José Carlos não é Forrest Gump, mas ele também corre sem parar
Naquele dia, sem nenhum motivo, decidi dar uma corridinha. Corri até o fim da estrada, e quando cheguei lá resolvi atravessar a cidade (…) Sem nenhum motivo, segui em frente. Corri até chegar no oceano. E quando cheguei lá, já que tinha ido tão longe, resolvi voltar e continuar. Quando eu ficava cansado, dormia. Quando tinha fome, comia e quando precisava ir… Bom, eu ia.” (Forrest Gump, personagem de Tom Hanks, no filme Forrest Gump: O Contador de Histórias (1994), do diretor Robert Zemeckis).
Por um importante detalhe, José Carlos Moreira, 55 anos, aposentado, não é um Forrest Gump, embora tenha como o personagem do filme homônimo o prazer de correr. A diferença é que ele não corre só por precisar seguir em frente, mas para permanecer vivo, com saúde e bem-estar.
Conforme registrou em uma de suas duas agendas, uma já cheia e a outra pela metade, onde mantém meticulosa anotação, ele já realizou mais de 390 treinos, corridas e competições. Desde que começou a correr, em 2 de janeiro de 1992, já correu cerca de 80 mil quilômetros em 25 anos.
José Carlos só começou a correr aos 30 anos, dois anos depois que o seu pai, Ventura Moreira, morreu de infarto aos 56 anos, em janeiro de 1990. “O meu pai sempre dizia para eu fazer algum exercício físico. Pesava 102 quilos, era obeso e sedentário. A morte repentina de meu pai foi um alerta.”
Desde então, não parou de correr. Os bons resultados para a saúde logo vieram. Hoje, ele pesa 76 quilos de massa magra, bem distribuídos em seu corpo com 1,73 metro de altura. “Só paro de correr quando não conseguir dar um passo depois do outro”, diz ele em seu escritório abarrotado de troféus e medalhas.
Antes de começar a correr, Moreira não consumia bebida alcoólica, mas tomava litros e mais litros de refrigerante. Hoje só toma suco e se alimenta de tudo, mas com parcimônia. E bebe muita água. “Não espero ter sede. Quando isso ocorre, é porque o corpo já está desidratando.”
Início
O atleta itabirano começou a correr com Moisés Madeira, um dos pioneiros corredores de rua em Itabira. “No primeiro dia, parei antes de completar um quilômetro e meio, exausto e ofegante. Pensei em desistir. Mas o Moisés não desistiu de mim”, recorda. Passaram-se a caminhar toda a manhã em direção ao trabalho, um percurso do bairro Santa Tereza, onde eles moravam, até a oficina Centralizada Cauê.
Um ano depois, decidiram voltar do trabalho para casa correndo. E José Carlos nunca mais parou de correr. Pouco depois, Moisés Madeira teve de parar, em consequência de uma lesão mais forte. “Mas ele retornou agora. Ficou livre das lesões e me disse que não está mais sentindo dores. Só que agora corre num ritmo mais lento e não participa de competições”, conta, feliz com o retorno do amigo.
José Carlos também sofreu pequena fissura na tíbia e nos joelhos. Mas foi no início, quando ele não tinha orientação e não fazia alongamento e aquecimento. “Melhorei com reforço muscular e uso de tênis adequado.” Segundo ele, pouca gente corria na época. “Vicente “Galo”, Jesus Moreira, sô Dario (Oliveira, já falecido) foram os pioneiros”, homenageia.
Antes, por um longo período, José Carlos corria quase todos os dias. Hoje, ele corre dia sim, dia não. Ocasionalmente, ele pedala em sua bike e joga peteca duas vezes por semana. “Não recomendo a ninguém ficar parado. Se não quiser, ou não puder correr, faça o que gosta. Uma boa caminhada vale tanto como uma corrida”, recomenda.
Segundo ele, exercitar melhora a resistência física e oxigena o cérebro. “Melhora tudo”, assegura, “inclusive o raciocínio”, exemplifica. “Eu era orientador técnico na Vale. As boas ideias de melhorias, eu tinha quando estava correndo.”
Além disso, diz, vive mais quem se exercita e não se deixa levar por uma vida sedentária. “Doutor Cláudio (Alvarenga, médico endocrinologista) diz não ter segredo, é só observar nos velórios: ‘você nunca vai ver um velho gordo morto no caixão’. Só morre velho quem é magro”, conta José Carlos, acreditando, com boa chance de acerto, que viverá mais que Matusalém, personagem bíblico que viveu mais de 969 anos (Gênesis 4:18).
Speed Fox
José Carlos é um dos fundadores da Speed Fox, entidade sem fim lucrativo, criada em 22 de maio de 2006 por contumazes corredores de rua. A organização reúne hoje mais de 400 filiados.
Promove corridas e treinamentos nas terças e quintas, a partir de 19h15. Eles se encontram na avenida Mauro Ribeiro, na praça ao lado da estação ferroviária, onde fazem exercícios de aquecimento e de alongamento antes de a corrida ter início.
Para se filiar à Speed Fox, basta levar um atestado médico, fotografia e pagar uma taxa de R$ 30. E só, não há mensalidade. Com o grupo, além da boa companhia de quem gosta de correr, o iniciante encontra orientação técnica e estímulo.
Entre os filiados, encontram-se corredores de rua consagrados nacionalmente. Larissa Quintão é uma das atletas que se destaca, assim como Rogéria Conceição Almeida e a Cintya Tais de Pinho. “Ficamos felizes quando um atleta se destaca, mas também quando chega um novo corredor de rua”, diz José Carlos.
Segundo ele, correr nas ruas de Itabira não é complicado. Basta escolher um itinerário menos acentuado. “O que mais derruba o atleta são os ‘olhos de gato’, que são importantes na sinalização do trânsito, mas um perigo para o corredor desavisado. É preciso estar sempre atento para ver onde pisa”, recomenda.
Carlos, muito boa a matéria.Só hoje consegui abrir o site.Muito obrigado pela oportunidade de contar um pouco de minha vida esportiva e da Speedy Fox.Obs: *As meninas citadas já foram filiadas à Speedy Fox. Hoje correm por outras equipes.*390 é somente o número de competiçoes. Treinos são milhares.