Laços de sangue e de crime em Itabira do Matto Dentro – Arrombamento e roubo nos Correios

Não Fui Eu, na banca de jornal, na R. da Glória, Rio 11.8.2016, MCS

1832 Rota das Cartas

Ouro-Preto. Escreve-nos um correspondente de Matto-dentro, censurando a mudança que o governo da província fez na marcha do Correio desta cidade para o Serro, fixando o ponto de comunicação para aqueles lugares em o Arraial de Cocais em lugar de Santa Bárbara, onde antes estivera colocado.

Refere o nosso correspondente que o primeiro ponto ficava em linha reta, e numa distância proporcionada para diferentes distritos, entretanto que hoje em Cocais fica fora do alcance da maior parte das povoações circunvizinhas de Santa Barbara: diz mais que para o Correio tocar na Itabira dá uma volta de duas léguas, e atrasa um dia a chegada das cartas à Vila do Príncipe.

Não sabemos da posição topográfica destes lugares, mas temos ouvido à algumas pessoas imparciais notarem esta mudança como prejudicial ao público. Cabe ao governo examinar qual será o ponto mais próprio para se colocar nele a administração do Correio, consultando às pessoas inteligentes, e decidindo com pleno conhecimento de causa, e com justiça.

Queixa-se finalmente o mesmo correspondente de que esta alteração se fizera sem que constasse ao público, e pondera o inconveniente que daqui resulta, por ignorarem muitas pessoas onde devem mandar procurar as suas cartas. Nisto tem o correspondente razão, e não pode negar-se que se cometeu essa falta essencial em materiais semelhantes.

[O Universal (MG), 29/6/1832. BN-Rio]

Do artista itabirano, Roberto Bethônico. Exposição no MAM-SP

 1888 Arrombamento e roubo nos Correios

Documento. Antonio Alves de Araujo [nomeado em outubro de 1885] agente dos Correios de Itabira, na forma da lei, etc. Certifico e dou fé que revendo os autos de arrombamentos e subtrações de correspondências com valores, procedidos nesta agência, dentre elas há o do teor seguinte:

Aos 18 de julho de 1884, na agência dos Correios desta cidade da Itabira de Matto Dentro, em presença das testemunhas abaixo-assinadas foi aberta pelo destinatário, Joaquim Fernandes Madeira, uma carta registrada no Correio de Guanhães sob o n. 318, no valor de 50$000, a ele dirigida, não sendo encontrado o referido valor que foi subtraído e não havendo indicio de ter sido violada a carta.

Para constar foi lavrado em ato continuo o presente auto que vai assinado por mim, pelo destinatário e testemunhas mencionadas.

Agência dos Correios de Itabira, em 18 de julho de 1884. O agente, Fernando Olympio Drummond; o destinatário, Joaquim Fernandes Madeira; testemunhas: Fernando D’Abreu Castello Branco e Avelino José da Cruz Magalhães.

Nada mais se continha em referido auto que o conteúdo acima escrito e declarado que, eu, agente abaixo nomeado e assinado, bem e fielmente por pessoa de minha confiança fiz copiar dos próprios originais, e, com este conferindo, encontrei ser em tudo conforme aos referidos originais a que me reporto em meu poder e arquivo nesta cidade da Itabira do Matto Dentro, comarca do Piracicaba, aos 21 dias do mês de maio do ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de 1886.

Eu Antonio Alves de Araújo, agente dos Correios, subscrevo e assino – Itabira, 21 de maio de 1886. Antonio Alves D’Araujo (Com uma estampilha de 200 rs. devidamente inutilizada. (*)

(*) Fica nesta tipografia, à disposição do público, o documento colhido na administração geral dos Correios; e que prova que em julho de 1884 o agente do Correio da cidade de Guanhães era Getúlio Ribeiro de Carvalho.

