Flitabira e ViJazz são exemplos a seguir de eventos culturais que saíram praticamente de graça para o erário municipal

Apresentação da Orquestra de Câmara da Escola Livre de Música de Itabira, no 2º Flitabira, no palco ViJazz

Fotos: Criativa Fotos e Publicidade

Por Carlos Cruz

Diferentemente do que foi informado neste site, em artigo de nosso colaborador Mauro Andrade Moura, com críticas gerais e específicas à política cultural itabirana, o 2º Festival Literário Internacional de Itabira (2º Flitabira) não custou a “bagatela” de R$ 3 milhões.

Se somado ao custo do ViJazz & Blues Festival, um outro grande evento cultural que pela primeira vez aconteceu em Itabira, pode até ser que se chegue a esse valor. Porém, é importante ressaltar que esses dois grandes eventos lítero-musical foram bancados por meio de captação de recursos pela Lei Rouanet, de incentivo cultural.

Segundo está publicado no Diário Oficial da União, para o 2º Flitabira foi liberado um aporte de R$ 1.496.270,00, pela Lei Rouanet, captado junto ao Instituto Cultural Vale, seu patrocinador. Já o investimento cultural no ViJazz ainda não foi divulgado, mas também foi integralmente realizado com recursos pela lei de incentivo federal.

Contação de histórias no 2º Flitabira: literatura, diversão e arte com aprendizagem

Portanto, os dois eventos saíram praticamente de graça para Itabira. De acordo com o que está registrado no Portal da Transparência da Prefeitura, somados, esses dois grandes acontecimentos culturais custaram pouco mais de R$ 175 mil ao erário municipal.

O investimento municipal ocorreu basicamente na montagem do palco para a realização dos shows internacionais do ViJazz & Blues Festival,  que aconteceu pela primeira vez em Itabira – e que muito enriqueceu esse momento de celebração dos 120 anos de nascimento do poeta Carlos Drummond de Andrade, que declaradamente apreciava o gênero musical.

Ou seja, foi mais um “biscoito fino” que merece ser repetido na cidade do poeta, que nos últimos dois anos tem respirado um ar mais cultural, embora existam críticas que não podem ser desconsideradas pelos gestores da política cultural do município.

Pelo segundo ano, o grupo Tumbaitá, da FCCDA, se apresenta no Festival Literário Internacional de Itabira

Literatura e música

Foi assim que Itabira teve, praticamente de graça durante uma semana, muita literatura com poesia, debates e encontros marcados no 2º Flitabira, além de ter respirado com o ViJazz a atmosfera jazzística e blueseira das noites de Nova Orleans, Memphis, Tennessee, com grandes intérpretes norte-americanos, e também da França, ocorridos simultaneamente por meio de captação de recursos pela lei federal de incentivo à cultura.

Ou seja, esses grandes espetáculos artísticos, culturais, literários, de resgate da cultura local, notadamente a contribuição de personagens itabiranos afrodescendentes, não só no campo artístico, mas também como exemplos de empreendedores, foram grandes acontecimentos que marcam a história de Itabira e que tiveram baixíssimo custo ao erário municipal.

Leia balanço do 2º Flitabira aqui:

https://flitabira.com.br/flitabira-encerra-2a-edicao-com-excelentes-resultados/

O cantor James “Boogaloo” no palco ViJazz, no encerramento do 2º Flitabira

São conquistas que precisam ser consolidadas, para que possam avançar em suas propostas, incorporando melhorias, tornando-se permanentes no calendário cultural de Itabira.

Outras contribuições da Prefeitura para o Flitabira/ViJazz, via Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade (FCCDA), ocorreram com a cessão de espaços físicos como da Casa de Drummond, Fazenda do Pontal, Memorial Drummond, galeria do centro cultural. E também com a cessão de pessoal da FCCDA e das secretarias que deram apoio a esses dois acontecimentos culturais.

Todos esses espaços culturais de Itabira também “lucraram” com a própria divulgação do festival, inclusive em reportagem no Jornal Nacional, da Globo, com a homenagem ao vate itabirano no encerramento de sua edição do dia 4 de novembro, quando a Vênus Platinada exaltou a vida e a obra de “um dos maiores escritores brasileiros”.

Cultura como investimento

Abertura do Flitabira com as presenças de Rafael de Sá, Sandra Duarte, Hugo Barreto, do Instituto Cultural Vale, Pedro Drummond, Afonso Borges, Marco Antônio Lage e o escritor Tom Farias

É fato incontestável que nos dois últimos anos tem aumentado significativamente os investimentos culturais em Itabira, ainda que comporte críticas, como fez o colaborador Mauro Andrade Moura em seu artigo com grande repercussão, suscitando o necessário e bem-vindo debate sobre a política cultural no município.

E se de tudo fica um pouco, ficam os exemplos do Flitabira e do ViJazz de como Itabira pode aproveitar ainda mais das leis de incentivo à cultura. Principalmente a partir do próximo ano, com a  posse do novo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que, diferentemente de seu antecessor, preza a cultura em suas diferentes formas de manifestações artísticas.

