Proibição do cigarro eletrônico é positiva para o Brasil reduzir o tabagismo, afirma a SBCO
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A Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) destaca que a decisão da Anvisa de manter a venda de cigarro eletrônico proibida no Brasil é positiva para Brasil seguir na rota mundial de redução de consumo de tabaco, apontada no relatório, lançado em 2024, pela Organização Mundial da Saúde (OMS)
Os cigarros eletrônicos foram apresentados pela indústria do tabaco com o argumento de que eles seriam menos viciantes, quando comparados com o cigarro e, por isso, uma alternativa ao tabagismo.
Por sua vez, a inalação desSe produto não só é nociva, como estudos apontam que os vapes, como são conhecidos, podem entregar até vinte vezes mais nicotina que o cigarro comum. Entre os principais riscos à saúde do uso dos dispositivos eletrônicos estão o câncer de pulmão, infarto, AVC e doenças coronarianas grave.
Em países como Reino Unido e Estados Unidos, onde houve a liberação, foi apresentado um aumento do tabagismo entre adolescentes, o que gerou uma crise de saúde e um movimento a favor da revisão da liberação.
No Brasil, a comercialização de cigarro eletrônica é proibida desde 2009 e a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) celebra a decisão da Anvisa, anunciada na última semana, de manter o veto ao produto.
O Brasil é referência mundial no combate ao tabagismo e a posição mantém o país nesSe caminho, que é alinhado ao relatório da OMS, que apontou que 150 países estão reduzindo com êxito o consumo de tabaco.
“De acordo com o presidente da SBCO, Rodrigo Nascimento, cirurgião oncológico do Hospital de Base, de Brasília, a queda da taxa de uso de tabaco entre jovens é positiva.
“Mesmo com essa queda, as mortes relacionadas ao tabagismo permanecem elevadas. Manter a proibição da comercialização de vapes evita que o Brasil retroceda nas políticas públicas de combate ao tabagismo”, afirma.
Redução global de tabagismo
A tendência global é de declínio contínuo nas taxas de consumo de tabaco, de acordo com o mais recente relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS). Cerca de 1 em cada 5 adultos em todo o mundo consome tabaco, em comparação com 1 em cada 3 em 2000. No entanto, apesar dos esforços globais, a redução relativa desde 2010 até 2022 foi de 25%.
Divulgado em meados de janeiro, o “WHO global report on trends in prevalence of tobacco use 2000–2030” indica que a média de 30% de redução global estabelecida pelo Plano de Ação Global da Organização Mundial da Saúde (OMS) para reduzir a prevalência do tabaco pode não ser atingida até 2025.
O documento aponta que 150 países estão reduzindo com êxito o consumo de tabaco. No entanto, embora os números de fumantes venham caindo continuamente, o mundo chegará a uma redução relativa de 25% no consumo de tabaco até 2025, não alcançando a meta global voluntária de 30%
Apenas 56 países em todo o mundo atingirão essa meta, quatro países a menos em comparação ao relatório de 2021. O Brasil obteve uma redução relativa de 35% desde 2010 e a Holanda está prestes a atingir a meta de 30%.
O relatório ressalta que a taxa média de uso de tabaco entre jovens de 15 a 24 anos diminuiu de pouco mais de 20% em 2000 para cerca de 13% em 2022, com projeção de atingir 12% em 2030.
Além disso, o número total de usuários de tabaco para ambos os sexos vem diminuindo ao longo do tempo, passando de 1,362 bilhão em 2000 para 1,245 bilhão em 2022, com uma expectativa de redução contínua para 1,20 bilhão até 2025.
Em 2000, aproximadamente uma em cada seis mulheres (16,3%) com 15 anos ou mais eram usuárias atuais de algum tipo de tabaco. Até 2025, a taxa é projetada para diminuir para 6,7% e posteriormente para 5,7% até 2030.