[A Provincia de Minas, 2/4/1888. BN-Rio]

Beócios e apaixonados

Última palavra sobre as tramoias de Getúlio Ribeiro de Carvalho com vista aos beócios e apaixonados. Para dissipar qualquer dúvida que por ventura possa pairar sobre os espíritos dos apaixonados e beócios, exponho à consideração do público sensato as seguintes notas tomadas sobre o fato da subtração do dinheiro por Getúlio em uma carta registrada na agência de Guanhães por Antonio Cordeiro a Joaquim Fernandes Madeira, da Itabira e são:

1⁰. Que Getúlio para sustentar sua causa perdida, somente apresentou em o número 154 do Jornal do Comércio uma carta adulterada de Joaquim F. Madeira, por mim contestada, por uma outra do mesmo, de data posterior, no número 533 da Provincia de Minas, e pelos certificados de ns. 318, de 27 de junho, e 33 de 15 de agosto de 1884, cheios e firmados por Getúlio de Carvalho, e únicos de valor de 50$000 referentes a Joaquim F. Madeira.

2⁰. Que sendo o trafego do correio daqui para Itabira pela linha direta de Ferros de 4 em 4 dias: toca ele em Guanhães nos dias impares, e parte nos dias pares imediatos de cada mês.

3⁰. Que se a carta registrada a 27 fosse expedida como devia pelo correio de 30 pela linha direta e por cuja linha a mala fechada, precedente de Guanhães para a Itabira, só é aberta nesta agencia, chegaria à Itabira no dia 2 com a demora de 6 dias apenas, juntando-se aos dias do trafego os dias anteriores à partida do estafeta; mas por que por essa linha, o agente que cometesse uma ação menos digna (de violação da carta e subtração do dinheiro) não podia contar com subterfúgio algum, foi expedida a carta, (como se lhe notaram os diversos carimbos) pela obliqua ou curva do Serro, Conceição, etc., com a demora de 21 dias, que se verificaram da data do 1⁰. certificado confrontando com a do auto a 18 de julho na Itabira.

4⁰. Que Getúlio tendo dito nos números 35 e 17 dos Liberais do Norte e Mineiro e 154 do Jornal do Comércio, que convencido de não ter seguido o dinheiro pelo registrado e de por força do Regulamento Postal dever-se fazer o auto na Itabira, fez ele poucos dias depois o pagamento do dinheiro pelo registrado do correio, isto é, uns oito, quando muito quinze dias depois; agora no número 62 do Liberal Mineiro fazendo uma conta hipotética de dias que não alcançam os 49 fatais, resultantes do confronto da data do 1⁰. certificado com a do 2⁰., disse que pela coincidência da estada de José Soares d’Oliveira na Itabira com a fatura do auto e chegada do dito Soares aqui à 22 de julho de 84, adicionados os 4 dias de viagem, soube disso por intermédio de seu irmão Bernardo do Café, e ainda assim, ignorando e não sabendo explicar, escreveu ao Madeira pedindo-lhe o informasse disso, isto é, da fatura do auto, e se a carta continha ou não indicio de violação, etc.

Se o auto declarasse que a carta continha indicio de violação o subterfugio de que Getúlio lançaria mão para se defender seria, não o ânimo bem intencionado de Antonio Cordeiro, que registrando o dinheiro, queria por certo satisfazer o mais depressa possível seu compromisso e palavra dada ao Madeira, de daqui remeter-lhe o dinheiro, não com a demora de 49 dias; mas que, é segundo o art. 85 do Regulamento Postal a carta, depois de mostrado o dinheiro, fora fechada à vista das testemunhas tais e tais por A. Cordeiro, direita, lacrada por ele Getúlio, e posta na mala, etc. etc., e que a violação corria por conta das agências da linha obliqua sobreditas, em que a mala de Guanhães para a Itabira é aberta e que delas se devia reclamar o dinheiro.

