Sem maioria na Câmara, Marco Antônio Lage terá de negociar apoio sem incorrer no costumeiro fisiologismo político do toma lá dá cá

Carlos Cruz

Se o eleitor, em sua maioria, deu uma vitória expressiva ao prefeito eleito Marco Antônio Lage (PSB), por outro, não lhe garantiu a eleição de uma nova bancada situacionista na Câmara Municipal de Itabira, que é imprescindível para se ter governabilidade, com a aprovação de projetos que fazem parte de seu programa de governo.

Lage terá pela frente uma situação bem diferente da que teve o prefeito Ronaldo Magalhães (PTB) no parlamento itabirano. Magalhães governou com folgada maioria, que aprovou praticamente todos os projetos que enviou à Câmara Municipal, com exceção de um ou outro.

Isso mesmo tendo a opinião pública se manifestado contra muitos projetos, como foi o da parceria público privada (PPP) para a transposição do rio Tanque, um investimento avaliado em mais de R$ 50 milhões, que seria pago pelo contribuinte por meio de aumento de até 30% na tarifa de água. Essa conta só não vai chegar aos itabiranos devido ao Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) assinado pela Vale com o Ministério Público de Minas Gerais, assumindo todo o custo da transposição.

O projeto da PPP só teve oposição dos vereadores Weverton “Vetão” Leandro Santos Andrade (PSB), que se reelegeu, e do vereador Reginaldo das Mercês Santos (Patriota), que não se candidatou à reeleição, tendo sofrido forte desgaste com condenação por improbidade na administração distrital de Senhora do Carmo, na gestão passada.

Foi assim, com folgada maioria, que Ronaldo Magalhães voou leve e solto em “céu de brigadeiro”, sem ao menos uma única vez ter comparecido à Câmara para ser sabatinado ou explicar algum projeto. Governou praticamente sem oposição, sem o contrapeso necessário de uma oposição forte e atuante na fiscalização dos atos da administração municipal.

E mesmo a oposição foi fraca nesta legislatura que chega ao fim, até pela minúscula bancada de dois vereadores. Não teve, por exemplo, nem mesmo o tirocínio e o esperado empenho para levar à frente as investigações em CPI, aprovada por unanimidade, para apurar o rombo nas finanças da Empresa de Desenvolvimento de Itabira (Itaurb).

Vereadores eleitos em Itabira (Fonte: TSE)

Nova situação

Dos candidatos que apoiaram a eleição de Marco Antônio Lage, apenas três foram eleitos parlamentares: Weverton “Vetão”, que se reelegeu, tendo sido líder informal da oposição na Câmara – e que que, na próxima legislatura, deve assumir a liderança do governo, além de Marcelino Freitas Guedes (também do PSB), e Carlos Henrique de Oliveira (PDT), que irão estrear na vereança.

Além desses, dois são considerados “independentes” por não terem apoiado, pelo menos formalmente, nenhuma das coligações que protagonizaram as eleições deste ano: Bernardo de Souza Rosa (Avante), em primeiro mandato, e Sebastião Ferreira Leite (Patriota), que foi vereador na legislatura passada, tendo, inclusive, presidido o legislativo itabirano. Foi eleito agora pelo quociente eleitoral, que deixou de fora da vereança candidatos mais votados que o patriota.

Nova oposição

Já a próxima bancada “oposicionista” conta, pelo menos inicialmente, com 13 vereadores. Neidson Freitas (MDB), parlamentar reeleito e disparado o mais votado nessas eleições, líder do prefeito na Câmara, deve assumir a liderança oposicionista – ou a presidência da Casa Legislativa.

Freitas, inclusive, já declarou que não abre mão de sua candidatura a prefeito em 2024, um indicativo de que irá estrear em 1º de janeiro como forte opositor ao prefeito eleito.

Para ter a aprovação da Câmara Municipal, Marco Antônio Lage terá que negociar cada projeto e buscar compor uma maioria que não seja fisiológica, diferentemente do que ocorreu nas legislaturas passadas.

Que as negociações com os vereadores não se tornem pontos de barganhas políticas, sem o nefasto fisiologismo político do toma lá dá cá tão condenável e nocivo à política que busca o bem-comum. Que não seja resultado de inconfessáveis negociações que resultem em preenchimento de cargos públicos por cabos eleitorais dos vereadores, como se viu até então.

O que se espera, em nome da moralidade pública que o eleitor tanto clama, e que deu clara demonstração nessas eleições, é que as negociações com os parlamentares ocorram em torno de ideias e propostas.

E que sejam avaliadas pelo seu conteúdo – e não simplesmente motivadas por questões partidárias e eleitoreiras, já visando a sucessão de um prefeito em início de mandato.

A oposição tem o seu papel imprescindível, principalmente na fiscalização dos atos administrativos. Que saiba desempenhar esse papel com independência e parcimônia, sem impedir a nova administração de governar, mas  também sem cair na quase unanimidade burra que se viu na atual legislatura.

 

 

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7 Comentários

  1. Eu fico até abismado com determinadas declarações ..quando esse ou aquele vereador que nem ao menos assumiu assumiu a nova gestão Já com papo de fazer oposição. Vamos pensar como o povo ; se o pessoal elegeu prefeito e vereadores, foi por acreditar que todas iriam trabalhar por um bem comum que é a melhoria das condições de vida para todos . Sendo assim se for partir do princípio essa foi a condição que o cidadão estabeleceu para creditar seu voto em determinados nomes . Não sei mas acho eu que antes de sair por aí se dizendo oposição o sujeito deveria primeiro aguardar e analisar pelo menos o primeiro ano de trabalho do prefeito pra ele ver se os interesses voltados para o povo estão em primeiro lugar . Esse povo parece num pensar pra falar já começam deixando os seus eleitores ressabiados. Oposição você faz quando se observa o mal feito , oposição existe pra defender as coisas do povo , não pra defender interesses particulares e politiqueiros . O povo tá de olho e essa cultura obscura vai acabar . Mas acho melhor caso alguém queira levar vantagem ignorando seu real papel na Câmara, pode dançar, porque só existirá negociações particulares que senão as que interessam o progresso da cidade e seu povo , se o prefeito permitir e convir . Mas acho que não. Nunca se ouviu por aqui em campanhas a palavra honestidade e fora corrupção como nesta campanha . E que Deus os oriente as ações e as palavras.

  2. Ronaldo Magalhães não recebeu quase 30 mil votos atoa, isso significa que ele ainda é uma das grandes personalidades da política Itabirana que o honrou duas vezes com o cargo de prefeito, uma vez com o cargo de vereador e uma vez com o cargo de deputado estadual. Portanto o grupo político dele vai dar condições de trabalho ao forasteiro que ganhou mas não vai deixar de cobrar o paraíso que foi prometido.

  3. Ainda bem que o jornal chama vila de utopia. Governar dentro de uma proposta republicana significa barganhar, ouvir propostas diversas e procurar integrar a todos. Como muito bem sabia Maquiavel, política é a prática do possível. Ou seja, uma atividade humana e não divina, pois se fosse divina seria onipotente. Não é possível governar sem maioria do legislativo, e para ter maioria tem buscar atender o interesse de grupos. O resto é utopia.

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