Um burro vai devagar

Mauro Andrade Moura

Uma cidade, toda uma comunidade que deseja manter um roteiro turístico, há de fazer e buscar sempre mais de si.

Ao longo da última década venho sentindo uma involução em todo um empreendimento constituído a partir dos Caminhos Drummondianos. Sempre existem desculpas para a falta de conhecimento e cuidado com o patrimônio que Itabira possui, seja ele histórico ou cultural.

A Prefeitura Municipal de Itabira, nos últimos três governos, e também no atual, vem mantendo os espaços culturais pela obrigação intrínseca que tem. Não fosse isto todas as “Casas” já estariam fechadas, como ocorre com o Museu de Itabira. Todos esses espaços seguem sucateados ou muito malcuidados.

Como preservar a história, manter a cultura e ter um circuito turístico se tudo é feito por mero fazer?

Vejamos os aspectos atuais.

O Museu do Tropeiro, que não cresce o acervo por falta de investimento ou doação, sendo esta segunda possibilidade também por falta de confiança das pessoas em dispor de algum instrumento ou registro que possuam em favor do museu. Acontece também a bizarrice de cerrar as portas do museu para que os servidores que lá atendem saiam para almoçar. Mal comparando, é como o restaurante que fecha para o almoço.

Os Caminhos Drummondianos seguem capengando como sempre, com muita sujeira ao redor e nas próprias placas com os poemas. Há ainda falta de conhecimento ou interesse da comunidade em conhecer esse museu a céu aberto, que para mim ainda é uma proposta incipiente por falta de sinergia com os demais espaços culturais.

O Parque da Água Santa, que não merece esse nome em decorrência de lá verter uma água morta bem ao lado da água que já foi santa, mesmo com a última limpeza, segue seus dias como sempre esteve, adormecido por falta de uso e cuidados gerais.

Uma Casa de Drummond, que já devia ter sido interditada por falta de condições estruturais, é outro exemplo de negligência. E não nos esqueçamos que boa parte da casa se encontra fechada exatamente por estar em risco de ruir. A última pintura em sua fachada, portas e janelas que recebeu foi em 2003, quando o município desapropriou a casa para criação desse espaço cultural.

A Casa do fotógrafo Brás acolhe uma escola de música. No seu porão, um chafariz jaz literalmente tombado ao chão. Ao alterarem o uso da casa para fins musicais em detrimento da imagem, já não se preserva a memória do excelente fotógrafo que foi o Brás Martins da Costa.

Memorial Drummond esquecido no alto do pico segue em péssimo estado de conservação. A última pintura que recebeu nas paredes foi há exatos dez anos. Sem contar outras mazelas estruturais que ocorrem também por falta de investimento e a corriqueira ausência de pessoal devidamente qualificado, apesar de todo o esforço empreendido pelas pessoas que lá trabalham.

Vejo a Fazenda do Pontal com uma tristeza sem fim, pois desde que foi edificada nunca mais houve uma intervenção em sua estrutura. Lá está o elevador que não funciona desde 2007. A edificação é subutilizada por pequenos encontros e reuniões administrativas da administração municipal.

Um teatro que praticamente não abre sua sala, nunca recebeu nenhuma intervenção de vulto em sua estrutura desde sua conclusão, ainda em 1983. Também subutilizado, não raro tem desviado de sua finalidade, não raro servindo de palco para formaturas escolares. Devia ser interditado pelo Corpo de Bombeiros até que sejam corrigidas as diversas falhas em sua estrutura física.

A Fundação Cultural, que também não faz jus ao nome que leva, administra a maior parte dos espaços culturais da cidade, costuma fazer a manutenção desses bens públicos de acordo com o orçamento fiscal. Mais um ledo engano:  manutenção é diferente de conservação.

Em consequência, temos todos esses problemas acumulados pela total falta dos serviços preventivos e corretivos. Sem isso, não há como nós, cidadãos pagadores de impostos, usufruir desses espaços públicos. Muito menos o turista que para aqui vem atraído pela “riqueza cultural” da terra de Drummond e que acaba tendo uma enorme decepção. E, assim, tropegamente, caminha a nossa cidade. Devagar, observando mais essas derrotas incomparáveis.

 

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2 Comentários

  1. Administrações municipais são umas lástimas, meu amigo!

    Todo lugar a história se repete.
    E estes cavalos só sabem repetir aos quatro cantos que farão obras no município, como se concreto fosse desenvolvimento.

    Abraço.

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