Morre Myriam Brandão, a mais importante gestora cultural da história de Itabira

Carlos Cruz

Faleceu, nesta quarta-feira (13), Myriam de Souza Brandão, aos 89 anos. Professora aposentada de português, ela foi de longe, e por muitos anos, a maior gestora da cultura itabirana.

Admiradora e grande conhecedora da obra do poeta Carlos Drummond de Andrade, manteve por muitos anos intensa correspondência com o vate itabirano, informando-o sobre o que ocorria em sua terra natal. Era por seu intermédio que o poeta enviava livros que ele doava para a biblioteca municipal Luiz Camilo de Oliveira Netto.

Myriam Brandão nasceu em Conselheiro Lafaiete, mas fez de Itabira a sua cidade de coração.

A sua atuação cultural na Cidadezinha Qualquer teve início no governo do prefeito Virgílio Gazire (1973/81). Em 1974, por sua gestão, teve início o Festival de Inverno de Itabira, que desde então vem sendo realizado ininterruptamente sempre no mês de julho.

Outro feito histórico da professora Myriam Brandão foi a sugestão – e até mesmo insistência – para que o prefeito Jairo Magalhães Alves (1978/91) construísse o centro cultural, que se transformou no principal palco da cultura itabirana.

Nas administrações de Virgílio Gazire e Jairo Magalhães, Myriam Brandão ocupou o cargo de chefe da seção de Cultura, que era ligada ao Departamento de Educação.

Inquieta e muito culta, Myriam Brandão nunca se conformou com a ausência de uma política cultural no município. Nos festivais de inverno, buscava trazer o que de melhor se produzia no país nas áreas de teatro, música, literatura, dança.

Como boa gestora, aguardava pacientemente pelo fechamento da agenda dos festivais de Ouro Preto e Diamantina, para só depois definir a programação do Festival de Inverno de Itabira. Dizia que não se devia ter pressa, pois com a definição da agenda desses outros festivais, ela conseguia trazer os mesmos espetáculos a um custo bem menor – e que muitas vezes se apresentavam em Itabira antes das duas cidades, cujos festivais eram bancados pela Universidade Federal de Minas Gerais.

“Eles têm verbas federais, nós só contamos com os recursos do município. Vamos aguardar para trazer o melhor para Itabira pagando menos pelos mesmos espetáculos”, dizia ela, procurando acalmar os mais afoitos que desejam definir logo a programação dos festivais.

Nessa época, os espetáculos menores, principalmente de teatro, eram apresentados no teatrinho do Colégio Nossa Senhora das Dores, muito simpático, mas pequeno para comportar o crescente público do festival de inverno. E os grandes shows musicais ocorriam no ginásio poliesportivo do Valério.

Myriam Brandão nunca se conformou com o fato de Itabira até então não dispor de uma grande casa de espetáculo. Foi desse inconformismo e insistência que o prefeito Jairo Magalhães decidiu pela construção do centro cultural de Itabira, com um belo teatro, inaugurado em 1982.

Como legado ela deixa para a cultura itabirana não só esse importante espaço físico, mas também o amor à cultura e a visão de que a arte não pode ficar restrita a pequenos grupos.

A professora Myriam Brandão considerava a cultura como um meio de transformação social – e que deveria estar presente na vida das pessoas como alimento do espírito, assim como o pão nosso de cada dia.

Serviço

O seu corpo será velado nesta quinta-feira, a partir de 8h, no foyer do Centro Cultural. O sepultamento será às 15h, no cemitério do Cruzeiro

 

 

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