Os ratos já saltam do barco de Bolsonaro

Rafael Jasovich*

 Globo

Merval, ’porta-voz’ da Globo, confirma que emissora está em guerra contra Bolsonaro e que seu escândalo de corrupção é maior do que parece

Em post publicado domingo, o jornalista Merval Pereira, que é quem melhor vocaliza os interesses de João Roberto Marinho, dono da Globo, afirma que o caso do ex-assessor Fabrício Queiroz é ainda mais grave do que parece.

“Se analisado em suas diversas facetas, o caso do motorista de Flávio Bolsonaro é mais grave do que o provável desvio de parte do salário dos seus funcionários. O STF proíbe a contratação de parente de servidor comissionado. No caso, há o motorista, a mulher dele, as duas filhas, o ex-marido da mulher e a filha dele. Muitos sem prestarem qualquer serviço. E se completa com a indisfarçável cumplicidade do futuro presidente, ao contratar uma das filhas, exonerada ao mesmo tempo que o motorista, quando o escândalo veio à tona, numa provável tentativa de encobrimento”, escreveu Merval.

Trata-se de um indicação claríssima de que Globo e bolsonarismo estão em guerra. Ontem, por sinal, o astrólogo Olavo de Carvalho, guru da família Bolsonaro, recomendou guerra entre o futuro governo e a imprensa. Na coluna de Lauro Jardim, informa-se que verbas de publicidade oficial serão comandadas por um preposto de Carlos Bolsonaro, a quem Jair se refere como “meu pitbull”.

Folha

Classificado por Jair Bolsonaro como “o maior fakenews do Brasil”, o jornal Folha de S.Paulo da família Frias mandou seu primeiro aviso de guerra ao presidente eleito com a manchete desta sexta-feira:

“Relatório do Coaf envolve ex-assessor de Flávio Bolsonaro”; os Frias implementaram durante a campanha eleitoral uma política editorial de simpatia a Bolsonaro e de continuidade de sua hostilidade histórica ao PT; a relação ficou abalada com as reportagens da jornalista Patrícia Campos Mello e agora azedaram de vez.

A boa relação com o candidato de extrema-direita foi interrompida apenas pelas reportagens da jornalista Patrícia Campos Mello revelando a fraude eleitoral com o financiamento ilegal de uma milionária campanha de Whastapp patrocinada por empresas.

O antipetismo visceral do jornal e o acolhimento da “alternativa Bolsonaro” chegou a ponto de os Frias proibirem seus jornalistas de grafarem que Bolsonaro é de extrema-direita. Mas o caldo entornou com as reportagens de Mello, o que abriu uma crise na relação entre Bolsonaro e o jornal, a ponto do então candidato fazer um ataque público agressivo ao jornal no último comício de sua campanha, reafirmado em uma entrevista ao Jornal Nacional logo depois de sua vitória.

Agora vem o troco dos Frias que avisam: pode haver guerra. A reportagem é um resumo daquela publicada pelo jornalista Fausto Macedo em O Estado de S.Paulo. O texto da Folha de S.Paulo reproduz a reportagem do Estado de S.Paulo.

“Um relatório produzido pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) em desdobramento da Operação Lava Jato no Rio indica movimentação financeira atípica de um ex-assessor do deputado estadual Flávio Bolsonaro (PSL), que é filho de Jair Bolsonaro e senador eleito.

O ex-assessor parlamentar e policial militar Fabrício José Carlos de Queiroz movimentou R$ 1,2 milhão entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017, de acordo com o relatório do órgão.

A reportagem do jornal afirma que uma das transações de Queiroz citadas no relatório do Coaf é um cheque de R$ 24 mil destinado à futura primeira-dama, Michelle Bolsonaro”.

Ao final, a reportagem registra a posição de Flávio Bolsonaro e a falta de resposta do PM Queiroz:

“Procurado, Flávio Bolsonaro, por meio de seus assessores, defendeu o ex-auxiliar. ‘Fabricio de Queiroz trabalha há mais de dez anos como segurança e motorista do deputado Flávio Bolsonaro, com quem construiu uma relação de amizade e confiança. O deputado não possui informação de qualquer fato que desabone sua conduta. No dia 16 de outubro de 2018, a pedido, ele foi exonerado do gabinete para tratar de sua passagem para a inatividade.’

