Solidariedade à família de Douglas, morto em acidente de trabalho na Vale em Itabira-MG

Hoje, dia 14 de fevereiro, acontece a missa de sétimo dia da morte de Douglas Maycon Nonato da Cruz, trabalhador da área de inspeção da lavagem do minério de ferro da usina Conceição, de propriedade da mineradora Vale, em Itabira MG. Nos solidarizamos com familiares e amigos do Douglas neste momento tão doloroso.

O acidente ocorreu por volta das 21h, quando o trabalhador caiu em um tanque de rejeitos após a grade de proteção ter se rompido.

O Comitê Popular dos Atingidos pela Mineração de Itabira e região foi informado que o trabalhador tentou lutar contra o afogamento no rejeito por um tempo, mas o socorro demorou cerca de 20 minutos para chegar ao local, quando já o encontrou sem vida.

A mineração é uma atividade econômica com grau de risco 4, o mais alto da classificação, mesmo assim a Vale não possui equipes de socorristas que consigam fazer o resgate dentro da sua própria usina a tempo de salvar seus trabalhadores em casos de acidente, como o que levou a vida do Douglas.

O descaso da empresa pelos seus trabalhadores é notório, principalmente, depois que as investigações dos auditores fiscais do trabalho encontraram documentos que comprovam que a Vale faz o cálculo financeiro das indenizações em caso do rompimento da barragem, dados que a diretoria levou em consideração quando decidiu correr este risco e não tirar do caminho da lama o refeitório e o setor administrativo da mina do Córrego Feijão, em Brumadinho, o que causou centenas de mortes de seus funcionários em 2019.

Também é preciso lembrar as centenas de casos de contaminações de trabalhadores da Vale durante a pandemia do COVID-19, que após denúncia do Comitê Popular e confirmação do Sindicato Metabase, levou o Tribunal Regional do Trabalho a paralisar por 14 dias as operações da mineradora em Itabira até que a empresa tivesse atendido todas as medidas de segurança nas suas minas e usinas em Itabira.

Assim, exigimos uma investigação rigorosa e transparente sobre o acidente de trabalho que ceifou a vida do Douglas. Por óbvio já deve ser considerada a possibilidade de falta de manutenção dos mecanismos de segurança, já que a grade que deveria impedir a queda no tanque de rejeitos se rompeu.

Mas essa análise deve principalmente levar em consideração os aspectos organizacionais do acidente. O fato de o trabalhador estar no turno da noite pode ter influenciado tanto a ocorrência do acidente, quanto no atraso do resgate.

Também é preciso que seja tratado o aumento da jornada de trabalho, que passou de 8h diárias para 12 horas há alguns meses, o que permitiu a Vale demitir e reduzir drasticamente o número de funcionários, intensificando a carga de trabalho daqueles que permaneceram empregados.

Além disso, a empresa não confirmou se ele era trabalhador direto ou terceirizado, forma de contratação prejudicial, tanto por ter salários baixos e vulnerabilidade no emprego, quanto por não garantir os direitos trabalhistas, o que pode ter afetado a segurança da operação.

Por fim, é preciso considerar o aspecto econômico, pois o recorde de lucro que a empresa teve em plena pandemia não é milagre, a cobrança por aumento de produtividade e os assédios decorrentes tem feito muitos trabalhadores sofrerem com crises de ansiedade, insônia e outras doenças mentais.

É preciso ainda lembrar que em 2019 foi proposto na 16a Conferência Municipal de Saúde de Itabira a criação de um Centro de Referência em Saúde da Trabalhadora e do Trabalhador (CEREST) especializado na saúde dos trabalhadores da mineração, proposta que permanece suspensa pelo poder público municipal e que poderia contribuir na fiscalização das condições de trabalho nas mineradoras da região central de Minas Gerais.

O Comitê Popular dos Atingidos pela Mineração de Itabira e Região está ao lado de todos atingidos, inclusive dos trabalhadores. Assim, lutamos também por mais empregos, com melhores salários e condições de trabalho, mas em um novo modelo de mineração, que valorize a vida, a natureza e a soberania do povo trabalhador brasileiro, sobretudo daquele que vive no seu cotidiano os impactos socioambientais da mineração.

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