Prefeitura cria grupo para saber quem anda poluindo o poço d’Água Santa. Não precisa. O Saae sabe
Por Carlos Cruz
Desde que o Parque Municipal Poço da Água Santa foi inaugurado, em 15 de dezembro de 2000, na administração de Jackson Tavares (1997-2000), que se fala na despoluição do córrego e do poço homônimos, que recebem esgotos clandestinos de residências à montante, tanto do bairro Pará como também dos bairros Moinho Velho e Chacrinha.
Na ocasião, o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) fez levantamento e diagnóstico. Mas nada fez para acabar com o esgoto clandestino. Após mais de duas décadas, a fedentina e a insalubridade continuam naquele que deveria ser um dos principais pontos turísticos de Itabira.
Isso conforme preconizou o ilustre itabirano José Baptista Martins da Costa Filho (1988-1951), o Batistinha, na crônica Ilustre Redação, publicada no Jornal de Itabira, de 8 de maio de 1932, sob o pseudônimo JARTO.
“No final da rua Água Santa e o poço ficaria o parque, com vistoso gramado, belas árvores, lagos, flores, coreto para a Banda Euterpe”, escreveu Baptistinha, já naquela época lamentando a situação deplorável em que se encontra (ainda) o local.
“É uma tristeza para o itabirano que se preza ver a decadência do legendário poço, onde todos nadávamos quando menino, num estado de abandono lamentável. Acredito mesmo que os meninos de hoje nem conhecem essa maravilha itabirana, enquanto por toda a vasta região do nordeste mineiro não há quem ignore a sua existência”, lamentou Batistinha.
Leia a crônica de Batistinha aqui: O Poço da Água Santa nada santo. E assim falou Baptistinha
Assepsia curativa
Com a sua água quente e “milagrosa”, não devido à santa que colocaram no local, que é laico, onde Nossa Senhora nunca apareceu para espiar os meninos nus tomando banho, mas que curava as feridas pela assepsia com a sua água térmica àqueles que nela banhavam.
Leia mais aqui: Nossa Senhora do Rosário aparece misteriosamente no Poço da Água Santa
Batistinha defendeu a criação do parque, mas sem a santa:
“A Prefeitura poderia mesmo construir um estabelecimento balneário naquele local, pois é sabido que a água do poço é radioativa, tendo, portanto, propriedades medicinais”, defendeu o cronista itabirano, que traduziu texto do naturalista francês Augustin François César Prouvençal de Saint-Hilaire (1779-1853), também exaltando as suas propriedades no final do século 19:
“Sua entrada é quase tampada por cipós, samambaias crescem ao redor. É do fundo desta gruta que sai a fonte da água santa, que cai sobre rocha, formando uma pequenina cascata”, descreveu Saint-Hilaire.
Sem saneamento
Muitos anos depois, no início deste século, o parque foi enfim instalado com patrocínio da mineradora Vale, cumprindo condicionante ambiental, mas sem que se tornasse efetivamente um ponto turístico.
Na ocasião de sua inauguração, a Prefeitura anunciou que havia feito a separação do esgoto que vinha da rede – e que deixaria de escorrer com toda a sua fedentina pelo córrego, contaminando o poço.
Mas não eliminou os esgotos clandestinos que vinham de muitas residências, que continuaram – e ainda continuam – poluindo o córrego e o poço da Água Santa.
Grupo de Trabalho
Pois bem, passado todo esse tempo, de propaganda oficial enganosa de sucessivas administrações, dizendo que o córrego e o poço não continham mais esgotos, eis que o prefeito Marco Antônio Lage (PSB) acaba de criar um Grupo Especial de Trabalho (GET) para apurar e apontar os responsáveis pela poluição.
Pelo decreto 1.825/2022, publicado nesta quinta-feira (13) no Diário de Itabira, jornal ainda oficial da Prefeitura, o GET terá a incumbência, em um prazo de um ano, de levantar quem são os agentes poluidores, catalogando as fontes “constituídas de efluentes domésticos ou industriais.”
Mas não é preciso todo esse tempo para fazer o levantamento. Basta solicitar ao Saae o estudo com diagnóstico já realizado e dar início à repressão dos infratores, acabando de vez com as ligações clandestinas que historicamente poluem o córrego e o poço da Água Santa.
Que assim seja feito. E que o sonho de Batistinha, que idealizou o parque, se torne realidade, virando efetivamente um espaço público, um ponto turístico e de encontro dos itabiranos.
E que o parque da Água Santa possa enfim receber eventos culturais e as retretas da banda Euterpe – como também da Santa Cecília. E que retirem a imagem da santa do poço, pois ali não é o seu lugar.
É muito estranho esse maltrato que todas as administrações do Município, por meio do SAAE, promove ao Parque da Água Santa.
E essa santa instalada aí na nascente da água quente, é mera sandice…