Empresas, como a Vale, por meio de seu instituto cultural, podem investir muito mais na cultura itabirana. Isso não só em grandes eventos, mas também em iniciativas menores que podem crescer apresentando reflexos culturais e sociais nas comunidades.

É outro ponto a ser aprimorado, conforme aponta a cantora e regente Nana Mendonça, em comentário postado neste site na matéria de Mauro Moura, ao criticar a mineradora por investir prioritariamente em projetos consolidados.

Exposição A Máquina do Poeta, de Nelson Cruz, no Museu de Itabira

Segundo constata a artista itabirana, ao que parece, “projetos sociais não são bem-vindos, afinal, quem quer jovens em vulnerabilidade críticos e pensantes (sobre a própria condição de morador numa cidade mineradora), não é mesmo? Ensinar música para jovens onde a violência e a criminalidade capturam seus direitos, não trazem visibilidade para a Vale”, lamenta.

Se toda crítica fundamentada é sempre bem-vinda, é hora também de mudar e ampliar os critérios para aprovar os recursos pelas leis de incentivo cultural.

Nesse ponto, a reportagem perguntou à Prefeitura quantos projetos culturais a FCCDA encaminhou ao Instituto Cultural Vale para patrocinar parte da programação cultural no município, assim como para captar recursos pela lei estadual de incentivo à cultura.

Público no show da cantora francesa Camille Bertault, no palco ViJazz, no 2º Flitabira

“Nos últimos dois anos, a FCCDA apresentou projetos culturais para os 47º e 48º Festival de Inverno de Itabira e para as 20ª e 21ª Semana Drummondiana”, respondeu a assessoria de imprensa da Prefeitura. Mas até então não obteve sucesso.

Produtores culturais independentes de Itabira também apresentaram vários projetos culturais/artísticos/pedagógicos ao Instituto Cultural Vale, para patrocínio via lei federal de incentivo, mas ainda sem sucesso.

É preciso insistir, pois as perspectivas para os próximos anos são as melhores. Afinal, o Estado, via renúncia fiscal, ainda é o principal mecenas cultural no país.

Teatro de Marionetes, projeto Caramujo, no Flitabira

Prefeitura investe R$ 2,6 milhões  na Expoita e apenas R$ 920,9 mil no Festival de Inverno

Embora seja evidente que a atual administração municipal tem investido mais na cultura em relação aos governos anteriores, também é fato que repete o mesmo equívoco das administrações passadas ao priorizarem, historicamente, a aquisição de caros shows sertanejos para a realização da Exposição Agropecuária, em agosto, logo após o Festival de Inverno, que acontece sempre em julho.

Desde que o parque de exposições foi inaugurado, no início dos anos 80, o festival de inverno foi se desidratando, na medida em que mais recursos passaram a ser alocados na contratação de shows agro sertanejos.

Neste ano, informa a assessoria de imprensa da Prefeitura, o investimento no Festival de Inverno foi de apenas R$ 920,9 mil, incluindo o patrocínio da Vale, de R$ 150 mil. É pouco, muito pouco pela importância e história desse festival.

Já a realização da Expoita, que voltou neste ano depois de vários anos sem acontecer, o investimento da Prefeitura foi bem mais vultoso, na ordem de R$ 2,6 milhões.

Só na contratação de artistas sertanejos e de bandas gospel a Prefeitura torrou R$ 1,5 milhão, a saber:

– Guilherme e Benuto – R$ 170 mil
– Gustavo Mioto – R$ 200 mil
– Zezé de Camargo e Luciano – R$ 380 mil
– Teodoro e Sampaio – R$ 100 mil
– Diegho e Victo Hugo – R$ 190 mil
– Michel Teló – R$ 280 mil
– Preto no Branco – R$ 65 mil
– Alan e Alex – R$ 60 mil

Ainda para a realização da Expoita, a Prefeitura repassou R$ 644.500,00 à empresa responsável pela sua realização. Desse repasse, informa a sua assessoria, há previsão de retornar 85% desse valor ao erário municipal, com o que foi arrecadado pela bilheteria, além de 5% dos valores obtidos pelas explorações da praça de alimentação, bares e estandes agroindustriais.

Entretanto, a prestação de contas desse “retorno” ainda não aconteceu.

Soma-se ainda, entre os gastos com a realização da Expoita, R$ 540 mil repassados ao Sindicato Rutal para a realização do torneio Leiteiro e leilão de bovinos de corte e leite, o que inclui um aditivo de 15%.

Lei Drummond

Questionada sobre a efetivação da Lei Drummond, a Prefeitura diz que o Edital nº 001-2022 define as regras para apresentação de projetos artísticos e ou culturais para a concessão do incentivo fiscal previsto na legislação municipal.

Neste ano, informa que foram inscritos 35 projetos no edital da Comissão Municipal de Cultura – e que estão sendo analisados, com a promessa de divulgação dos resultados ainda neste ano.

 

 

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