Pandemia dissemina em Itabira. Número de pessoas infectadas, mesmo sem sintomas, é maior que o registrado nos boletins oficiais

Para muitas pessoas é como se não estivesse ocorrendo em Itabira a transmissão comunitária do novo coronavírus (SARS-CoV-2), que provoca a doença Covid-19, tamanho é o fluxo e aglomeração de pessoas na cidade, não só nos pontos comerciais, mas também em eventos particulares com muita gente reunida.

Embora a preocupação deva ser de todos, é preciso que o comércio, em especial, tome as precauções e reforce as orientações para o necessário distanciamento e controle do fluxo de pessoas em seus estabelecimentos.

O tema foi pauta de reunião entre a promotora Silvia Amaral, o secretário municipal de Desenvolvimento Urbano, Robson Costa, e a superintendente de Vigilância em Saúde, Thereza Horta, com representantes de supermercados, por onde transitam mais pessoas na praça comercial de Itabira.

Reunião na Prefeitura com representantes de supermercados: exigência de controle de fluxo e distanciamento com rigorosa assepsia interna (Foto: Divulgação/PMI). No destaque, grande movimentação de pessoas na avenida João Pinheiro (Fotos: Carlos Cruz)

A promotora tem seguidamente manifestado preocupação com o grande fluxo de pessoas transitando pelas ruas da cidade, principalmente depois da reabertura do comércio de rua, com a flexibilização das medidas restritivas. E não é para menos.

O número de pessoas já testadas positivas em Itabira tem crescido exponencialmente. Isso não somente pela deflagração dos testes rápidos pela mineradora Vale entre os seus empregados e contratados, nos hospitais e unidades de saúde para quem apresente sintomas, mas também pelo avanço da doença para o interior, com o agravo devido à chegada do frio.

Vetores assintomáticos

De acordo com boletim epidemiológico divulgado na tarde dessa terça-feira (26), já são 164 casos confirmados em Itabira, com 27 novos registros em 24 horas. Desses, 11 já se encontram recuperados e 152 estão em isolamento domiciliar, com registro de um óbito no município.

O que mais preocupa é a maior ocorrência de casos entre pessoas fora da faixa etária dos grupos de risco. A maioria se encontra na faixa entre 30 e 39 anos, com 62 pessoas testadas positivas para a Covid-19.

Somem-se ainda 41 pacientes com idade de 40 a 49 anos, mais 20 pessoas confirmadas na faixa entre 20 e 29 anos e 19 com idade de 50 a 59 anos. Já com mais de 60 anos são seis pacientes entre os casos notificados.

O menor número de idosos testados positivos pode indicar que as pessoas nessa faixa etária estão se precavendo mais – como também pode ser decorrente do descuido dos mais jovens. É que muitos ainda não perceberam que, mesmo não tendo os sintomas, são vetores do vírus e passam a contaminar outras pessoas.

Outra explicação para o maior número de jovens testados positivos, com um total de 144 dos casos notificados, se deve à testagem em massa que está sendo feita entre os empregados e contratados da Vale, onde predominam trabalhadores nessas faixas de idade. No perfil epidemiológico dos casos confirmados, 14 pacientes não tiveram a idade informada.

Os casos assintomáticos preocupam pelo fato de essas pessoas seguirem disseminando a doença com mantém contatos (familiares, amigos, colegas de trabalho). Vira uma bola de neve, com contaminações exponenciais.

Segundo o professor Domingo Alves, coordenador do Laboratório de Inteligência em Saúde (LIS), da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), da USP, os “casos sem sintomas ou com sintomas leves são a chama que mantém a epidemia”, já que a maioria não é testada – e, consequentemente, o isolamento domiciliar fica restrito.

Subnotificações

Ainda de acordo com Alves, os boletins oficiais divulgados diariamente com o número de infectados não refletem a realidade da pandemia no Brasil, pois se baseiam nas internações.

No caso de Itabira, passam a incluir também os empregados testados positivos na mineradora Vale, que tem, obrigatoriamente, de notificar à Vigilância Epidemiológica do município os casos confirmados.

Para que se tenha ideia da gravidade, segundo levantamento do LIS, enquanto registros oficiais mostravam pouco mais de 165 mil infectados no dia 11 de maio, as projeções dos pesquisadores de Ribeirão Preto chegavam a 2,3 milhões de pessoas com o vírus no país.

Ou seja, o número projetado é 13,9 vezes maior que o registrado pelos boletins oficiais. O fato é considerado grave por prejudicar o planejamento das ações de combate à epidemia.

Para o planejamento é importante mapear as áreas de maior incidência. Isso para que sejam dirigidas campanhas e adotadas até mesmo medidas mais restritivas, como o bloqueio total (lokdown) das regiões mais afetadas.

“As ações de planejamento e políticas públicas para controle da pandemia dependem de dados reais”, afirma o pesquisador. Alves critica o afrouxamento das medidas restritivas e de mobilidade justamente quando ocorre o avanço da pandemia para o interior, mesmo que os municípios apresentem evidências de que a doença está sob controle, como é o caso até aqui de Itabira.

Para o enfrentamento à pandemia, o recomendável é ampliar o número de testagem, mesmo que o grau de acerto possa não ser tão alto. Nesse aspecto, Itabira figura em posição privilegiada sob o ponto de vista do controle.

Isso ocorre pelo fato de se ter número mais expressivo de pessoas testadas na cidade. É o que irá permitir à vigilância epidemiológica manter também sobre monitoramento, e em isolamento domiciliar, os pacientes testados positivos que não apresentam sintomas da doença. Leia mais aqui.

Medidas cautelares são imprescindíveis no comércio e em toda a cidade

Supermercados da cidade são responsáveis pelo controle de fluxo, treinamento adequado de pessoal e por manter a assepsia interna dos estabelecimentos

Entre as recomendações do Ministério Público e da Prefeitura de Itabira ao comércio varejista está a estrita observância do que é disposto na Nota Técnica 007/20, da Secretaria Municipal de Saúde, com a padronização de medidas sanitárias em cada segmento comercial.

Para entrar nos estabelecimentos comerciais, o uso de máscara de proteção é obrigatório, devendo ser usada corretamente, cobrindo nariz e boca.

O aviso da obrigatoriedade, assim como a capacidade de lotação do estabelecimento, deve constar em placa ou cartaz externo. Essa capacidade deve ter por base um comprador para cada comerciário trabalhando.

Há que se ter também o controle e a organização de filas, mantendo-se sempre a distância mínima de dois metros entre as pessoas presentes no estabelecimento comercial.

É preciso treinar a equipe de comerciários, orientando-os sobre a higienização frequente das mãos, antebraços. Tudo isso, além de manter sempre limpos os espaços e equipamentos, com troca do uniforme pelos comerciários antes do retorno para casa.

 

 

 

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