“A liberdade de imprensa é primordial na democracia”, acentuou Genin Guerra na abertura da exposição sobre os 40 anos do jornal O Cometa
“Nesse momento estranho, com ameaça de volta da censura, esta exposição é para lembrar que a liberdade de imprensa é primordial na democracia”, afirmou o artista Genin Guerra, na abertura, nesse sábado (21), da exposição A Liberdade de Expressão na Trajetória do jornal O Cometa Itabirano, instalada no centro cultural, com visitas até 31 de janeiro, de segunda a sexta-feira, no horário de 8h às 18h. A entrada é gratuita.
Para o curador da mostra do papel do jornal tabloide, que circulou em Itabira e alhures de novembro de 1979 até 2014, a exposição é um retrato da realidade da cidade e do país, que ainda vivia sob a ameaça da repressão de uma ditadura que agonizava, mas mantinha os seus extremistas em ação.
Bombas explodiam em bancas de revistas que vendiam publicações que se opunham ao regime militar, outra matou a secretária da OAB-RJ.
E no colo de um sargento militar explodiu outra bomba, matando-o e ferindo gravemente um tenente. Eles pretendiam acionar o artefato na rede de distribuição de energia para acabar com um show de Chico Buarque, no Rio Centro, em homenagem do Dia do Trabalhador.
Nas ruas, a tropa de choque da Polícia Militar reprimia duramente o movimento estudantil que exigia o fim da ditadura, a anistia aos presos políticos, eleições diretas para governadores e presidente.
E, também, a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte, para que se estabelecesse um novo ordenamento jurídico e político no país.
Dívida histórica
Tudo isso o jornal O Cometa acompanhou em suas páginas, reportando a realidade brasileira e levantando questões históricas envolvendo a cidade de Itabira e a mineração.
Retornou com a cobrança da dívida histórica que o cronista Carlos Drummond de Andrade tão bem reportou em suas crônicas no jornal Correio da Manhã e depois no Jornal do Brasil, e que andava “esquecida” pela imprensa áulica da Cidadezinha Qualquer.
O jornal O Cometa abraçou a bandeira pela reforma tributária que assegurasse maior retorno à cidade pelo muito que o país e a poderosa empresa Vale lucravam com a hematita e o itabirito de suas minas.
O resultado parcial de toda essa luta municipal e nacional veio com a promulgação da Constituição cidadã, de 1988, que reordenou o país política e juridicamente, restabelecendo o Estado Democrático de Direito, hoje ameaçado em seus fundamentos pela reação conservadora que volta a assolar o país.
Exposição
Segundo Genin, parte significativa dessa história pode ser revisitada – ou descoberta – na exposição instalada no Centro Cultural.
“Fiquei mais de dois meses debruçado sobre a coleção do Cometa”, contou o artista itabirano aos convidados presentes na abertura da exposição.
“O acervo dos jornais amarelos traz um pouco do que foi feito em Itabira e o que se passava no país. Vocês, que conhecem essa história, irão sentir falta de muita coisa”, disse ele, dirigindo-se aos fundadores, colaboradores e leitores do jornal.
E para os jovens, ele fez um convite à reflexão sobre a importância da liberdade de expressão como fator primordial para a existência da democracia.
“A exposição é um resumo, um garimpo que dá ideia da importância que teve o Cometa ao resgatar a obra de Drummond e a sua importância para a cidade”, disse o artista itabirano.
Para ele, a mostra é também um convite à reflexão sobre a importância da liberdade de expressão artística, jornalística e política. Sem isso, como consequência vem a treva fundamentalista de quem acredita que a Terra é plana – e que a vida surgiu de um sopro de Deus.
Inspiração
A superintendente da Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade, Martha Mousinho, também destacou a importância do jornal – e o destemor de sua equipe ao exercitar a liberdade de expressão num tempo em que o país ainda vivia as auguras de uma ditadura militar.
Para ela, é por meio da liberdade de expressão que diferentes grupos sociais e artísticos exercem a plenitude de sua capacidade criativa – e o direito inalienável à cidadania participativa e crítica, acrescente-se.
“Há 40 anos o Brasil e Itabira viviam outros momentos com a ditadura militar. Com todos os desafios, um grupo de jovens resolveu se posicionar sobre a condição politica do país, promovendo debates sobre a democracia em sua cidade natal, com o humor e a irreverência que eram a assinatura do jornal”, descreveu a superintendente.
“Desde então, mesmo debaixo da ameaça de censura do regime militar, o jornal resgatou o nosso poeta Carlos Drummond de Andrade e estimulou a cultura em Itabira. Inclusive, teve contribuição importante na construção desta casa de cultura no governo de Jairo Magalhães”, registrou.
“Hoje temos a honra de receber essa exposição que reúne muita história”, acentuou a superintendente Martha Mousinho, para quem o exercício dessa liberdade de expressão, marca do hebdomadário itabirano, por si justifica a realização da mostra cultural e jornalística na terra de Carlos Drummond de Andrade.
Acatamento
A homenagem aos 40 anos de lançamento do jornal O Cometa Itabirano foi sugerida à FCCDA pela promotora cultural Renata Almada, da Golfinhos Produções Artísticas e Culturais.
Desde abril deste ano, uma equipe formada pela chefe do Departamento de Produção Artística, Cíntia Germano, e pelo assessor de imprensa Gustavo Linhares, foi designada para a sua realização, juntamente com o curador Genin Guerra.
A montagem da exposição exigiu intensa pesquisa no vasto acervo do jornal, mantido por seus fundadores.
A FCCDA produziu também um documentário sobre a origem do jornal, contada por seus fundadores.
O vídeo entrevista pode ser assistido aqui: https: https://www.youtube.com/watch?time_continue=5&v=m30OWFgCZ6I
Serviço
Exposição: A Liberdade de Expressão na Trajetória d’O Cometa Itabirano
Data: 21/12 a 31 de janeiro
Visitas: De segunda a sexta-feira, de 8h às 18h.
Local: Centro Cultural de Itabira, avenida Carlos Drummond de Andrade, centro.
Entrada grátis
Que alegria!!!
Golfinhos Produções é só sucessooooo!!! Hahahaha
Obrigada, Carlinhos!
A exposição está Maravilhosaaaaaaaaa! Um mar de histórias!
Parabéns Cintia!!! Phodásticaaaaaa! Você é o cabeção iluminado que abraçou a ideia!