Eu acuso: Bolsonaro é genocida

Rafael Jasovich*

Genocida é quem causa propositalmente a morte de um povo ou de parte dele. E uma parte do povo brasileiro está morrendo de Covid-19 sob o governo Bolsonaro.

Os defensores do presidente dizem que ele não tem responsabilidade por isso. Afinal, o distanciamento social foi responsabilidade dos governos estaduais e municipais, após decisão do STF. Mas isto não tira a culpa de quem ocupa a cadeira presidencial.

Ele poderia ter articulado as medidas de distanciamento social junto com os governadores e prefeitos, mas propositalmente não quis.

Ele poderia ter feito uma campanha nacional de conscientização pelas medidas de segurança (uso de máscaras, álcool em gel), mas não quis.

Mas Bolsonaro não apenas se omitiu. Ele foi proativo e agiu com intenção de provocar mortes. Podemos, sem medo de errar, chamar o atual governante de genocida por no mínimo cinco motivos:

1 – Bolsonaro boicotou o Sistema Único de Saúde

O Ministério da Saúde gastou menos de 13% da verba para o combate à Covid-19. Este dinheiro fez falta na hora de comprar testes, respiradores e equipamentos para os profissionais de saúde.

O dinheiro já existia e estava separado para os cuidados com doentes. O governo propositalmente não liberou a verba, que poderia ter evitado milhares de mortes.

2 – Bolsonaro sabotou economicamente o distanciamento social

O presidente se diz contra o distanciamento social porque estaria preocupado com o desemprego. Mas apenas 18% das micro e pequenas empresas conseguiram empréstimo de que o governo prometeu durante a pandemia nos primeiros meses.

O Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte só saiu em julho. Atitude foi proposital para que os pequenos empresários fossem contra o fechamento do comércio. Quantas vidas seriam salvas se as empresas tivessem crédito para poder fechar as portas temporariamente sem se preocupar?

Além disso, o auxílio emergencial saiu com vários atrasos, o que deixou as pessoas desesperadas por uma fonte de renda. O auxílio poderia ter saído antes se o Presidente não insistisse no valor de R$ 200,00, obrigando a oposição a pressionar para que fosse R$ 600,00.

Não é que o povo não tem consciência de que os cuidados devem ser tomados. Foi o governo que, propositalmente, não deu condições para as pessoas ficarem em casa.

3 – Bolsonaro atrapalhou o trabalho dos profissionais de saúde

A cena do militante bolsonarista agredindo uma enfermeira se tornou o símbolo do desprezo dos grupos organizados em torno do presidente. Mas isso ainda é pouco.

Bolsonaro incentivou pessoalmente a invasão de hospitais, colocando diretamente várias vidas em risco. Com profissionais desacreditados, desmotivados e preocupados com atentados contra seu trabalho, fica mais difícil salvar vidas.

4 – Bolsonaro usou a “caneta” para tomar medidas contra o distanciamento social

Apesar das medidas de fechamento do comércio serem responsabilidade dos governos estaduais e municipais, algumas regulamentações nacionais são responsabilidade do governo federal. E o Presidente fez o que pode para atrapalhar.

Em maio, Bolsonaro publicou um decreto liberando o funcionamento de academias e salões de beleza. No começo de julho, vetou artigos da lei que obriga as pessoas a usarem máscaras.

Quantas pessoas iriam morrer se ele fosse diretamente responsável pelas medidas de distanciamento? A decisão do Supremo dando esta responsabilidade aos governadores e prefeitos salvou dezenas de milhares de vidas.

5 – Bolsonaro fez campanha contra o distanciamento social

Pesquisas mostram que o distanciamento social foi menos respeitado em lugares onde Bolsonaro é mais popular. Ele disse em várias declarações que o novo coronavírus não era motivo para se preocupar.

Além de dar mal exemplo, participando de manifestações com aglomerações e não usando máscara. Quantas pessoas morreram por ter seguido o exemplo do Presidente da República?

Além disso, a militância em defesa do presidente saiu às ruas no meio da quarentena em carreatas pela reabertura do comércio. Esses atos contaram com a participação pessoal de Bolsonaro, que incentivou as aglomerações.

Por tudo isso, eu acuso: Bolsonaro é genocida!

*Rafael Jasovich é jornalista e advogado, membro da Anistia Internacional

 

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