Ecologia e a resistência anticapitalista

Veladimir Romano*

O descalabro ambiental ao qual vamos assistindo, com tantas conferências desde finais de 1970 quando o mundo finalmente despertou para a realidade sobre destruição ecológica e do déficit ambiental, resultou em crescentes preocupações contra usinas/centrais nucleares.

Contestações foram seguindo com o nascimento de organizações ou movimentos reivindicando reformas, transformando e universalizando ao ponto de as Nações Unidas incluir o tema já nos finais de 1980, com vários governos apresentando seus projetos políticos sobre o tema, criando ministérios e gabinetes para cuidarem do meio ambiente.

Com mais ou menos nobreza, esclarecimento ou genuíno pormenor político, criaram princípios pela defesa desse inestimável patrimônio de todos que se reflete nos valores da Natureza que deveriam estar a serviço da matriz humana.

Foi assim que mesmo com o crescimento da filosofia de origem capitalista, uma consciência crítica cada vez mais ampla sobre o tema foi ganhando espaço e esclarecimento. Teorias foram desenvolvidas, mas na prática nada mais tem demonstrado de como este sistema se transformou numa arma de arremesso contra a saúde do planeta.

O novo achado de notáveis lucros mas que veio criando fortes desigualdades,  pobreza endêmica, esquecendo inclusive a finitude dos recursos. O alerta não tem sido o bastante para os responsáveis pelos financiamentos das indústrias poluidoras para mudar esse quadro, pelas ambições financeiras, fanatismos e manipulações de toda a ordem.

O mundo estabeleceu assim a sua própria desgraça mediante realidades financeiras que ainda agora no final da COP 26, em Glasgow, já se adivinhava muito antes do começo, desde que as ilusões preencheram a moral dos sonhadores que idealizam um mundo melhor e responsável, propondo outras opções de vida mais saudáveis.

E assim seguem construindo novas realidades com a resistência anticapitalista. O sistema ecológico do planeta já não pode esperar mais… fome, miséria, fuga de povos andam perturbando sociedades despreparadas.

Isso enquanto dirigentes submissos, acomodados ao sistema do qual alimentam seus interesses financeiros, deixando de lado a valorização humana e a redução das diferenças sociais. E assim segue a humanidade.

Mas agora, de boca cheia, todos falam de “sustentabilidade”, “economia verde”, “economia azul”, “capitalismo verde”… Ou ainda, a melhor de todas inventada muito recentemente, falam do tal do “capitalismo de rosto humano”.

Ora, o capitalismo jamais será humano: como sempre, alimenta divisões artificiais, esvazia as esferas coletivas, submete sociedades a consumismos condenados ao engano, dominam níveis de psicose permanente.

Ainda ninguém aplicou averiguações aos danos ambientais do badalado e consumista black friday, quando já sabemos acréscimo de 2,5% do danoso carbono deixado pelos aviões.

Isso enquanto na Islândia, 10% dos glaciares derretem, o nível do mar irá crescer 1 centímetro num planeta onde regiões costeiras já perderam entre 4 a 7% de território

Só com os voos até Glasgow [só levando líderes], deitaram na atmosfera 13 mil toneladas de CO2 e 1/3 das águas europeias estão contaminadas de pesticidas.

Temos na má vontade política um não, acompanhamento de ações científicas. E, na velha histórica terra de Walter Scott (1771-1832), fácil ficou condenar uns e outros como se a realização dessa conferência fosse lugar de queixumes.

Entretanto, todo o mundo se esqueceu da tirada egoísta do então presidente norte-americano George W. Bush [pai], quando no último dia de Quioto [Japão, 1992] se retirou dessa cúpula.

Foi quando disse que «jamais assinarei este acordo, a economia americana é bem mais importante». Nem simples, muito menos fácil fica o panorama mediante humanidade versus planeta. Aguarde os próximos capítulos desta novela dramática.

*Veladimir Romano é jornalista e escritor luso-cabo-verdiano.

 

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1 Comentário

  1. Agora estão adotando os automóveis elétricos como medida de contenção do carbono, porém, em locais com produção insuficiente de energia elétrica, a mesma continua sendo gerada por usinas termoelétricas acionadas por motores da óleo quase cru.
    Só estão mudando o problema da emissão de local.

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