Ipoema tem atrativos, mas sem estradas e sinalização, turismo não vai para frente

Valério Adélio*

Um célebre ditado norte-americano diz: “No parking, no business”, ou seja, “sem estacionamento não há negócios”, pode ser aplicado no distrito itabirano, na versão bairrista “withou,t road without signaling, impossible!”. Traduzindo: “sem estradas, sem sinalização, impossível atrair turistas”.

Estradas precárias e sem sinalização afugentam o turista (Fotos: Valério Adélio)

Levando em consideração que em Ipoema o turista chega, hospeda-se em uma das pousadas e depois parti para explorar os atrativos, estamos tomando de “sete a um”, pois a começar pela sede do distrito, não se consegue visitar até mesmo o Museu do Tropeiro sem pedir informação. Acredite: em Ipoema não há sequer uma placa de orientação para se chegar aos atrativos.

No governo passado foram sinalizados todos os atrativos, com placas padrão internacional. Mas economizaram na madeira para o suporte e em pouco mais de um ano, todas as placas tombaram ao chão. Motivo: a madeira que foi usada para sustentação das placas foi de péssima qualidade e não aguentou a primeira ventania. E olha que eu acredito que Iansã é nossa parceira nesse quesito.

Embora padronizada, a placa quedou-se e assim ficou

Fato é que se tem uma ou duas placas ainda de pé é por que foram feitas gambiarras para sustentá-las. Num final de semana de agosto deste ano, resolvi percorrer alguns trechos e encontrei alguns turistas resistentes procurando pelos atrativos. Em apenas um dia, conversei com mais de quinze perdidos nas estradas.

Foi daí que consegui compreender porquê de o fluxo turístico de Ipoema cair assustadoramente. E acomodamos, como se nada mais pudesse ser feito. Logo após a implantação da sinalização pela administração passada, me lembro que um grupo de empresários, com a assessoria da Associação Comercial industrial Agropecuária de Itabira (Acita), em parceria com a Transita, formulou um projeto de sinalização para a parte interna do distrito.

Cachoeira do Patrocínio Amaro: a natureza atrai, mas as estradas afugentam o turista

Na ocasião, o problema era só na área urbana de Ipoema, pois ainda havia sinalização nas estradas vicinais. Mas como disse anteriormente, soma-se à falta de sinalização no perímetro urbano do distrito e também agora na extensa zona rural de Itabira, o que vale também para o distrito de Senhora do Carmo.

É necessário e urgente elaborar e executar um plano de sinalização pela Transita e Departamento de Turismo, e claro, também com a participação da Administração distrital. Sugestão: se falta dinheiro, é importante buscar parcerias e soluções ainda que “caseiras”, digamos, artesanais, pode até ficar mais em conta e ser mais adequado ao ambiente bucólico. O que não pode é deixar como está.

No período de 2005 a 2008 fui administrador distrital de Ipoema. Na época, também por falta de dinheiro, reciclamos as placas que a Transita retirava da parte urbana de Itabira. Com uma nova pintura instalamos 103 placas, sendo que algumas estão de pé até hoje. Mas uma parte foi retirada pela administração que sucedeu, para instalar novas placas padrão internacional. Ok, valeu, mas foi por pouco tempo, como já assinalei.

Quebra-mola em estrada de chão: aviso

Sem sinalização, moradores improvisam. Tampa de fogão, porta de geladeira, prato de arado, tudo vira placa para indicar alguma coisa, até quebra-molas em estrada de terra tem em nossas vicinais.

Basta dar um passeio pela na zona rural e o turista verá algumas placas confeccionadas pelos próprios moradores com esses materiais. Se a simplicidade é grande, a informação é maior ainda. E vale a criatividade.

Na ausência das placas confeccionadas pelo município, até esmalte de unha é usado para fazer as indicações. Alguns empresários, investem um pouco mais e pintam profissionalmente, mas longe da padronização que antes existia.

Estradas ruins, trânsito pior ainda. Praticamente todas as estradas que levam aos atrativos estão sem manutenção. E quando há manutenção, é feita a título de socorro e deixa a desejar. Estradas precárias, para dizer o mínimo prejudicam também o trânsito de alunos a caminho das escolas e o escoamento da produção rural.

Pontes precárias colocam em risco a segurança, quando não impedem passagem

Em defesa da negligência do município, algum áulico pode dizer: “ah, o município está em crise, é preciso compreender!”. Mas oito meses da atual administração, somados aos dois anos da gestão anterior, é tempo demais para ficar sem solução para o direito de ir e vir com segurança, sem risco de se perder no caminho – um direito que precisa ser assegurado ao turista.

Como a esperança é a última que morre, ainda nutro a expectativa de que algo possa ser feito urgente. Ainda nas minhas andanças naquele final de semana de agosto, me deparei com sô Sebastião de Zé Cuim, senhor idoso, que nos finais de semana, quase fica rouco de tanto dar informação. Ele mora no Maná, em meios aos principais acessos: cânion dos Marques, Serra dos Alves, Quilombo, Morro Redondo, Montes Claros, Bongue.

Placas amassadas, ou inexistentes, depõem contra a administração do município

Sô Sebastião não se cansa de repetir ao perdido turista: “ô moço, vire á esquerda e o senhor vai chegar nas cachoeiras Alta e do Patrocínio Amaro, à direita é o restaurante e as terras dos Marques.”

O restaurante que ele se refere fica a pouco mais de dois quilômetros, bem no canto da mata e será inaugurado no dia 30 de agosto, com capacidade de atender dezenas de turistas simultaneamente. O problema vai ser como o turista saber como chegar até lá.

Empresários investem no turismo, falta à Prefeitura fazer a sua parte: novo restaurante

Esperançoso, sô Sebastião me diz: “Olha essa ponte foi Ronaldo que construiu, João pôs o nome, homenagem aos meus pais e ao amigo Marques. Ela não vai cair não! E esse buraco está com os dias contados. O administrador me disse que vão inaugurar o restaurante e virão os ‘bão’ da Vale e vão arrumar tudo”.

A coleta de lixo na zona rural também está suspensa devida a precariedade das condições atuais da ponte. Mas aí é um outro assunto que fica para uma próxima vez.

 

 

*Valério Adélio é empresário e produtor rural

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2 Comentários

  1. Infelizmente no Brasil o Turismo (com T maiúsculo mesmo) não é levado a sério. Salvo raras exceções. É tudo feito com muito amadorismo e improvisação. Os próprios prefeitos acham que investir em turismo, resgatar a memória dos Municípios, é jogar dinheiro fora. Não há investimentos em infraestrutura, divulgação e incentivos às comunidades e empresários locais. Acham que turistas são bisbilhoteiros, trambiqueiros, ladrões, pessoas inconvenientes para o Município. É muito comum encontrar Centros de Atendimento aos Turistas (CAT’s), nas poucas cidades que existem, fechados ou com pessoas despreparadas para dar qualquer informação! É de estarrecer ver a foto desta ponte (mostrada na matéria) que pode desabar à simples passagem de uma carroça, e do quebra-molas numa estrada onde só se tem buracos e ainda por cima tomada pelo mato. Este é o retrato vivido por Ipoema, agora imagine o que se passa por este Brasilzão de Deus afora! Não é à toa que no País impera o turismo de Praia e Sol, já que pouca gente do exterior tem coragem de se aventurar por terras tão ermas! Só mesmo nós, valorosos Brasileiros, que não querem que a cultura tropeira e caipira se acabe! Abraços!!!

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