Outubro Itabirano. Crônicas da Itabira do Matto-dentro Imperial – 1868 – A Passagem de Humaitá na Guerra do Paraguay

Foto de Miguel Bréscia
Pesquisa: Cristina Silveira

Itabira, 13 de março de 1868.  Congratulo-me com o Constitucional pelos heroicos feitos de 19 do passado nos quais tão brilhantemente se traduziu o patriotismo e abnegações de nossos correligionários, pois quem for razoável e imparcial reconhecerá que se os chefes gloriosos de nossos exércitos de mar e terra são conservadores, a maioria daqueles se compõe de conservadores Voluntários da Pátria, designados ou recrutados, honra e glória a estes bravos que com verdadeira abnegação, depondo no altar da pátria seu justos ressentimentos foram nos charcos do Paraguay reivindicar a honra nacional tão vil e traiçoeiramente menosprezada por aquele cacique, e mais uma vez ostentando perante o estrangeiro a bandeira brasileira, a elevaram tão alto quanto pudesse ser admirada e vitoriada pelas nações do mundo civilizado.

José Ferreira Guimarães e Victor Meirelles. Passagem de Humaitá: pintura de Victor Meirelles, 1872 / Acervo FBN

Alguns Liberais daqui já de véspera sabiam da notícia, mas não transpirava. Com a chegada do Correio é que ora se espalhou e os Conservadores daqui que aspiram o fim da guerra como urgente necessidade do país e termo de seus sofrimentos contínuos, foram os primeiros que de suas portas, fazendo subir ao ar numerosos e repetidos fogos anunciaram a todos da cidade e sua circunvizinhança o grande acontecimento.

Então os Liberais assim arrancados da toca pelo próprio povo que, sobranceiro a caprichos políticos cruzando as ruas da cidade saudava o da nacional e vitoriava seus heróis, soltaram algumas bombas e reunindo a música das assuadas saíram em multidão, e depois do orador repetir seu aranzel em uma ou outra porta de Liberais segredavam ao ouvido do oráculo a quem de seu partido daria vivas, e lá saia o invalido Porto Alegre, dizem-me mesmo que chegaram a saudar o asa negra, mas o povo não se envolvendo nesta reserva, prorrompia em vivas aos heróis do dia, Marquês de Caxias, Visconde Inhaúma, Barão da Passagem e Maurity, os quais eram então entusiasticamente correspondidos.

Os Conservadores mais pronunciados se abstiveram de acompanhar esta ostentação, porque a aparição da música na rua lhes associa a lembrança dos insultos que ela por tantas vezes também dirigida por seus chefes lhes tem prodigalizado, assim o seu verdadeiro prazer  e entusiasmo se traduzem em felicitações aos amigos, depois de anunciarem os primeiros, o grande feito.

Não compareceram também ao Te Deum porque o sr. vigário já no ultimo quartel da vida ainda se não compenetrou de que o seu reino não é o deste mundo, de que a sua missão, principalmente como pároco, é a de reconciliar suas ovelhas ministrando-lhes indistintamente os socorros espirituais e franqueando-lhes os ofícios divinos no templo de Deus vivo, perante o qual todos somos iguais, não há progressistas e conservadores, não há senhores e escravos, mas nem sempre assim acontece, pois um fato bem recente melhor o prova.

Reconhecimento de Humayta em 16 julho 1868. Acervo BN-Rio

Dispondo a lei que apurada a eleição e titulado os eleitores se conte um Te Deum, cujas despesas do altar fará o vigário e as demais a Câmara assim não aconteceu; por escárnio aos eleitores conservadores estes foram convidados mas comparecendo ao templo, ali não encontraram mesa, assentos e o de mais que a lei recomenda para toda a dignidade deste ato solene.

A igreja estava simples como nos outros dias ordinários, e depois da missa conventual que era a hora designada, retirando-se todo o povo, os conservadores ali esperaram com irrisão do próprio sacristão, que queria fechar o templo, até que alguns se resolveram a se dirigir ao sr. vigário, que já despido se achava na sacristia muito ao fresco, e aliás s.s. lhes respondeu que não havia Te-Deum por não haver música, como se não havendo música não se possa dar graças a Deus.

É verdade que seu coadjutor dissera em público levianamente que tendo vencido alguns conservadores não havia de dar graças à Deus, e assim aconteceu, mas a lei recomenda que o vigário cante o Te-Deum e não que a música toque, por tanto faltando às suas obrigações de pároco para satisfazer a seu rancor político fique-lhe a gloria deste seu ato censurado pelos próprios liberais moderados, e os conservadores se limitaram, em quanto as coisas se não mudarem, a comparecer na matriz estritamente para o cumprimento dos preceitos da igreja.

Inclusa lhe remeto a apuração dos votos tanto para senador como para membros da Assembleia Provincial. A guerra aos históricos e conservadores foi excessiva, o sr. vigário até deserdou a seu filho Martinho Campos, segundo dizem, e renunciando as antigas relações de amizade com os Ottonis, adotou por filho o sr. Silveira Lobo et relíquia. É bem agradável o sol que nos aquece. [Constitucional, (MG), 28/3/1868. BN-Rio]

 

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