Presidente da CVRD, Franscisco Lessa, responde às críticas de Drummond e de Antônio Crispim
A propósito da crônica de C.D.A., “Longe das Minas” e da reportagem “Em defesa de seus direitos”, assinada por Antônio Crispim, publicadas nas edições dos dias 17 e 21 do corrente, respectivamente, recebemos a seguinte carta do presidente da Companhia Vale do Rio Doce, sr. Francisco de Sá Lessa:
“O Correio da Manhã” nas edições de 17 e 21 do corrente, publicou artigos de colaboração referentes à Cia. Vale do Rio Doce, salientando, especialmente, a conveniência de mudar sua sede administrativa para Itabira, a fim de melhor concorrer para o desenvolvimento e progresso da cidade que nada teria lucrado com a intensiva exploração de suas famosas minas de ferro.
O modo pelo qual foi o assunto encaminhado nas referidas publicações poderia, talvez, deixar a alguns leitores a falsa impressão de que a Cia. Vale do Rio Doce esteja, desde a sua fundação em 1942, escavando a terra mineira, ou mais precisamente, derrubando o pico do Cauê e desentranhando os seus valores minerais para um comércio que nenhum benefício venha trazer ao Estado de Minas Gerais e, particularmente à cidade de Itabira.
O minério é extraído e produz dólares, logo entregues ao governo, que deles precisa para atender às necessidades externas do Brasil. Os dólares, porém, nos são imediatamente restituídos, em cruzeiros, com ágios favoráveis, e esses cruzeiros são integralmente aplicados no funcionamento, conservação, aparelhamento e desenvolvimento da Companhia e, também em benefícios que se derramam pelas populações que habitam essa vasta e bela região que se estende das montanhas de Minas até a costa do Espirito Santo, compreendendo o opulento vale do Rio Doce.
Não podemos deixar de reconhecer a justiça da maioria das reivindicações do povo de Itabira, a favor de sua cidade, onde está situada a principal fonte de riqueza da Cia. Vale do Rio Doce, tanto mais quanto, nos últimos anos, os nossos relatórios proclamam os magníficos resultados financeiros obtidos com a exportação do melhor minério de ferro do mundo.
Entretanto, os primeiros anos de existência da Companhia foram difíceis e inteiramente dedicados à instalação de maquinaria e equipamentos para extração, tratamento, transporte e embarque de minério de ferro. Somente depois de 10 anos de funcionamento, em 1952, pôde ela apresentar saldos favoráveis em seus balanços e começar a aplicá-los no programa de assistência ao seu dedicado pessoal e de melhoramento da região onde opera.
O próprio estatuto da Companhia prevê, no art. 47, que o excedente dos lucros verificados será levado a um “Fundo de Melhoramento e Desenvolvimento da Zona do Rio Doce”. Na demonstração da conta de lucros e perdas, em 31.12.1954, aprovada na Assembleia Geral de 18 do corrente, estão consignados 90 milhões de cruzeiros para esse fundo estatutário.
Para se ter uma ideia dos investimentos da Companhia, basta assinalar que, com um capital registrado de 650 milhões de cruzeiros, o total imobilizado em 31.12.1954 é de 1 bilhão e 800 milhões de cruzeiros.
A diretoria da Companhia mesmo antes da atual campanha para mudança da sede, considerou as necessidades mais urgentes de Itabira e elaborou um plano geral de obras e melhoramentos, que virá beneficiar, indistintamente, toda a população da cidade e que será executado gradualmente, de acordo com as verbas votadas. Essas realizações, algumas das quais já em vias de execução, são as seguintes:
1 – Serviço de abastecimento de água, compreendendo reservatório, instalação para tratamento da água e canalização;
2 – Complementação da rede de esgotos da parte velha da cidade, estendendo-a à parte nova, de acordo com o plano de urbanização;
3 – Instalação de nova usina elétrica, já adquirida, destinada a prover as necessidades da Companhia, liberando em benefício do resto da população, a energia fornecida pelo Estado;
4 – Construção de maior número de casas para operários, técnicos, engenheiros e pessoal administrativo do Departamento das Minas;
5 – Construção de um hospital e um grupo escolar, aparelhados com instalações modernas e completas;
6 – Ampliação do campo de aviação, para possibilitar a descida de aviões de maior porte e a inclusão de Itabira na linha regular das Companhias particulares de aviação, partindo do Rio, Belo Horizonte ou Vitória;
7 – Entendimentos com a Western Telegraph Company para fazer comunicação de seus cabos submarinos, em Vitória, com Governador Valadares, Itabira e Belo Horizonte. A Cia. Vale do Rio Doce facilitará, em troca, o uso de sua posteação;
8 – Ligação de Itabira a Belo Horizonte, Vitória e demais setores de trabalho da Companhia, por meio de sistema de teletipo, incorporado à rede telefônica nacional;
9 – Ligação ferroviária direta de Itabira a Belo Horizonte, de acordo com o projeto do Governo Federal.