José Soares, chegando com efeito da Corte a 22 de julho trouxe-nos como novidade de maior vulto a fatura do auto na Itabira a 18. Hospedado, como de costume, com seu amigo capitão Souza Ferreira, vizinho da loja Bernardo do Café, por entre sardônicas visadas e Ôcê – já vios, contou às suas numerosas visitas e na rua à diversas pessoas, a história, que como soe, nos lugares pequenos em poucos momentos, discutida, comentada nas palestras das ruas e nos pontos de reunião das pessoas, que lassas do pouco ou nenhum que fazer, andam à cata de novidades para matarem o tempo com dispêndio da honra da vida alheia, voou com celeridade duma à outra extremidade da cidade, interessando por certo os ouvidos de Getúlio, embora ainda debaixo do peso dos cobertores, os de Antonio Lopes, aparente causa do esquecimento, que indo as vezes afim de praticar à agencia lugar muito frequentado refrescou por certo a memória de seu mestre; as do tabelião, testemunha ocular da entrega do dinheiro fora ou dentro da carta aberta, que apanhando a dita história da boca do infalível club de seu patamar de pau, não deixou por certo de registra-la em suas notas, com ou sem o falso protesto, e por dever de oficio ou parceria, de intimá-la logo ao seu amigo afim.

Mas dado, não concedido, que já depois de passados 25 dias que vão de 27 de junho a 22 de julho, Getúlio com os ouvidos ainda tampados pelos cobertores e com a memória embotada pela abundante transpiração, não tivesse saído de seu aposento contiguo à agência e remexido os escrínios, ou gavetas largas de sua consciência, sacudido as algibeiras das calças, jaquetas e jalecos, revolvido o pó dos papeis das prateleiras para ver se aí havia algum dinheiro estranho ao seu, e que o Lopes, os amigos visitantes, e os muitos frequentadores do lugar público, temerosos de quebrarem lhe o resguardo do sudorifico, não lhe dessem tão ingrata notícia, e que Bernardo Café, que à pouca distância  ouvindo as gargalhadas não deixou de indagar a causa delas, só depois de passados oito dias, em atenção ao melindroso e precário estado de saúde de seu irmão Getúlio, lhe fizesse o competente aviso, e que este ainda nas convulsões  ou calafrios do esquecimento, ignorando e não sabendo como explicar escrevesse ao Madeira pedindo-lhe informações pelo correio de 30, a imediata restituição do dinheiro se fosse feita por Getúlio devia constar do registro do mais próximo correio 4 ou 6 de agosto e não da data de 15.

Porém, segundo consta da certidão do atual agente do correio, cujo atestado jurado enxovalhado no número 154 do Jornal do Comércio não foi contestado por Getúlio com outro do mesmo punho, entre os certificados de ns. 318, de 27 de junho, e 33, de 15 de agosto, não há outro de valor de 50$000 referente a J. Madeira. Vê-se, portanto:

1⁰. Que de confronto do 1⁰. certificado com a chegada do J. Soares em Guanhães, a 22 de julho, lá se foram 25 dias com os oito para refresco da memória 33, e nada de dinheiro restituído.

Lopes, hoje residente em S. João Baptista, além do que já disse pelo atestado jurado de Felisbino à fl. 520 deste jornal, afirmou ao Revdo. Conego João Baptista Pimenta, vigário dessa cidade, que nenhuma parte teve em tal tramoia e que felizmente eu o defendera.

Getúlio, à fl. 62 do Liberal Mineiro, confessou que eu, firmado no testemunho do tenente A. Coelho, à fl. 522 da Provincia de Minas, dissera a fl. 520, que antes de lá chegar o dinheiro, Getúlio pedira explicações ao Madeira antes da restituição, chegando lá o dinheiro antes da resposta deste: tendo ele dito ter feito a restituição sem mais preambulo, etc.