Em 2000, a proporção de homens usando qualquer forma de tabaco era três vezes maior do que a proporção de mulheres usuárias. Até 2022, a taxa para os homens era mais de quatro vezes maior do que a taxa para as mulheres.
Espera-se que essa lacuna aumente ainda mais e atinja pouco mais de cinco vezes até 2030. Apesar da tendência de queda no uso de tabaco, o relatório destaca que o número de mortes relacionadas ao tabagismo permanecerá alto por muitas décadas.
“O relatório da OMS evidencia a importância contínua de monitorar e agir contra o tabagismo em todas as suas formas, especialmente entre os jovens, ressaltando a necessidade de cooperação internacional na busca por um mundo livre do tabaco. Deve ser um compromisso de todos, profissionais da saúde, sociedades médicas, instituições e governos”, disse o cirurgião oncológico Rodrigo Nascimento Pinheiro, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica.
Brasil, uma referência
Desde 1989, o Brasil experimenta uma notável diminuição nas taxas de tabagismo entre adultos, resultado das políticas de controle implementadas desde então. Em 1989, 34,8% dos adultos eram fumantes (Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição – PNSN).
Trinta anos depois, em 2019, a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) revelou uma queda para 12,6%. No período de 1989 a 2010, houve uma queda de 46%, evitando aproximadamente 420 mil mortes, conforme estudo publicado na revista PLOS Medicine, em 2012.
Em 2021, o inquérito telefônico Vigitel, feito em 26 capitais brasileiras, registrou uma taxa de 9,1% de fumantes adultos no Brasil, com uma variação de 11,8% entre homens e 6,7% entre mulheres. O Covitel, inquérito nacional que abrangeu o primeiro trimestre de 2022, apontou algumas variações regionais.
A região Norte viu uma redução significativa, passando de 12,1% para 8,0%. No entanto, houve estabilidade nas demais regiões, evidenciando a importância contínua das políticas de controle do tabaco.
A Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) de 2019 mostra que 6,8% dos alunos de 13 a 17 anos eram fumantes, sendo maior entre os meninos (7,1%). Embora tenha havido um leve aumento em comparação com 2015, as políticas de prevenção parecem impactar positivamente.
Cinco perguntas sobre tabagismo e câncer
O cirurgião oncológico Rodrigo Nascimento Pinheiro, presidente da SBCO, comenta as dificuldades e necessidades na luta pela redução do tabagismo e como isso pode impactar o câncer.
1 – A maioria dos países está reduzindo o consumo de tabaco, mas o mundo não alcançará a meta global de redução de 30% até 2025. Por que é tão difícil?
Os fatores que impedem o alcance das metas estão basicamente relacionados à legislação e aspectos culturais em alguns países onde o hábito do tabagismo é muito comum. O fácil acesso ao cigarro, a baixa carga econômica do tabaco no orçamento das famílias em alguns lugares e a ausência de políticas públicas de saúde e de apoio para quem quer parar são desafios.
Algumas medidas propostas pela Organização Mundial da Saúde, que envolvem conscientização e aumento de preços, já vêm sendo implementadas no Brasil desde 1989, graças à visão e pioneirismo Instituto Nacional do Câncer (INCA). O Programa Nacional de Controle do Tabagismo brasileiro é exitoso e contribui para esses resultados positivos.
2 – Qual é a taxa de redução do tabagismo no Brasil na incidência de cânceres relacionados ao tabaco?
No Brasil, registramos uma queda de 35% no consumo de tabaco de 2010 a 2022. É, sem dúvida, um fator de risco muito importante e muitas pessoas podem ter deixado de adoecer por terem largado o cigarro. No entanto, apesar dos avanços, ainda temos 162 mil mortes anuais e gastos anuais na ordem R$ 125 bilhões de reais, ambos por doenças ligadas ao tabaco.
Tudo isso mostra a necessidade contínua de combate ao tabagismo e conscientização. Monitorar de perto essas estatísticas é essencial para fortalecer ainda mais as estratégias de prevenção, visando uma redução mais expressiva nos casos de câncer associados ao consumo de tabaco.