Um ponto que merece reparo é a afirmação publicada no “Correio” no dia 21, que somente 500 mil cruzeiros de impostos beneficiariam Itabira em 1953, numa renda de 514 milhões de cruzeiros. Nesse ano de 1953, realmente, a Companhia exportou 1.384.100 toneladas inglesas (de 1016 quilos) de minério no valor de Cr$ 514.297.836,50.
Mas Itabira, onde está sediada a Superintendência das Minas, com um corpo técnico de engenheiros, mecânicos, operários, etc. recebeu vultosa parcela, representada em ordenados e outros benefícios ao pessoal ali localizado, pagamento a empreiteiros de extração de minério e das obras realizadas, luz, força, impostos, donativos, casas construídas para funcionários e operários, num montante de 62 milhões de cruzeiros. Igual parcela foi empregada em Itabira no ano de 1954. Naturalmente, com a tendência do aumento de exportação de minério, de ano para ano, maiores dotações serão feitas em benefício de Itabira.
A Vale do Rio Doce atingiu sua primeira etapa de expansão em 1952, quando exportou 1.507.018 toneladas inglesas de minério e está marchando para o 2⁰. objetivo, que é exportar 3 milhões de toneladas, a fim de proporcionar ao Brasil as divisas de que tanto necessita para seu progresso. No corrente ano de 1955, pretende exportar mais de 2 milhões de toneladas.
A Companhia Vale do Rio Doce não se esquece de seus deveres para com Itabira. Cauê, Conceição e Dois Córregos serão sempre o símbolo de sua riqueza assim como do desenvolvimento e sucesso do empreendimento. É preciso, porém, colocar a questão em seus justos termos, sem esquecer a colaboração prestada por outros importantes setores da Companhia, que também reclamam a sua parte de benefícios e aos quais a Companhia deverá atender, em virtude de disposições estatutárias.
Assim é que os benefícios resultantes da venda da preciosa hematita de Itabira, devem ser distribuídos por toda a zona que possibilita o seu aproveitamento, desde as montanhas de Itabira até o porto de Vitória, compreendendo vasta zona dos estados de Minas Gerais e Espirito Santo. É imprescindível, antes de mais nada, aumentar a exportação de minério, a fim de servir o Brasil que tanto necessita de recursos para o seu progresso.
Os problemas da Cia. Vale do Rio Doce têm de ser considerados à luz de sua natureza especial, pelo fato de cobrir ela uma grande faixa territorial e de não exercer atividades especificamente em um ponto, senão ao longo de uma extensa zona de influência.
A Cia. Vale do Rio Doce já se encontra interiorizada, na proporção de 93% das suas despesas e 97% do seu pessoal. Os órgãos de operação da Companhia têm suas sedes e direção nos respectivos locais de trabalho; a Superintendência das Minas em Itabira, Estado de Minas Gerais e a Superintendência da Estrada em Vitória, Estado do Espirito Santo.
Os órgãos centrais de direção e administração estão atualmente sediados no Rio de Janeiro, junto à sede do Governo e às repartições oficiais encarregadas de autorizar, regular e fiscalizar a exportação, objetivo precípuo da Companhia. O seu caso é especial e singular, completamente diferente de outras empresas de Economia Mista, pois é a única que vende um só produto – minério de ferro – e exclusivamente para o exterior do País.
A questão da transferência da Administração Central do Rio de Janeiro para Itabira, Belo Horizonte ou outra cidade de sua zona de ação ou influência, está sendo estudada cuidadosamente e de acordo com as diretivas do Governo. O problema será resolvido levando em conta os interesses do País, da Companhia e as possibilidades das diferentes cidades naturalmente indicadas para esse fim.
Em ocasião oportuna terei a satisfação de voltar ao assunto para esclarecer aos leitores do vosso conceituado jornal, expondo as decisões tomadas a respeito e as poderosas razões que as ditaram.
Agradecendo antecipadamente a publicação da presente carta aproveito a oportunidade para apresentar os meus protestos de estima e consideração”.
– Francisco de Sá Lessa, presidente da Companhia Vale do Rio Doce
[Correio da Manhã (RJ), 27 de abril de 1955. Acervo da Biblioteca Nacional-Rio/pesq.mcs 1375]
A carta da CVRD é cínica. Mas encontrou uma pedra que brilha no meio do caminho.
Caro Carlos, você não faz ideia o quanto me alegra a publicação das crônicas sobre a Cia., que na Casa de Rui é classificada como Mineração. Gosto do Carlos Drummond defendendo os direitos de Itabira. Com o seu Encantamento a defesa dos Direitos Justos de Itabira ficou vesgo, turvo.
Agora me lembrei de uma mineira que se chama Maria Flor de Maio e sem os sobrenomes devidos. Imagine se o poeta soubesse de sua existência…..
Viva o Poeta Drummond!, que será lembrado no dia 31 de outubro com todo amor do mundo.
Essa mineradora sempre tratou Itabira com lero-lero e descaso, ficando confirmado o que CDA vinha cobrando que sobraria somente buracos e ruínas em nossa terra.