João Lucas é doutor em boas energias e o primeiro a defender tese de doutorado em Itabira

João Lucas da Silva, 35 anos, ouro-pretano, professor universitário e montanhista, é também o primeiro a defender tese de doutorado no campus da Unifei de Itabira. Por uma série de coincidências, o seu orientador Thierry Meynard, professor do Institut National Polytechnique de Toulouse, da França, a universidade pela qual João Lucas cursou o doutorado, veio a Itabira especialmente para acompanhar a sua apresentação e defesa de tese.

Os professores Porfírio Cortizo (UFMG), Thierry Meynard (Institut National Polytechnique de Toulouse, da França), Ana Llor (Universidad Técnica Federico Santa María, Valparaíso, Chile, na tela), João Lucas (Unifei), Seleme Isaac Seleme (UFMG) e Marcelo Heldwein (UFSC) – Fotos: Divulgação e Carlos Cruz

Juntamente com o professor Meynard, vieram também à terra natal do poeta Carlos Drummond de Andrade para compor a banca, no dia 14 de julho, uma sexta-feira à tarde, os professores Porfírio Cortizo (UFMG), Seleme Isaac Seleme (UFMG) e Marcelo Heldwein (UFSC). A professora Ana Llor (Universidad Técnica Federico Santa María, Valparaíso, Chile) também integrou a banca, mas participou por videoconferência.

João Lucas na apresentação de sua tese para a banca

“Foi muito bacana a decisão de trazer a defesa da tese do doutorado do João Lucas para o nosso campus”, festejou o diretor da Unifei/Itabira, professor Dair José de Oliveira, ressaltando a importância da interação do campus de Itabira com as universidades de Toulouse, de Valparaíso, no Chile e com as federais de Minas Gerais e de Santa Catarina

“Fortalece e amplia as nossas parcerias com essas universidades. O orientador do João Lucas e os professores conheceram o nosso campus, ajudando a expandir as nossas fronteiras”, salientou o diretor da Unifei de Itabira.

Sem subir à cabeça

“Eu me senti honrado e feliz por apresentar o meu trabalho no campus da universidade onde leciono”, conta o professor e agora doutor João Lucas, título que de forma alguma lhe sobe à cabeça.

“Fiz doutorado como meio de ter autonomia para continuar sendo professor e trabalhar com pesquisas”, diz ele, que considera o título de doutor como um papel que irá facilitar a sua vida de professor, na orientação de seus alunos de mestrado e doutorado, além de obter verbas com mais relativa facilidade para dar continuidade às suas pesquisas.

Pesquisas, aliás, que estão em linha com a necessidade de se buscar soluções energéticas renováveis e mais baratas que a convencional, atualmente oferecida pelo sistema nacional de energia. E, sobretudo, alternativas que sejam energias sustentáveis.

O título de sua tese é Design and Control of a Multicell Interleaved Converter for a Hybrid Photovoltaic-Wind Generation System, que consiste em um conversor híbrido de energias fotovoltaica (obtida do sol) e eólica (vento), que se conecta à rede elétrica.

“O conversor é a inteligência dos geradores das duas fontes de energia”, sintetiza o doutor João Lucas, que teve a sua tese selecionada para concorrer com outras teses de doutorado, aprovadas com mérito pela universidade de Toulouse. O anúncio foi feito após a banca aprovar o seu doutorado, aqui em Itabira.

Energia do vento e do sol

Com a energia sendo gerada alternadamente pelo vento e pelo sol, o conversor otimiza as duas fontes renováveis. Para comprovar a sua tese, foram conectadas 40 placas fotovoltaicas e um gerador eólico no campus da Unifei.

Placas fotovoltaicas foram instaladas no campus da Unifei

“O meu objetivo como pesquisador é tornar o equipamento acessível nas residências, numa fazenda ou em uma pequena fábrica”, revela o pesquisador, indicando a finalidade de suas pesquisas científicas: tornar a vida mais fácil, confortável e sustentável para o maior número de pessoas.

“Propus uma topologia de um conversor de frequência que seja flexível, versátil, barato e eficiente. E que permita que fontes diferentes de geração de energia possam estar conectadas ao mesmo tempo, de forma obter o máximo de recurso energético de acordo com a alternância das condições climáticas”, explica o professor.

Ou seja, se de dia faz sol, à noite é comum ventar mais. Assim, com o conversor, durante o dia enquanto tiver sol, gera-se energia fotovoltaica. E ao escurecer, aproveita-se a força do vento para que se converta também em energia elétrica.

Popularização

O conversor ainda está longe de se tornar um produto comercial. Mas esse longe pode não ser tão distante, pelo seu custo-benefício. “O foco ainda não é a comercialização. Mas eu ficaria mais feliz se no futuro próximo encontrá-lo em residências, fazendas e em pequenas fábricas, reduzindo os custos energético e ambiental”, admite o pesquisador.

O professor e doutor João Lucas com o conversor de energia

A geração da energia alternativa como a fotovoltaica e a eólica tem um impacto ambiental bem menor que as demais fontes. O impacto só ocorre na fabricação dos equipamentos. “Depois de instalados e gerando energia, o impacto é zero”, propagandeia o doutor em boas energias renováveis e perenes.

Assim como hoje se veem instaladas placas para aquecimento solar de água em muitas residências, não é difícil imaginar que brevemente se aproveite também do conversor híbrido de energias fotovoltaica e eólica, reduzindo as despesas das famílias e de pequenos empreendimentos.

É que desde 2014, uma resolução do Operador Nacional do Sistema (ONS) permite ao cliente gerar energia para o seu consumo, inclusive obtendo crédito quando há excedente que segue para o sistema elétrico.

Laboratórios de ponta

Com as pesquisas de João Lucas e outras que estão em curso, o campus da Unifei de Itabira começa a se tornar referência na produção de ciências aplicadas. Laboratórios para que isso ocorra, não faltam.

“O meu orientador Thierry Meynard, referência mundial em conversor de frequência multicelular, conhece muitos laboratórios pelo mundo afora. Depois de conhecer os nossos, ele disse que a nossa estrutura é espetacular”, conta com justificado orgulho o aplicado ex-aluno da universidade de Toulouse, na França. “Não existe um professor de outra universidade que venha aqui e não diga a mesma coisa.”

Com a afirmação, João Lucas revela uma das boas coincidências que fez com que a sua tese de doutorado tivesse as suas experiências científicas comprovadas na prática no campus da Unifei de Itabira. E que foi outro fator a contribuir para que a apresentação e defesa de tese tenha ocorrido para uma banca que se instalou no campus da universidade pública de Itabira.

Foi sem dúvida um importante acontecimento histórico para o campus local. E também para Itabira, na medida em que a cidade se torna geradora e difusora de conhecimento científico.

 

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