3 – Além dos tumores mais comuns relacionados ao tabagismo, como câncer de pulmão, boca, garganta e bexiga, há outros?
Sim. Existem vários tipos de câncer relacionados com tabagismo. Além desses, temos o câncer de esôfago e tumores do aparelho digestivo. Na verdade, a grande maioria dos tipos de câncer está associada ao consumo do tabaco.
A importância do controle do tabagismo é fundamental na prevenção primária, considerando que os três principais fatores de risco para câncer na humanidade são tabagismo, sedentarismo e obesidade. O tabagismo é considerado o carcinógeno perfeito, participando de várias etapas na formação das células e no desenvolvimento do câncer.
O combate ao uso do tabaco abrange desde a prevenção até a cessação do tabagismo em pacientes com câncer, recomendada como parte eficaz do tratamento. Vale ressaltar que o cigarro não causa apenas câncer, mas também doenças respiratórias graves e cardiovasculares, abrangendo um amplo espectro de condições que impactam significativamente a saúde.
4 – O relatório da OMS menciona que a interferência da indústria do tabaco nas políticas de saúde tem sido um desafio persistente. Afeta também os médicos?
Pela natureza da nossa atividade, que é promover a saúde e salvar vidas, os profissionais da saúde não são o foco desse lobby. A estratégia de ataque e influência da indústria tabagista concentra-se principalmente nos ambientes políticos, como vimos recentemente com o debate entorno do cigarro eletrônico que, felizmente, seguiu proibido pela Anvisa.
Os esforços visam diretamente os tomadores de decisão, legisladores e formuladores de políticas públicas que moldam o arcabouço jurídico do país.
Nós, profissionais da saúde, e a população de modo geral, precisamos estimular os agentes políticos a resistirem a esses assédios destacando a importância de decisões regulatórias que desencorajem o consumo de produtos prejudiciais à saúde, especialmente aqueles relacionados ao tabaco.
Essa colaboração entre profissionais de saúde e decisores políticos é essencial para criar ambientes mais saudáveis e reduzir os impactos negativos do tabagismo na sociedade.
5 – Quais medidas devem ser implementadas para proteger a saúde das populações em face da interferência da indústria do tabaco?
O Brasil realmente tem uma regulamentação muito interessante nesse aspecto. Isso se deu graças ao protagonismo e a importância do INCA, que desde 1889 iniciou campanhas de combate ao tabagismo.
É importante manter o foco na proteção das pessoas que não querem fumar, investir cada vez mais em políticas de saúde pública para quem quer deixar o tabagismo e facilitar o acesso para quem deseja abandonar o cigarro e seus derivados.
Também é muito importante manter a proibição de vínculo das propagandas da indústria tabagista com outros players de mercado, como os festivais de música, e aumentar a carga tributária e o preço do cigarro, fazendo com tenha impacto maior no orçamento das econômico nas famílias.
Devemos também investir nas campanhas de conscientização principalmente junto às faixas etárias mais precoces, pois geralmente os adolescentes tomam contato com o cigarro em média ao redor dos 16 anos ou antes. Essas crianças têm que ser protegidas do acesso, porque é um vício difícil de tratar e uma porta aberta para a dependência química.
Sobre a SBCO
Fundada em 31 de maio de 1988, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) é uma entidade sem fins lucrativos, com personalidade jurídica própria, que agrega cirurgiões oncológicos e outros profissionais envolvidos no cuidado multidisciplinar ao paciente com câncer.
Sua missão é também promover educação médica continuada, com intercâmbio de conhecimentos, que promovam a prevenção, detecção precoce e o melhor tratamento possível aos pacientes, fortalecendo e representando a cirurgia oncológica brasileira. É presidida pelo cirurgião oncológico Rodrigo Nascimento Pinheiro (2023-2025).