O Cauê na Lenda

 José Horácio Betônico*

 

Cantaram alumes

“Cauê é o esposo estoico e sceptico.”

“Itabira, a esposa infiel e venal.”

O Cauê nasceu na era secundária, sob mau signo…

Iria sôfrer tal qual um mortal!

Teve um crescimento assombroso.

Um grão d’areia daria seu coração enorme.

Em pouco, tornou-se aquele megalômano exagerado.

Projetou-se para cima; furou o céo  como a caminho da felicidade imaterial.

E engrandecido, vaidoso, aos seus proprios olhos poz o mundo embasbacado á seus pés…

Nisto… Viu nascer Itabira. Ajudou-a a prosperar. Admirou-a.

Estimou-a e, naturalmente, por fim, amou-a. Num dia de arco-iris casaram-se.

Mas… Itabira é semelhante a essas mocinhas modernas; trafegas, casam-se para ter amantes.

Após á lua de mel, Itabira mulher sensual, estérica infiel e venal; negou, traiu, vendeu seu esposo.

Pela primeira vez vimos aquele mascate de cabelo ruivo e cachimbo á boca – tankyou.

E o cachimbo trepado no alto do Pico, fumejou! Fumejou com ironia, e cuspiu displicentemente no rosto do Cauê.

Até hoje, quem lá for, sentirá ainda o cheiro forte de sarro nos sovacos do monstro indiferente, quedo, impotente…

Cauê amigo! Eu deploro teu destino. És bem humano e filho da natureza. É, á primeira gargalhada desmensurada e ironica da Cabeça-de-Burro eu vi morrer nos teus lábios o teu derradeiro sorriso.

(Publicado originalmente no Jornal de Itabira, 17 de novembro de 1934)

*José Horácio, itabirano, irmão de Diogo Betônico, ambos já falecidos

Foto: Arquivo CVRD/Cristina Silveira

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2 Comentários

  1. caro carlos, para ilustrar o poema do JB segue um pouco da lenda do ferro:
    “… há mais de 5 mil anos, já se fabricavam objetos de ferro no Egito… Supersticiosos ao extremo os egípcios e babilônios apelidaram o ferro de Pedra do Céu, julgando-o, talvez, proveniente dos espaços siderais, sob a forma de meteorito. O próprio vocábulo siderurgia está vinculado à existência de uma estrela, conhecida por Sidus. E o metal mesmo, inspirou em 1717, ao padre Xavier de La Sante, um belíssimo poema – Ferrum – que finaliza com linda alegoria a dois irmãos pastores – Sidério e Siderito – e deixa descrita a lenda que a Deusa da Estrela Polar, descendo do firmamento, tornou-se enamorada de um pastor – Siderito – que a repele. Encolarizada, a Deusa transforma Sidério em ferro e Siderito em pedra magnética.”
    [In.: A solução do problema do ferro, de Durval Bastos de Menezes, Companhia Editora Nacional, 1938]

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