncipe da poesia brasileira o que já tornou uma verdadeira tradição de nossa vida literária. Agora caberá ao Correio da Manhã, através dessa coluna, a eleição do sucessor de Olegário Mariano, eleito em 1937, inclusive com o voto de CDA. Coluna Escritores e Livros, José Condé. Correio da Manhã (RJ), 28/5/59.

1959 – Príncipe dos Poetas Brasileiros. Em 1937: Olegário Mariano ganhou de ponta a ponta. A ideia de eleger o Príncipe dos Poetas Brasileiros foi lançada no dia 1 de março de 1913 pela revista Fon-Fon. Olavo Bilac ganhou apertado de Alberto de Oliveira, o escore foi de 39 a 34.

Em 1924, Fon-Fon organizou nova eleição, dessa vez Alberto de Oliveira venceu por maioria absoluta com 154 votos, dos 300 eleitores. Morto Alberto de Oliveira, em 1937 abriu-se novamente a vaga de Príncipe dos Poetas. Olegário Mariano logo na primeira apuração tomou a liderança.

Na segunda contagem, já tinha mais do dobro dos votos. O poeta das Cigarras recebeu votos de gregos e troianos, CDA, Gustavo Barroso, Costa Rego, Edmundo Bittencourt, Augusto de Lima e Viriato Correa. Correio da Manhã (RJ), 14/6/59.

Guilherme de Almeida (1890-1969) e Vinicius de Moraes (1913-1980), em 1932, IMS

1959 – Príncipe dos Poetas Brasileiros. Com relação ao Príncipe dos Poetas: segundo telegrama de Fortaleza os escritores cearenses, reunidos no auditório da Universidade do Ceará, elegeram Guilherme de Almeida candidato daquele Estado à sucessão de Olegário Mariano.

Os intelectuais rio-grandenses do norte e alagoanos fizeram o mesmo, embora escolhendo candidatos diferentes: em Natal, venceu Vinícius de Moraes (80% da votação), em Maceió, Mauro Mota (90% dos votos). Correio da Manhã (RJ), 5/8/59.

Maria Eugênia Celso (1886-1963), feminista nascida em S. João Del Rey

1959 – Príncipe dos Poetas Brasileiros. Em crônica publicada, ontem, no Jornal do Brasil, a escritora Maria Eugênia Celso: O Correio convocou os vates da terra a escolherem o seu novo representante máximo e publicou uma lista numerosa de convidados à eleição. Uma verdadeira avalanche de poetas de poetas, para mim em grande parte desconhecidos.

Não pude, entretanto, deixar de estranhar que se achassem ausentes da lista os nomes consagradíssimos de Gilka Machado, Ana-Amélia, Rosalina Coelho Lisboa, Maria Sabina, Margarida Lopes de Almeida. Quer-me parecer, no entanto, que qualquer das seis tem competência e autoridade suficiente comprovada para opinar a respeito de poesia. Correio da Manhã (RJ), 6/8/59 Condé

1959 – Príncipe dos Poetas Brasileiros. CDA é um dos poetas até agora mais votado no Maranhão. Coluna Escritores e Livros, José Condé. Correio da Manhã (RJ), 6/8/59.

1959 – Príncipe dos Poetas Brasileiros. Resultado da primeira apuração do concurso: Guilherme de Almeida, 35; Manuel Bandeira, 33; CDA, 20; Vinícius de Moraes, 20; Mauro Mota, 20 votos. Correio da Manhã (RJ), 8/8/59.

Guilherme de Almeida (1890-1969), acervo Casa da Colina

1959 – Príncipe dos Poetas Brasileiros. A partir de terça-feira serão divulgados resultados diários. Guilherme de Almeida, 35 votos; CDA, 20 votos; Vinícius de Moraes, 20 votos; Mauro Mota, 11 votos. Correio da Manhã (RJ), 9/8/59.

1959 – Príncipe dos Poetas Brasileiros. Vinícius de Moraes apenas 2 votos de diferença de Guilherme de Almeida que conserva a primeira colocação, seguido de perto por Manuel Bandeira. Enquanto isso, Vinícius de Moraes – que estava empatado com CDA na terceira colocação – obteve 14 votos, portanto a 2 votos de Guilherme.

