Prefeitura promete, mais uma vez, restaurar Ribeirão de São José. E negocia a manutenção do parque com a Vale o IEF
Pela terceira vez, nesta administração, a secretária municipal de Meio Ambiente, Priscila Braga Martins da Costa, anuncia que a Prefeitura irá fazer a restauração do conjunto arquitetônico (casas das máquinas e do administrador) da usina Ribeirão de São José. Ambas as edificações se encontram em estado de ruínas, após o abandono de muitas décadas.
“Vamos fazer a restauração e estamos negociando com a Vale e o IEF para que assumam a manutenção do parque”, informou a secretária na reunião do Conselho Municipal de Meio Ambiente, na quinta-feira (1).
Embora na reunião do Codema a secretária não tenha informado o valor desse restauro, em entrevista anterior a este site, Priscila disse que deve ficar em torno de R$ 1,2 milhão, recurso que deve sair do Fundo Especial de Gestão Ambiental (Fega).
Mas a Prefeitura já não planeja implantar no local o projeto original de um parque temático, voltado para a geração de energias renováveis.
“Avaliamos que o nosso município não tem como assumir mais essa despesa, é muito onerosa. Mas podemos ver se conseguimos uma parceria com a Cemig”, disse ela, acenando, ainda, com a possibilidade de retornar com o funcionamento da histórica usina elétrica.
Unidades de conservação
Parte integrante da condicionante 37, que trata das compensações florestais e ambientais pelo desmatamento necessário para a Vale extrair minério de ferro do subsolo de Itabira, para o local foi criado o Parque Natural Municipal Ribeirão de São José, compondo o mosaico de conservação, uma conquista importante obtida com a Licença de Operação Corretiva (LOC), do Distrito Ferrífero de Itabira.
A LOC foi aprovada pela Câmara de Mineração, do Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam), em maio de 2000, após um longo período de debates, que teve início com uma audiência pública realizada em fevereiro de 1998, no teatro da Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade.
Em decorrência, além do parque Ribeirão de São José, Itabira hoje conta o Parque Estadual Mata do Limoeiro, em Ipoema, Parque Natural Alto do Rio Tanque, no distrito de Senhora do Carmo, Parque Natural Municipal do Intelecto, e com a Reserva Biológica Mata do Bispo.
Dessas unidades, os parques do Limoeiro e do Intelecto são abertos ao público. Alto do Rio Tanque e Mata do Bispo cumprem função preservacionista, de conservação da biodiversidade, sendo que a unidade de Senhora do Carmo protege a nascente do rio Tanque.
São José
Já o Parque Natural Municipal Ribeirão de São José era para ser também aberto à visitação. É nele que se encontra a histórica usina hidrelétrica, inaugurada em 1915, a segunda de Minas Gerais – e que por muitos anos forneceu energia a Itabira.
Está localizado a 15 quilômetros da cidade, no sentido Nova Era, pegando uma estrada vicinal de terra depois de Oliveira Castro.
No início de 2017, os equipamentos da usina sofreram sérias avarias, talvez até irreversíveis, depois que a Prefeitura retirou a vigilância do local. (Leia aqui).
A avaria maior ocorreu em agosto daquele ano, quando assaltantes em busca de cobre detonaram turbinas e transformadores, fabricados no início do século passado pela Companhia Brasileira de Eletricidade Siemens-Schuckertwerke.
Se fosse concluído o projeto original para o parque, conforme foi acordado entre a Prefeitura e a Vale, era para ser uma unidade de conservação temática, voltada para a geração de energias renováveis (elétrica, eólica e fotovoltaica).
E se transformaria, assim, em mais um atrativo ponto turístico e laboratório para estudantes conhecerem as diferentes formas de geração de energia.
Mas, infelizmente, até aqui esse projeto ficou só no papel. E numa maquete que, por algum tempo, ficou exposta no foyer da Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade. Hoje, essa maquete deve estar “guardada” em alguma sala da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, no Parque do Intelecto.
Laboratório e parque temático ficam só em projeto
No caso de a usina voltar a funcionar, afinal os sonhos não envelhecem, transformando-se em laboratório de energias renováveis, a Prefeitura pode fazer parcerias com faculdades da cidade. Recentemente a Unifei chegou a manifestar esse interesse.
“A usina pode virar um laboratório para os estudantes observarem como era a geração de energia no início do século passado”, disse em entrevista a este site o professor João Lucas da Silva, doutor em energia renovável, que visitou o parque no início de 2017, antes de ocorrer o roubo e o vandalismo no local.
Com os equipamentos detonados, há o temor de que a usina nunca volte a funcionar. Mas um parque aberto à visitação, funcionando como mais uma atração turística, ainda é esperança dos moradores da região, como forma até mesmo de incrementar a economia dessa região rural de Itabira.
“Eu ainda sonho com esse parque aberto ao público. Disseram que lá ia ter um espaço pra gente vender artesanato e tudo que produzimos aqui”, recorda a artesã Magna Aparecida de Souza, moradora do povoado Ribeirão de São José de Baixo.
“Disseram que o parque ia gerar emprego pra gente. Mas ficou só no sonho”, conta, frustrada, a artesã. “Eu mesma fiquei pensando em ganhar um ‘troquinho’ vendendo o tricô que faço.”
O parque dispõe de uma cachoeira, com muita água, tendo sido, inclusive, o ribeirão apontado como alternativa mais viável de captação para o abastecimento na cidade.
Ainda pelo projeto original do parque, em uma área próxima da usina seria construído um centro experimental de educação ambiental, mesclando entretenimento e cultura.
Toda uma infraestrutura seria instalada no parque para o lazer, incluindo a prática de esportes como arvorismo e trekking.
Espaços de convivência ofereceriam aos visitantes oficinas, lanchonetes e loja de artesanato para a venda de produtos naturais e locais, biblioteca e um centro de pesquisa com laboratório.
Mas tudo isso, até aqui, só ficou em projeto, como exemplo de mais uma promessa não cumprida.
Mineradora diz que já cumpriu condicionante com compra de terrenos
Por seu lado, a Vale considera que já cumpriu a condicionante 37 da LOC, com a implantação de unidades de conservação nos últimos anos no município.
“A empresa adquiriu quase 4 mil hectares de área (equivalentes a cerca de 4 mil campos de futebol) como forma de compensação ambiental a projetos operacionais que foram implantados recentemente”, sustenta a mineradora.
A mineradora alega também que já efetuou os pagamentos e repasses financeiros previstos em taxas, compensações ambientais, assim como de convênios de cooperação técnica e de manutenção do parque Ribeirão de São José.
De fato, só para a sua ampliação, a empresa adquiriu cerca de 300 hectares de terras em seu entorno. Antes dessa aquisição, a área disponível era de menos de 100 hectares.
Atualmente esses imóveis estão abandonados e invadidos por animais de fazendeiros vizinhos – um criatório de carrapatos e de outros animais peçonhentos.
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