Projeto universitário de Itabira avança com novos investimentos da Vale e Prefeitura na expansão do campus da Unifei

Como parte do resgate da dívida histórica da mineração com Itabira, que teve início em 2008, com a instalação do campus avançado da Universidade Federal de Itajubá (Unifei), nessa terça-feira (22), foi assinado mais um protocolo de intenção como parte da repactuação da parceria público-privada entre a Vale, Prefeitura e a universidade.

Para avançar com esse resgate da dívida da Vale com Itabira, falta ainda liberar o grande legado prometido pela mineradora para o pós-exaustão das minas, que são os aquíferos Cauê e Piracicaba, com seus 338,8 milhões de metros cúbicos de água de classe especial.

Como também é preciso que a mineradora execute todas as medidas constantes das condicionantes ainda pendentes da Licença de Operação Corretiva (LOC), além de abrir o debate com a sociedade itabirana sobre como se dará o descomissionamento das minas com a exaustão prevista para 2028.

Secretários e professores da rede municipal de ensino acompanharam a assinatura do protocolo de intenção para investimentos na Unifei

Com a assinatura do protocolo na abertura do Fórum Itabira Sustentável-Educação e Inovação como caminho para a diversificação econômica, a mineradora irá investir R$ 100 milhões na expansão do campus universitário.

Pelo convênio, além da construção de três novos prédios, serão também desenvolvidos programas educacionais e do fomento do empreendedorismo de base tecnológica.

Com o novo investimento, que será repassado pela Vale à Prefeitura de acordo com o desenvolvimento das obras, acrescente-se ainda o montante de R$ 42 milhões (valores de dez anos atrás) que a mineradora já investiu nos laboratórios dos cursos de engenharia do campus de Itabira, instalado no Distrito Industrial II.

Pouca gente sabe, mas esse distrito leva o nome da empreendedora Maria Casemira de Andrade Lage (1828/1929), dona da extinta fábrica de tecidos da Pedreira, que no século passado chegou a empregar mais de 150 tecelãs.

A justa homenagem foi prestada pelo ex-prefeito Olímpio Pires Guerra (1993/96), por meio da lei municipal 3174, de 30 de maio de 1995. Leia mais aqui: https://viladeutopia.com.br/maria-casemira-a-primeira-mulher-empreendedora-itabirana/.

Investimento visa reduzir a dependência à mineração

Sérgio Leite, diretor de Sustentabilidade da Vale (Fotos: Carlos Cruz)

Segundo o diretor regional de Sustentabilidade da Vale, o ex-diretor de Ferrosos Sul Sérgio Leite, por meio desse acordo a empresa espera que o município, já de imediato, se torne menos dependente da mineração.

“Esperamos transformar Itabira em uma referência em educação e inovação tecnológica”, disse ele, salientando que o novo aporte de recursos é resultado das negociações no Grupo de Trabalho, instituído pelo prefeito Ronaldo Magalhães (PTB).

Marco histórico

Para o reitor da Unifei, professor Dagoberto Almeida, a assinatura do protocolo representa um novo marco na história de Itabira. “O que estamos vivenciando hoje é uma nova fase do conhecimento e da pesquisa. As novas gerações irão se lembrar desse momento histórico que aqui agora está ocorrendo.”

Segundo ele, mesmo tendo a Unifei “expertise” na área de engenharia e tecnologia, isso não impede que cursos de outras áreas possam ser abertos, como o curso de medicina, cujo pedido de instalação em Itabira já foi protocolado no Ministério da Educação.

Dagoberto não descartou, inclusive, a possibilidade de a Unifei expandir os seus cursos para outras áreas além dos cursos de engenharia, inclusive na área de humanas. “No Brasil e também em outras partes do mundo, existem universidades conhecidas como politécnicas, como é a nossa universidade, mas todo processo de evolução acaba se expandindo para outras áreas do conhecimento.”

Parque tecnológico

Reitor Dagoberto considera a assinatura do protocolo um marco histórico na expansão do campus da Unifei

A instalação do campus da Unifei é tida como a principal estratégia para a diversificação econômica do município, o que inclui também o desenvolvimento de um parque científico e tecnológico, proposta que está atrasada em pelo menos dez anos.

Isso, claro, além de manter um ensino superior, público e gratuito (ainda é, mas pode deixar de ser caso o governo federal insista em implantar no país o fracassado modelo econômico chileno de menos Estado e mais mercado),

Ainda de acordo com o reitor, mesmo estando atrasada a instalação do parque tecnológico, e que está acoplado ao projeto universitário, o seu desenvolvimento é parte da estratégia da diversificação econômica.

“Temos conhecimento de nosso papel em Itabira, que não é só formar profissionais altamente qualificados, mas também empreendedores, como já está ocorrendo em Itajubá.”

E é também o que, segundo ele, tem ocorrido mundo afora. Dagoberto citou vários exemplos de desenvolvimento que só foram possíveis com a parceria entre universidades e iniciativa privada.

“É o caso do parque aeronáutico sofisticado que temos no país, assim como a mais desenvolvida agricultura subtropical do mundo”, exemplificou.

“Toda instituição universitária começa criando as condições básicas para o ensino e a partir daí evolui e passa a fazer pesquisa. A ciência aplicada chama-se tecnologia, que se traduz em conhecimento na geração de valor para a sociedade”, explicou.

Conforme enfatizou o reitor da Unifei, as nações mais avançadas são as que conseguiram se manter na vanguarda do conhecimento e da tecnologia. “Uma tonelada de minério de ferro está custando entre US$ 80 e US$ 90. Já uma bobina de aço vale seis vezes mais. A verdadeira riqueza não é a commodity (o minério de ferro), é o conhecimento.”

O que, evidentemente, não é o caso do Brasil, que, historicamente, optou por vender o minério de ferro de Itabira abaixo do preço de banana.

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