Veja o placar: Guilherme de Almeida, 36 votos; Manuel Bandeira, 35; Vinícius de Moraes, 34; CDA, 23; Mauro Mota, 14. Correio da Manhã (RJ), 11/8/59.

Guilherme de Almeida (1890-1969). Acervo Casa da Colina

1959 – Príncipe dos Poetas Brasileiros. Placar do Concurso. Placar: Guilherme de Almeida, 55; Vinícius de Moraes, 43; Manuel Bandeira, 40; CDA, 29; Mauro Mota, 26 votos. Correio da Manhã (RJ), 13/8/59.

Mauro Mota (1911-1984)

1959 – Príncipe dos Poetas Brasileiros. Aumenta a vantagem de Guilherme: 27 votos de vantagem sobre Manuel Bandeira, o segundo colocado. Mauro Mota – que estava ocupando o quinto posto – passou agora para o quarto com um voto acima de CDA.

Placar: Guilherme de Almeida, 84; Manuel Bandeira, 57; Vinícius de Moraes, 46; Mauro Mota, 33; CDA, 32 votos. Correio da Manhã (RJ), 15/8/1959.

Álvaro Moreyra (1888-1964)

1959 – Príncipe dos Poetas Brasileiros. Cavaleiros cariocas venceram os paulistas, Guilherme de Almeida foi pintado príncipe dos poetas e Álvaro Moreyra tornou-se imortal das letras, Guima.  Correio da Manhã (RJ), 16/8/59.

Austregésilo de Athayde (1898-1993)

1959 – Príncipe dos Poetas Brasileiros. Antes de começar a eleição que deu a vitória ao Álvaro Moreyra, houve outra “eleição” na Academia: a do Príncipe dos Poetas Brasileiros.

O presidente Austregésilo de Athayde – que faz parte da comissão organizadora do concurso – distribuiu algumas cédulas entre os imortais que ainda não tinham votado. Resultado da prévia: Guilherme de Almeida e Manuel Bandeira, empatados no primeiro lugar. Correio da Manhã (RJ), 16/8/59.

Manuel Bandeira (1886-1968). Vinicius de Moraes (1913-1980)

1959 – Príncipe dos Poetas Brasileiros. Bandeira, Drummond e Vinícius votam em Guilherme de Almeida, autor de A Dança das Horas. Correio da Manhã (RJ), 18/8/59.

1959 – Príncipe dos Poetas Brasileiros. Em Minas Gerais: CDA é o mais votado. Correio da Manhã (RJ), 20/8/59.

1959 – Príncipe dos poetas brasileiros. Placar em MG: Guilherme de Almeida, 161; Manuel Bandeira, 128; CDA 76; Vinícius de Moraes, 61; Mauro Mota, 41 votos. Correio da Manhã (RJ), 26/8/1959.

1959 – Príncipe dos poetas brasileiros. Placar: Guilherme de Almeida, 177; Manuel Bandeira, 137; CDA 80; Mauro Mota, 41 votos. Correio da Manhã (RJ), 29/8/1959.

1959 – Príncipe dos Poetas brasileiros. Cinco primeiros colocados: Guilherme de Almeida, 200; Manuel Bandeira, 147; CDA, 86; Vinícius de Moraes, 65; Mauro Mota, 42 votos. Correio da Manhã (RJ), 1/9/59.

1959 – Somente mais oito dias existem para o recebimento de votos em nossa redação. Poeta mais votado hoje: Cassiano Ricardo. Nenhuma alteração nas demais colocações, nos últimos dias o grosso da votação tem vindo de São Paulo. Guilherme de Almeida, 207; Manuel Bandeira, 150; CDA, 87;  Vinícius de Moraes, 66; Mauro Mota, 42 votos. Correio da Manhã (RJ), 2/9/59.

1959 – Príncipe dos Poetas Brasileiros. Guilherme de Almeida vota em Manuel Bandeira e concede entrevista à imprensa paulista.