2⁰. Que resultado 55 dias ou dois meses menos cinco dias da data do 1⁰. certificado com a do 2⁰, adicionados dois dias anteriores à expedição pelo estafeta e quatro do trafego, que a restituição fora feita não voluntariamente por Getúlio, mas por força maior e estranha; pois se então longo espaço de tempo o sr. comendador José Bento Soares, administrador geral dos Correios, atendendo antes às tramoias de Getúlio do que aos ditames de sua consciência e às prescrições da lei, deixasse de exigir o mandado de execução contra ele, seria tão caloteiro como Getúlio; mas o comendador cumpriu o seu dever; o delegado de polícia de então dissera à diversas pessoas qualificadas de Guanhães que recusando-se Getúlio ao pagamento, ele delegado entendera-se com o padre Venâncio que, visto Getúlio não querer pagar via-se forçado a exequir contra ele o mandado que de Ouro Preto fora expedido: este padre então pagou o dinheiro; tal a razão por que, antes da resposta, lá chegaram os 50$000, e por que a pedido do dito padre, Lopes servira a princípio interinamente o cargo de agente, como atestou Felisbino.

Getúlio por certo, esperando ainda pela resposta do Madeira apresentará em desforço alguma carta apócrifa do padre Venâncio que lá se foi barra à fora a fim de fradar-se na Europa.

Responder-lhe hei como fez o Madeira a 1⁰. vez: com tal birbante que remetendo-me por sua letra o número 151 do Jornal do Comércio e por intermédio e letra de seu comparsa Augusto Catão o número 35 do Liberal do Norte, não tendo eu lhe remetido artigo algum meu, convida ao público a tirar amostra do genio pequenino, intrigante e mau que só à ele quadra por seus ilustres feitos, só o silencio.

Padre Cesario de Miranda Ribeiro (15 de julho de 1888).

[A Província de Minas (OP), 2/8/1888. BN-Rio]

Pichação na Rua Benjamin Constant, Rio, MCS, 10/2/2023,

1889 Correios. Abaixo-assinado pede demissão de Antônio Alves de Araújo

Agencia do correio de Itabira – Ao Exmo. Sr. ministro da Agricultura, conselheiro Lourenço de Albuquerque, acaba de ser dirigida uma representação, firmada por muitos e distintos cidadãos – liberais, conservadores e republicanos – pedindo a conservação, no lugar que dignamente tem exercido, do sr. Antonio Alves de Araujo, honrado agente do correio da cidade da Itabira

Essa representação, que publicamos adiante, é um documento honrosíssimo, tanto para o sr. Alves de Araújo, a cujo merecimento, como empregado público exemplar, aí se presta a devida homenagem, como aos dignos itabiranos, que, sem distinção ou preocupação política, sabem fazer justiça àquele honrado funcionário.

Resta que, por sua vez, o governo imperial, bem compenetrado do dever, recomende a seu delegado em Minas que não envolva o sr. Alves de Araujo entre as inúmeras vítimas da atual selvática derrubada.

[A Provincia de Minas, 17/7/1889. BN-Rio]

1888 Roubo da mala dos Correios

No dia 2 de agosto, em Itabira de Matto Dentro, foi roubada a mala do correio desta localidade para a capital. Levava importante correspondência.

[Gazeta de Notícias, 3/8/1888. BN-Rio]

 

 

 

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1 Comentário

  1. Muito estranho esse queixume de que saindo de Santa Bárbara e passando por Itabira para chegar à Vila do Príncipe, hoje cidade do Serro, aumenta duas léguas, pois, verificando em qualquer mapa nota-se que por este caminho é uma linha reta.
    Pode ser que a estrada, um dos trechos variantes do Caminho do Ouro, seguia as curvas dos rios e aí ocasiona de aumentar um pouco o trajeto.
    A respeito do dinheiro enviado de Guanhães a Itabira, quase paga a conta o Antônio Alves de Araújo, mais conhecido como “Tutu Caramujo.
    É como se alguém fizesse hoje um depósito no caixa eletrônico do Banco e coloca um envelope vazio, um extremo ato de má fé.
    Para evitar estar tramoia que os Correios criaram o VALE POSTAL, ainda hoje funcionando muito bem e mais um serviço desta prestimosa autarquia pública nacional que, para meu gosto, é a única instituição pública que funciona a contento no Brasil, a que resiste!

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