Jânio e Collor

Jânio Quadros ganhou a eleição com uma vassourinha que seria usada para varrer a bandalheira. Era um moralista sem moral que desafiou o sistema e derrotou os grandes partidos da época.

Fernando Collor saiu de Alagoas para caçar os marajás e combater a corrupção. Seu programa de governo, aliás, era muito parecido com o de Bolsonaro. Privatizações, diminuição do Estado, fim da estabilidade do servidor público, sanha moralista e criminalização dos movimentos sociais e sindical.

Collor também derrotou os grandes partidos e favoritos na primeira eleição pós-democratização. Na primeira eleição pós fim de um regime militar motivado pela renúncia de Jânio Quadros.

O fato é que ambos foram substituídos por seus vices em curto espaço de tempo e derrotados pelo discurso que os levou ao poder.

Os vices de Jânio e de Collor eram muito melhores do que eles, João Goulart e Itamar Franco. O primeiro acabou sofrendo um golpe militar. O segundo, de alguma maneira, uma rasteira civil.

Itamar apoiou FHC para a sua sucessão, mas este o traiu logo no início do mandato implementando uma agenda neoliberal, que Itamar, convicto nacionalista, era contrário.

O que impressiona neste momento é que Jair Bolsonaro, que se elegeu com a mesma agenda e narrativas de Jânio e Collor, vive antes mesmo de sua posse um desgaste tão grande que sequer terá a famosa lua de mel, que quando curta, dura até a semana santa.

Caneladas

O bate-cabeças no PSL, partido do governo, as caneladas do general Mourão no presidente e em seus filhos, a dificuldade em criar uma base para eleger os presidentes da Câmara e do Senado e a nomeação de uma série de ministros inexpressivos e caricatos, indicam que Bolsonaro começa seu mandato já com cheiro de mofo.

Em começo de mandato, governantes costumam ter paz e capital político para se impor. Mas isso não está acontecendo com o futuro presidente. Ao contrário, ele está completamente perdido e já começa a ser visto como um estorvo a ser retirado do cargo.

A questão que vai se colocar em breve se o caso do “esquema laranja” de Flávio Bolsonaro não vier a ser solucionado e se, por exemplo, o assessor Queiroz vier a abrir a boca e dizer que a grana que depositou na conta de Michelle não tem nada a ver com dívida com Bolsonaro, é que se iniciará a fase “como se livrar do presidente”.

Isso porque o capital financeiro e os agentes políticos não estarão dispostos a viver mais quatro anos de crise político-econômica, que será ainda maior com a perseguição do Estado, via Moro, a todos aqueles que incomodarem.

Quando isso acontecer, Mourão, que já está se mostrando bem assanhado para o cargo, estará sambando em articulações para armar um impeachment rápido e indolor contra o seu cabeça de chapa.

O Brasil parece estar prestes a mais uma interrupção de governo por impeachment ou golpe. A forma como a Globo está cobrindo o caso do “esquema laranja”, as entrevistas de Mourão e o jeitão como estão se movendo as raposas políticas mais astutas é que apontam para isso.

Bolsonaro, o jacaré banguela, pode estar prestes a se tornar bolsa. Nunca antes da posse um governo em primeira eleição esteve tão desgastado. Nunca antes na história deste país. Dilma e FHC viveram algo semelhante, mas nas suas reeleições.

*Rafael Jasovich é jornalista e advogado, membro da Anistia Internacional

 

Posts Similares

3 Comentários

  1. Seus fascistas! O que vocês irão ganhar combatendo o futuro presidente da república? Eu exijo o fim destes jornalecos contrários ao capitalismo, cheios de fake news e oposição!

    1. Pedro, vc pode aproveitar o periodo para ler e estudar, descobrir o que é fascismo, democracia, socialismo , vai ficar fascinado e concluír que foi um verdadeiro idiota ao acreditar no tenentinho

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *