Nações Unidas a ¾

Veladimir Romano*

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, reformando a Liga das Nações, nasceu a Organização das Nações Unidas cumprindo neste 2020 seu número redondo com 75 anos de existência, ocupando lances duma história que se vai contando no imediato.

O sonho de negociar a paz universal para todos e duradoira não foge, tal como a defesa dos direitos humanos, liberdade dos povos, promoção do desenvolvimento acompanhando o despertar tecnológico.

Sonhadores e sonhos novos não param de se acumular numa agenda cheia, ocupada, levando como timoneiro da Assembleia Geral, o falante da Língua portuguesa: António Guterres [ex primeiro-ministro de governo socialista entre 1999-2002, anterior responsável pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados de 2005-2015].

Mas ele não está tendo vida fácil, vem sofrendo vários ataques, em particular do governo dos EUA, que busca sufocar a ONU pela economia; uma das realidades quando os gastos cresceram 137% com intervenções em todo o globo e mais suporte aos refugiados.

Ao longo dos anos e da experiência conjunta, A ONU tem se preocupado com novas agendas, incluindo saúde pública, ciência, educação, cultura, família, agricultura, energia, proteção infantil, direitos laborais, nucleares, ambiente, ecologia e tudo mais quanto hoje o avanço técnico possibilite melhoria humana.

Bem organizada, não faltam estratégias lideradas pela Secretaria Geral, tendo esta domínios sobre a Corte Internacional de Justiça. E também pelo Conselho de Segurança, Assembleia Geral que por sua vez realizando, através dos Programas e Fundos, Conselho Econômico Social e Agências Especializadas, como o gabinete central para várias áreas de comum acordo com governos, o que lhe rendeu maior estabilidade e confiança.

Mas nesses três quartos de século, analisando as boas coisas entre outras menos prováveis, houve também bastante frustração, como os recentes casos em território africano. Foi quando entre os “capacetes azuis” [corpo militar de paz], alguns soldados foram julgados pela violação de mulheres congolesas, o que fez perder parte de seu brilho inicial,

Fez igualmente perder poder, acesso aos territórios e força moral, os mecanismos ativos como a permanente agência do Conselho de Segurança, perdendo ou deixando nas mãos das grandes potências soluções da própria ONU.

Nos casos mais flagrantes são os conflitos provocados entre 1961-1973 pelos EUA no Vietnã e em 2003, com a invasão do Iraque. Violações não têm faltado sobre as resoluções que contrariam a lei internacional, reduzindo a organização ao limite.

Deste modo, fortalecer a ONU, amplo desejo da maioria das nações, embora alguns perdendo coragem de aplicar veto nos abusos provocadores de outros membros, com os norte-americanos abusando da sua posição dominante.

E que tem sido o membro mais faltoso dentro das Nações Unidas, onde a banalidade, o ridículo, o cinismo, o oportunismo e a vontade de subordinar todo o mundo aos seus caprichos, tem atingido, ao longo de décadas, o máximo dos absurdos com o lobismo do governo norte-americano interferindo negativamente, dividindo orientações decisivas como nunca antes visto da Assembleia Geral da ONU.

A necessária construção da ONU corresponde à ordem mundial, proteção e segurança da Humanidade, fundamental correspondência com seu pressuposto acente numa essência onde a lógica introduz uma finalidade superior incluindo consequências e a tarefa ao encontrar soluções prósperas em dois sentidos.

Ora, tendo os seus agressores feito campanhas apenas pelos seus interesses, rejeitando regras da casa, anormal fica qualquer realização futura das Nações Unidas, caso não construa uma força-tarefa pronta a eliminar hegemonias, desvirtuamentos, ambiguidades de certos membros mascarados, que falam em paz nos discursos mediáticos mas depois promovem pretensões catastróficas nos bastidores.

As questões do Sudão, Iémen, Líbia, Eritreia, Ucrânia e a continuidade infeliz da história Israel-palestina, o Chipre… sem esquecer a super vergonhosa massa de migrantes no Mediterrâneo como a saga dos imigrantes latino-americanos na fronteira mexicana no rio Grande/Bravo.

São situações que demonstram as fragilidades desta organização, onde a questão cubana sobre sanções internacionais continua agendada mas sem data para debate ou solução há 60 anos.

Outra vergonha marcante desta comemoração manifesta novamente nos últimos tempos mais que nunca confirmações da profunda crise de valores políticos e ausência de líderes comprometidos com a sociedade defendendo esses valores e não grupos com interesse religioso e financeiro.

O que se observam são alianças ruinosas com efeitos negativos ou dramáticos como os que vão acontecendo num mundo profundamente dividido, balançando na mão uma bomba que ainda ninguém conhece seu alcance destrutivo.

A falsa sensação de segurança na qual hoje em dia se nota na ONU, seu afrouxamento, oxalá seja ocasional porque falta ordem internacional, com ela, coerência, coragem, precisão, verdadeira preocupação e muita esperança porque os problemas na inteligência dos homens, devem por obrigação encontrar saída positiva. E não o contrário.

*Veladimir Romano é jornalista e escritor luso-cabo-verdiano.

No destaque, Antônio Guterres, secretário-geral:”A ONU nasceu da guera. Hoje devemos estar aqui para a paz”.(Foto: Eskinder Debebe/ONU)

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