Resultado no Distrito Federal: Guilherme de Almeida, 217; Manuel Bandeira, 153; CDA, 88; Vinícius de Moraes, 65; Mauro Mota, 42 votos. Correio da Manhã (RJ), 3/9/59.

Barbosa Lima Sobrinho (1897-2000)

1959 – Príncipe dos poetas brasileiros. Placar no DF: Barbosa Lima Sobrinho voltou em CDA que fechou com 89 votos; Guilherme de Almeida, 218 votos; Vinícius de Moraes, 67 votos; Mauro Mota, 42 votos. Correio da Manhã (RJ), 4/9/1959.

1959 – Príncipe dos poetas brasileiros. Na próxima quarta-feira encerra-se o prazo para recebimento de votos.

Placar: Guilherme de Almeida, 221; Manuel Bandeira, 156; CDA, 90; Vinicius de Moraes, 68; Mauro Mota, 42 votos. Correio da Manhã (RJ), 5/9/59.

Guilherme de Almeida (1890-1969)

1959 – Príncipe dos poetas brasileiros. Orador oficial na inauguração de Brasília. Guilherme de Almeida, eleito Príncipe dos poetas brasileiros, acaba de ser convidado para ser o orador oficial da inauguração de Brasília, em abril próximo. Correio da Manhã (RJ), 6/9/59.

Lacyr Schettino (1914-2004)

1959 – Príncipe dos poetas brasileiros. Quarta-feira próxima: ultimo dia para entrega de cédulas. Placar no DF: Guilherme de Almeida, 221 votos; Manuel Bandeira, 158 votos; CDA fechou o dia com 91 votos e recebeu o voto de Lacyr Schettino; Vinícius de Moraes, 69 votos; Mauro Mota, 42 votos. Correio da Manhã (RJ), 6/9/1959.

1959 – Príncipe dos poetas brasileiros.  A primeira apuração revelou o nome de Guilherme de Almeida como o 1º colocado. A primeira apuração do concurso foi filmada, em vários de seus aspectos, pelas estações de TV Rio e Tupi.

A Rádio Roquette-Pinto, por sua vez, fez uma reportagem a propósito, entrevistando algumas pessoas presentes.

Placar: Guilherme de Almeida, 250; Manuel Bandeira, 158; CDA, 91; Vinícius de Moraes, 69; Mauro Mota, 42 votos. Correio da Manhã (RJ), 8/9/59.

Vinicius de Moraes (1913-1980)

1959 – Príncipe dos poetas brasileiros. Termina hoje à noite o prazo para o recebimento de votos do concurso.

Placar: Guilherme de Almeida, 263 votos; Manuel Bandeira, 159 votos; CDA, 91 votos; Vinícius de Moraes, 69 votos; Mauro Mota, 21 votos. Correio da Manhã (RJ), 10/9/1959.

Roquette-Pinto (1884-1954)

1959 – Príncipe dos Poetas brasileiros. Chega ao fim o nosso concurso cerca de mil pessoas votaram. Ontem às 22 horas, o programa Momento da Poesia, da Rádio Roquette-Pinto, proclamou os resultados: o primeiro lugar coube a Guilherme de Almeida com 290 votos; Manuel Bandeira, 164; CDA 100 votos, e em terceiro coube a Vinícius de Morais, com 71 votos; Mauro Mota, 51 votos. Correio da Manhã (RJ), 13/9/1959.

1960 – O Príncipe dos Poetas brasileiros compareceu à Delegacia de Vadiagem a fim de apresentar queixa por ter sido vítima de violação de direitos autorais. É que uma editora ainda não identificada lançou na praça a história para crianças Cirandinha dos Séculos, de sua autoria.

Informou o sr. Guilherme de Almeida que por ocasião dos festejos do IV Centenário de São Paulo, enviou originais daquela história a uma editora que pouco tempo depois faliu e cujos proprietários desapareceram.

Diante disso, moveu ação judicial para recuperar os originais. Entretanto, foi surpreendido, agora, com o aparecimento de uma revista (tipo álbum) para colecionador figurinhas e que reproduz a Cirandinha dos Séculos, inclusive com seu nome na capa. Daí a queixa e o inquérito que foi instaurado. Correio da Manhã (RJ), 30/4/1960.

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