A balbúrdia mudou de lado na Câmara: vereadores batem boca e não se entendem em plenário
Depois que, por meio de uma resolução, o presidente da Câmara Municipal, Heraldo Noronha (PTB), proibiu o uso pelo público de instrumentos sonoros nas sessões ordinárias, arrefeceu-se a “balburdia” dos protestos dos rondantes da Itaurb, motivados pela anunciada intenção de demitir 160 vigias, que serão substituídos por serviço de vigilância eletrônica.
Mas Noronha não tem conseguido controlar o ímpeto de seus pares. Vereadores da oposição e da situação tiveram um tremendo bate-boca na sessão da terça-feira passada (14) – e nada indica que os ânimos exaltados, entre eles, irão diminuir.
Como numa torre de Babel, todos falaram ao mesmo tempo – e ninguém se entendeu, pois falaram línguas diferentes. Os ânimos se exaltaram em torno da convocação, não atendida, do presidente da Itaurb, Sebastião “Tãozinho” Onofre Silva.
Tãozinho havia pedido para remarcar a data de sua presença na sessão legislativa, quando deveria explicar a situação crítica da empresa municipal. Mas ele, providencialmente, tirou férias justamente na data agendada para o seu comparecimento.
Em seu lugar, a Itaurb enviou o seu diretor e presidente interino, José Claudio dos Santos. Vereadores da oposição, e outro nem tanto, como André Viana (Podemos), ameaçaram deixar o plenário em protesto.
“Isso aqui está virando uma fake news”, esbravejou Viana, que propôs manter a convocação de Tãozinho para quando ele retornar das férias. Foi derrotado na votação em plenário.
Após a longa “balburdia” entre os vereadores, finalmente o presidente interino da Itaurb pôde fazer uso da tribuna para tentar explicar a conjuntura econômica difícil que vive a empresa.
Porém, como era esperado, não conseguiu convencer parte dos vereadores, que já aprovaram a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), inclusive com votos da situação. O objetivo da CPI é apurar as circunstâncias em que ocorreu o seu endividamento.
“Deixo aqui a minha nota de repúdio ao presidente da Itaurb por não respeitar esta Casa ao não atender à convocação, como também por não ter comparecido à audiência pública que tratou da demissão dos rondantes”, registrou o vereador Weverton “Vetão” Andrade (PSB).
Demissões irreversíveis
O presidente interino da Itaurb, José Cláudio, disse não ter como evitar a demissão dos vigias, conforme já havia declarado o prefeito Ronaldo Magalhães (PTB), em entrevista coletiva.
“É uma decisão do prefeito e não há como impedir. E não temos como absorver essa mão de obra no quadro da empresa, sob pena de desvio de função. É uma decisão dolorosa, mas necessária”, classificou.
Segundo ele, a substituição dos rondantes pela vigilância eletrônica irá representar uma economia para a Prefeitura, e não para a Itaurb, de R$ 14 milhões na vigência do contrato com a empresa de vigilância eletrônica, que é de três anos.
O presidente interino da Itaurb contou que a situação crítica da empresa vem se agravando desde 2014. Ele foi cobrado pelo vereador Vetão de não fazer gestão junto a Prefeitura para receber a dívida acumulada, hoje na casa de R$ 20 milhões.
“Se a Prefeitura estivesse em dia com o pagamento dos serviços prestados pela Itaurb, ela não estaria vivendo essa crise desproporcional aos bons serviços que ao longo dos anos tem oferecido à população de Itabira”, disse o vereador, que completou: “A Itaurb até recentemente era uma empresa lucrativa e só deixou de ser por ter o governo diminuído os serviços por ela prestados.”
A empresa, neste governo, deixou de fazer a gestão do aterro sanitário, que foi terceirizado, assim como deixará de prestar os serviços de vigilância. Mantém, ainda, a coleta de resíduos na cidade. Mas deixou também de realizar obras durante esta administração, o que antes era fonte de capitalização.
O vereador Reginaldo das Mercês Santos (PTB) lembrou que a Itaurb tinha uma dívida de R$ 17 milhões a receber da Prefeitura em 2016, enquanto devia R$ 14 milhões. “Se a Prefeitura não desse o calote, ela não estaria vivendo essa crise”, afirmou. Atualmente, a dívida da empresa saltou para R$ 45 milhões.
É justamente esse salto no vermelho, em tão pouco tempo, que a CPI da Itaurb pretende investigar. Mas há quem afirme que, ao invés de provar que houve má gestão na empresa, a CPI irá demonstrar que o enxugamento de seu quadro de empregados é medida necessária para que continue existindo. A conferir.