Incêndio no Limoeiro está quase sob controle e a preocupação agora é com a alimentação da fauna silvestre sobrevivente

Fotos: Alex Amaral

“Não, não haverá para os ecossistemas aniquilados dia seguinte. O ranúnculo da esperança não brota no dia seguinte. A vida harmoniosa não se restaura no dia seguinte. O vazio da noite, o vazio de tudo, será o dia seguinte.” – Carlos Drummond de Andrade (Mata Atlântica)

O incêndio florestal que teve início no domingo (11) à tarde numa área de pastagem desativada, ainda consome a vegetação nativa (Cerrado e Mata Atlântica), causando mortes e afugentando a fauna nativa, com grande perda de diversidade no parque Estadual do Limoeiro. A expectativa é conseguir controlar a sua devastação até a tarde desta quinta-feira (15)

Área devastada pelo incêndio é imenso e o IEF ainda não tem o balanço final da devastação

“O cenário para hoje já está mais positivo e acreditamos que possamos debelar o incêndio ainda nesta tarde”, torce o gerente da unidade de conservação, Alex Amaral Oliveira, confiante no trabalho da força-tarefa que desde o início do sinistro tem procurado por todos os meios controlar o fogo que destrói o que encontra pela frente com voracidade jamais vista no parque do Limoeiro.

Profissionais do Grupo de Resgate de Animais em Desastre cuidam de um gavião resgatado do incêndio com ferimentos

A preocupação do gestor agora é com a alimentação da fauna silvestre sobrevivente e também com o resgate dos animais feridos, que estão sendo encaminhados para tratamento e futuro retorno ao habitat natural pelo Grupo de Resgate de Animais em Desastre (Grad), uma ong parceira do Instituto Estadual de Florestas (IEF), responsável pela unidade de conservação.

“É desolador ver a quantidade de animais mortos, cobras, gaviões queimados, que não conseguiram sobreviver ao incêndio e os que estão bastante feridos”, lamenta o gerente do parque. Amaral ainda não tem a dimensão exata dessa tragédia ambiental que consumiu boa parte da vegetação nativa. O parque dispõe de uma área de 2,057 hectares que até então estava preservada.

Campanha de alimentos

Tatu com filhote mortos pelo incêndio: perdas incomparáveis para a biodiversidade (Foto: Lucas Fonseca)

Com a destruição da flora natural, as fontes de alimentação para os animais sobreviventes ficaram escassas, provocando a quebra da cadeia alimentar. Daí que a preocupação da gerência do parque passa a ser com a subsistência desses animais, que além de feridos estão assustados e sem encontrar a alimentação silvestre que antes dispunham.

“Estamos pedindo doações de frutas para distribuir em pontos estratégicos nas áreas do parque e assim assegurar a alimentação da fauna sobrevivente, para que não ocorram mais mortes por falta de alimentos”, pede Alex Amaral, que espera manter a campanha pelos próximos oito meses, que é o tempo mínimo para a flora silvestre começar a regenerar e voltar a dar frutos.

Para que a doação ocorra de forma organizada e na quantidade necessária, ele pede que os doadores façam contato pelos telefones 31 38302829  (gerência do parque) e 31 991829646 (da ONG Grad que auxilia o IEF no resgate de animais feridos).

Sacolões podem contribuir, assim como outros doadores voluntários. Pede-se que façam contato para se saber quais são as principais demandas (banana, mamão, melancia, abacate, dentre outras).

Mata do Limoeiro foi salva do machado pela mobilização de moradores de Ipoema

Brigadistas estão desde domingo na luta para conter o incêndio criminoso que devasta o parque do Limoeiro

O parque Estadual do Limoeiro é a maior unidade de conservação aberta à visitação (em condições normais) no município de Itabira. Dispõe de 2,057 hectares cobertos com vegetação nativa  (Cerrado e Mata Atlântica) que se encontrava em fase final de reabilitação, depois de ter sido consumida no passado pela sanha assassina do machado para fabricação de carvão para a indústria siderúrgica da região.

Já na década de 1980 a ameaça retornou e a mata da fazenda do Limoeiro estava mais uma vez para ser vendida para virar carvão. Foi quando uma forte mobilização de moradores de Ipoema se uniram na luta pela sua preservação e conservação.

O parque estadual foi criado por meio de decreto do governador Antônio Anastasia, assinado em 20 de março de 2011. As aquisições de imóveis rurais para compor a unidade de conservação contou com recursos da mineradora Vale, em atendimento da condicionante 37 da Licença de Operação Corretiva (LOC) do Distrito Ferrífero de Itabira.

Exuberância

A mata do Limoeiro estava em fase final de reabilitação antes do incêndio florestal (Foto: Carlos Cruz)

O parque do Limoeiro está localizado na encosta leste da Cordilheira do Espinhaço. “A existência de enormes vargens, que são veredas, foi uma das boas surpresas encontradas na área”, descreveu a geógrafa Cristiane Castãneda, da equipe multidisciplinar contratada pela Vale para fazer o inventário das condições socioculturais e ambientais do seu entorno.

“As veredas são drenos naturais que limpam ainda mais a água”, complementou a biógrafa. No parque, existem três cachoeiras: Derrubado, Paredão e Cascata do Limoeiro.

A fauna é diversificada, com muitas espécies raras ameaçadas de extinção, situação que se agrava ainda mais com a destruição causada pelo incêndio na área. O inventário faunístico inclui a jaguatirica, um felino de médio porte, o gavião pega macaco, o lobo-guará, o macaco barbado.

Pelo inventário realizado para a implantação do parque foi constatada a presença de 218 espécies de invertebrados, como percevejo, besouro, abelha. Mais de 160 espécies de aves, inclusive migratórias, vivem ou passam pela mata do Limoeiro em alguma fase da vida.

Todas as espécies florísticas e faunísticas sofrem agora com esse incêndio criminoso, que precisa ser investigado, punindo os culpados para que os piromaníacos deixem de causar tantos danos à natureza.

 

 

 

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