A poesia necessária de CDA em defesa da terra natal mineral
Foto: Acervo O Cometa
Carlos Drummond de Andrade, o Menino Antigo
Itabira em busca de seu destino é o que penso dos artigos assinados pelo jornalista Carlos Cruz, aqui na Vila de Utopia.
Entre o que acontece no legislativo e executivo, principalmente nos informa dos crimes ambientais praticados repetidos/repetidos/repetidos pela mineradora Vale…
Das dinamites arregaçando a terra expelindo poeira venenosa sobre a Cidade. “Mais uma vez prevalece o poder de ouro”, Maninho Andrade.
Os chineses conceituaram a exploração neocolonial se valendo da letra E, seis es: expansão, extração, expropriação, escravidão, evangelização e extermínio. [Pepe Café]
Entre revolta, derrota, impotência e tristeza, o consolo é o sentimento itabirano na poesia de Carlos Drummond de Andrade. Viva Drummond! (Cristina Silveira)
A montanha pulverizada
Chego à sacada e vejo a minha serra
a serra de meu pai e meu avô,
de todos os Andrades que passaram
e passarão, a serra que não passa.
Era coisa dos índios e a tomamos
para enfeitar e presidir a vida
neste vale soturno onde a riqueza
maior é sua vista e contemplá-la.
De longe nos revela o perfil grave.
A cada volta de caminho aponta
uma forma de ser, em ferro, eterna,
e sopra eternamente na fluência.
Esta manhã acordo e
não a encontro.
Britada em bilhões de lascas
deslizando em correia transportadora
entupindo 150 vagões
no trem-monstro de cinco locomotivas
– o maior trem do mundo, tomem nota –
foge minha serra, vai
deixando no meu corpo e na paisagem
mísero pó de ferro, e este não passa.
Aquele Andrade
Que há no Andrade
diferente dos demais?
Que de ferro sem ser laje
braúna sem ser árvore?
É o Andrade navegante
pelas roças, pelas vinhas
do Pontal?
Em seu cavalo mais alvo
singra o mar que não lhe deram.
Viajante mais estranho,
deixa a terra,
paira alto, alto, alto
e não chego ao seu estribo.
Mas desce à porta de casa
em seu tamanho natural.
Jacutinga
As rochas são as mesmas que em Vila Rica, tendo-se encontrado na jacutinga placas de ouro, de que a maior chegou a pesar meia libra. Eschwege Pluto Brasiliensis.
É ferro e ouro: jacutinga.
A perfeita conjunção.
Raspa-se o ouro: ferro triste
na cansada mineração.
A jacutinga e hematita
empobrecida revoltada
perfura as paredes do chão
desde o envoltório mineral
e voa,
Até os metais criam asas.
Os metais pesados são asas do corvo sobre a cidade. E os vereadores de Itabira têm medo da mineradora…