Mesmo com aumento de casos positivos, Itabira ignora risco de maior propagação da Covid-19 com as pessoas nas ruas
Com 427 pessoas testadas positivas para o novo coronavírus (Covid-19) em Itabira, segundo boletim epidemiológico desta quarta-feira (3), com acréscimo de 17 novos casos em relação ao que havia sido notificado na tarde de ontem, a epidemia no município de Itabira segue em um espiral crescente.
É o que se observa desde 21 de maio, quando foram divulgadas as primeiras notificações de trabalhadores testados positivos na mineradora Vale. O aumento do número de casos já é preocupante, ainda mais que existem as subnotificações, além dos casos de pessoas que estão com o vírus, mas não apresentam sintomas
Até o primeiro dia deste mês, segundo registro na Vigilância Epidemiológica, já foram feitos 5.320 testes rápidos na cidade, entre público e privado. Desses, 352 (6,6%) testaram positivos, e 4.969 (93,4%) negativos.
Dos casos notificados nesta tarde, a maioria não apresenta sintomas da doença, com 377 pacientes em isolamento domiciliar, nenhum hospitalizado, com registro de uma morte pela Covid-19.
São números que irão crescer expressivamente nos próximos dias, tanto pela propagação da doença, como também pelo aumento da testagem na Vale, nos hospitais, pronto-socorro e pelos laboratórios particulares.
Aglomerações
Mas o que mais preocupa a secretária municipal de Saúde, Rosana Linhares, é o grande número de pessoas nas ruas. O temor é maior pelo fato de que, como se verifica entre os empregados da Vale, a maioria não apresentar sintomas da doença.
Dessa forma, podem seguir contaminando, em progressão geométrica, as pessoas próximas em casa, no trabalho – e mesmo nas ruas, nos pontos de ônibus, em toda parte por onde ocorrer aglomeração de pessoas.
“Vejo como muita preocupação a irresponsabilidade das pessoas se encontrando e aglomerando em festas, como ocorreu recentemente, à noite, em um evento na praça Acrísio”, disse a secretária em coletiva de imprensa, após apresentar balanço do avanço da pandemia na cidade na reunião da Câmara Municipal.
Segundo ela, a irresponsabilidade pode comprometer todo o esforço que tem sido feito, nos últimos meses, por aqueles que têm ficado em casa.
Com o povo nas ruas pode colocar em risco a saúde e a vida de muitos que estão nos grupos de risco, inclusive de profissionais de saúde à frente no combate à pandemia.
“Ele (os profissional de saúde) acabam ficando mais expostos ao vírus. Quanto mais casos atendem, maior é o risco à sua própria saúde”, diz a secretária, que faz um apelo para que as pessoas evitem sair de casa se não for por extrema necessidade.
Assintomáticos
O quadro de aparente tranquilidade na cidade pode se agravar nos próximos dias com a movimentação das pessoas no comércio com a proximidade do Dia dos Namorados, na sexta-feira (12), que terá o horário comercial ampliado de 10h às 19h, a partir do dia 8.
O risco é grande de se repetir o mesmo frenesi de gente em compras, ou apenas vendo as vitrines nas praças comerciais, no centro e nos bairros, como se observou na véspera do Dia das Mães.
O que para os comerciantes pode significar certo alívio com aumento das vendas, o resultado pode ser uma maior disseminação do vírus, mesmo com as medidas de segurança adotadas, com distanciamento, uso de máscaras e a necessária assepsia das mãos.
A justificativa para o horário ampliado é que permitirá mais tempo para os enamorados efetuarem as compras dos mimos que serão trocados, evitando-se aglomerações.
Mas não foi o que se observou na véspera do Dia das Mães, quando se viu grandes aglomerações de pessoas nas ruas e avenidas na parte da manhã, com esvaziamento à tarde, em todas as praças comerciais.
Pico da pandemia só não acontece se as pessoas ficarem em casa, diz Rosana Linhares
A secretária de Saúde, Rosana Linhares, não quis fazer prognóstico de quando deve ocorrer o pico da pandemia na cidade. Ela, inclusive, torce para que isso não ocorra, o que somente será possível com menos gente nas ruas – e que já podem estar com o vírus, contaminando mais pessoas.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 80% das pessoas infectadas pelo novo coronavírus podem não desenvolver a doença, que é a Covid-19, ou apresentar sintomas leves.
Mas 20% podem precisar de atendimento hospitalar, apresentando quadro de insuficiência respiratória. Desses, 5% devem precisar de atendimento nas Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs).
“Temos um número acentuado de pessoas já testadas positivas na cidade, mas não temos o comprometimento do sistema de saúde até agora”, afirma a secretária. Mas ela teme mudança nesse quadro, com o agravo da doença, principalmente, entre pacientes dos grupos de risco.
Outra pressão sobre o serviço de saúde pode ocorrer com as doenças que acometem as pessoas mais suscetíveis, com outras comorbidades, com a chegada do frio. “Estamos em alerta para o caso de a situação se agravar. É para isso que a cidade vem se preparando, mesmo torcendo para que isso não aconteça.”
De acordo com a primeira estimativa da Prefeitura, e que ainda não está descartada, Itabira pode ter mais de 8.182 pessoas infectadas com o novo coronavírus, sendo que dessas, 549 demandariam internações em enfermarias e 290 em UTIs.
Para atender a esses possíveis agravos, a rede hospitalar já conta com 127 leitos exclusivos para casos suspeitos e confirmados da Covid-19, sendo 103 leitos de enfermarias e 24 nas UTIs dos hospitais Carlos Chagas e Nossa Senhora das Dores.
“Não sabemos quando será o pico da pandemia, torcemos até para que não ocorra. Com a pesquisa por amostragem que iremos fazer, em parceria com a Unifei, com testagem por territórios, teremos um quadro mais preciso com indicadores de como o vírus está se propagando na cidade”, acredita a secretária de Saúde.
“Temos que ter leitos a mais, por isso não está descartada a montagem de um hospital de campanha com mais 50 leitos. É para o caso de o quadro mudar, com a situação se agravando na cidade e na região. Tudo isso vai depender do nível do isolamento social na cidade”, avisa Rosana Linhares.
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