Como o poder fabrica raízes terroristas

Veladimir Romano*

Alguns movimentos cívicos e sociais vão se descobrindo como forças instaladas no poder durante anos. Desalojaram normas legais para, em estratégias muito bem montadas, instalarem pânico entre a sociedade. Criam desassossego, muita confusão no apreço dos cidadãos pelo processo no qual depositam confiança, convencidos de que quando escolhem lideranças, vão assegurando valores humanos de alta qualidade.

No jogo das entradas e saídas dessas lideranças, foram construindo seus muros invisíveis, estabelecendo regras fora do conhecimento público, estabelecendo longa lista de práticas, ações ilegais muito depois do tempo. Naturalmente, a sociedade foi descobrindo, nascendo o divórcio com as regras da ciência e arte de fazer política.

Caindo as ditaduras, depois de muito combate, sofrimento, mortes sem rumo até ao presente “desaparecidos”; tudo indicava que a ideia desenvolvida nos valores democráticos seria a dose certa e correta na sobrevivência ao melhor lado humano, levando novos líderes a preparar um futuro confiante.

Perguntamos então, se a política será uma superestrutura com base no processo econômico? Reflexo de cada desejo? Componente teórico coletivo? Marcação de ambições ou aquilo que Max Weber chamou de “Excitação estéril”? No ritmo das soluções quando governos e políticos não assumem competências junto com inteligência para resolver problemas nacionais, desafios exigentes, sempre surge alguém capaz, pronto para dissolver parlamentos ou assembleias.

A firmeza, é na maioria das situações, contra o povo. Pouco existe na ideia política o que significa trabalhar o “pêndulo justo” (terminologia politóloga); ao contrário, será obstinação cega, fascínio pelo comando, acomodação fanática nos artifícios dessa compreensão política.

As novas aplicações de forças, aspectos dos quais assistimos diariamente, se transformam nas razões resultantes depois como meio essencial por onde o Estado vai alimentando conflitos silenciosos numa experimentação infinita pelos conflitos de interesse.

E a sociedade sofre, ocasiões nas quais se atrasa, a justiça se enreda, a via belicosa reúne suas unidades e, sem querer, eis que o poder começa fabricando raízes com tendência terrorista. Ódios, corrupção, desajustamento, crises sucessivas, ausência total ou parcial do bem comum da República convivendo de lateral com imprecisões: sim, alcançamos o abstrato como fatalidade.

Depois, como se enganam as sociedades com aumentos salariais. Sindicatos criando estratégias resistentes, esclarecidas, baseadas no combate direto contra todo o processo político sugando este a vida social; cometendo erros, traindo eleitores, arruinando democracias.

A política continua indiferente, embora enfraquecida, se auto convence do seu poder, mantendo a cada custo a relação dominante pelo quanto o povo aceita ou se vai enquadrando pela submissão absurda, alimentando processos segmentados, individualistas. Perdendo energias, e dominados pela inércia, se arrasam valores importantes e necessários ainda como réstia subsistente aos planos negativos entre lealdades traídas pelas classes dirigentes.

Começando pelo pensamento repressivo, aqui se inicia o golpe de Estado, conquanto capazes são criando propaganda administrativa, fabricando terrorismo destilado até que um dia  os povos soltam suas vozes revoltadas.

* Veladimir Romano é jornalista e escritor luso-caboverdiano

 

 

 

 

 

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1 Comentário

  1. Devagar devagarinho a sombra facista vai tomando espaços na vida das pessoas em todo o mundo.
    Muito sorrateiramente esse mal cresce em nosso meio e nós, dando de ombros, vamos deixando o embate contra a proliferação dele sempre para depois.

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