Agroecologia: o conceito de uma nova agricultura

Por Karina Rosalen

Ifope – Indo na contramão da agricultura convencional, a Agroecologia surgiu com uma nova proposta de produção.

Mas você sabe o que é a Agroecologia? Como ela surgiu? Qual a sua importância para a agricultura? Nesse post vamos explicar tudo para você. Confira!

Uma breve abordagem sobre o surgimento 

O novo conceito de produzir alimentos surgiu de forma gradual, iniciou-se na Europa, um pouco antes do fim da 1º Guerra Mundial, com a preocupação da população em consumir alimentos de qualidade.

Após a Segunda Guerra Mundial, a agricultura ganha um incremento com o surgimento de adubos sintéticos, agrotóxicos e sementes melhoradas. A euforia em todo setor agrícola foi evidente com o crescimento da produção, e toda essa evolução ficou conhecida como Revolução Verde.

O novo modelo de agricultura contrariava as leis naturais, provocando em todas as partes do mundo movimentos que visavam resgatar os princípios naturais de cultivo.

No Brasil, o movimento de agricultura alternativa iniciou-se na década de 70, com base na contestação ao modelo criado na Revolução Verde.

O movimento ganhou ainda mais força na década de 80, quando foram realizados quatro Encontros Brasileiros de Agricultura Alternativa.

A partir de então, outros encontros, congressos, seminários e reuniões foram realizados no país, e com isso, associações e legislações foram criadas para difundir, incentivar e fortalecer a agroecologia no Brasil.

O que é a Agroecologia

A agroecologia é um modelo de agricultura alternativa baseada na integração e aplicação de conceitos ecológicos e sustentáveis na produção de alimentos.

Além de considerar o manejo responsável dos recursos naturais, o modelo constitui um campo de conhecimento científico, que integra os saberes históricos dos agricultores com o avanço da ciência.

Agroecologia x Agricultura Orgânica 

A Agroecologia é facilmente confundida com a produção orgânica, grande parte da população não sabe diferenciar um modelo do outro e acreditam ser a mesma coisa. No entanto, são sistemas diferentes.

A diferença não está apenas no produto final, mas em todo processo de produção, desde a escolha do local até os métodos de manejo utilizados e as condições dos trabalhadores no campo.

Para que um produto seja considerado orgânico é necessário descartar a utilização de agrotóxicos em todo processo de produção, considerar as condições dos trabalhadores, a compatibilidade com o ecossistema local e a industrialização no processo.

Embora seja muito mais saudável, a produção orgânica não envolve a mesma responsabilidade social e ambiental defendida pela agroecologia. Em suma, a principal diferença entre o selo orgânico e agroecológico está no fator social.

A produção orgânica é um pouco mais avançada, exige técnica e questões legais. Isto é, para que um produto receba certificação de orgânico é necessário seguir todas as recomendações que a legislação determina.

Ao contrário da Agroecologia, que não possui leis que determinam como o alimento deve ser produzido, qual o manejo a ser adotado, que produtos podem ser utilizados.

A Agroecologia preza pela interação das pessoas e pela produção autossustentável, em que o produtor é capaz de desenvolver seus próprios insumos (adubos, sementes, produtos para controle de pragas) com o que têm disponível na sua terra.

Importância para a agricultura

A Agroecologia desenvolve um papel fundamental na agricultura moderna, por conta dos diversos benefícios que proporciona, como a qualidade de vida, a sustentabilidade do sistema, a valorização do trabalhador, a rastreabilidade e a qualidade dos produtos.

Quem adota esse sistema de produção têm como premissa pensar no coletivo e não apenas no individual, priorizando a agricultura familiar.

Dessa forma, a agroecologia é um importante modelo de desenvolvimento rural, que busca modificar as formas convencionais de produzir alimento a partir da adoção de práticas sustentáveis.

Princípios da Agroecologia 

Os princípios defendidos nesse modelo são:

  • a conservação e ampliação da biodiversidade dos ecossistemas, tendo em vista o estabelecimento de interações entre solo, plantas e animais, ampliando o agroecossistema da propriedade;
  • assegurar as condições de vida do solo, permitindo a manutenção de sua fertilidade e o desenvolvimento saudável das plantas, através de práticas como a cobertura permanente do solo, adubação verde, proteção contra ventos, práticas de conservação do solo, rotação e consorciação de culturas, cultivo em faixa, entre outras;
  • utilizar espécies e variedades adaptadas às condições locais de solo e clima, minimizando exigências externas para o bom desenvolvimento da cultura;
  • assegurar a produção sustentável, sem utilização de insumos químicos que possam degradar o ambiente, fazendo uso da adubação orgânica e de manejo fitossanitário integrado utilizando práticas culturais, mecânicas e biológicas;
  • diversificar as atividades na propriedade, buscando a integração entre elas para maximizar a utilização dos recursos e diminuir a aquisição de insumos externos.

Agroecologia no Brasil e o surgimento de Políticas Públicas

A agroecologia vem ganhando cada vez mais espaço no território brasileiro, e o estado do Rio Grande do Sul apresenta diversos exemplos de produção de alimentos nesse modelo, com milhares de projetos, apoio à comercialização e realização de encontros de capacitação de agricultores e técnicos em agroecologia.

Para incentivar a agroecologia e a produção orgânica, o governo federal desenvolveu através do Decreto Nº 7.794 de 20 de agosto de 2012, o Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PNAPO).

O PNAPO foi um importante passo para a ampliação e efetivação de ações de promoção de desenvolvimento rural sustentável, que enfatiza a transição agroecológica e a produção orgânica, contribuindo para o desenvolvimento sustentável por meio da oferta e consumo de alimentos saudáveis com o uso racional dos recursos naturais.

O primeiro ciclo do plano abrangeu o período de 2013 a 2015, resultando em amplo conjunto de ações públicas que envolveu a destinação de aproximadamente R$ 2,9 bilhões, incentivando a conversação entre agentes públicos e privados em torno da agroecologia.

Em continuidade, o segundo ciclo do plano foi lançado no período de 2016 a 2019, com o processo de atualização técnica a partir de revisões e ajustes propostos pelas áreas responsáveis pelo plano.

Na versão atualizada, toda Assistência Técnica e Extensão Rural passa a ser orientada com enfoque agroecológico e todas as iniciativas são organizadas em seis eixos estratégicos:

  1. Produção;
  2. Uso e Conservação de Recursos Naturais;
  3. Conhecimento;
  4. Comercialização e Consumo;
  5. Terra e Território;
  6. e Sociobiodiversidade.

As principais metas são destinadas ao fortalecimento das redes de produção de base agroecológica e orgânica, ao aumento da oferta de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater), a ampliação ao acesso à água e sementes, bem como, ao acesso dos consumidores a alimentos saudáveis sem uso de agrotóxicos ou transgênicos, ao fortalecimento para as compras governamentais de produtos e o fortalecimento econômico das famílias agricultoras.

Busca-se o diálogo e a articulação entre os estados e municípios para a efetivação do plano, de forma a integrar as políticas públicas setoriais de incentivo.

O Incra é um dos representantes governamentais da Comissão Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Cnapo), responsável pela elaboração do plano, cujas diretrizes estão a promoção da soberania e segurança alimentar e nutricional, do direito humano à alimentação adequada, assim como de sistemas justos e sustentáveis de produção, valorizando a agrobiodiversidade.

Saiba mais!

Você pode conhecer um pouco mais da Agroecologia e suas políticas públicas de incentivo acessando o site do governo: Brasil Agroecológico.

 

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