Trabalhadores negociam acordo coletivo com a Vale sob protesto e com medo de perder direitos historicamente conquistados

Não foi cordial o início da primeira rodada de negociações entre a nova diretoria do Sindicato Metabase de Itabira e a empresa Vale, aberta nessa segunda-feira (22), em Belo Horizonte – e que se encerra na quinta-feira (25) para definir as bases para o acordo coletivo, com data-base em 30 de novembro.

“Fomos desrespeitados, tanto que deixamos a mesa de negociações”, contou o vereador sindicalista André Viana (Podemos), presidente do Metabase de Itabira e Região, na sessão dessa terça-feira (23), na Câmara Municipal.

Em entrevista coletiva, ele disse que das 70 propostas apresentadas pela categoria, só uma foi respondida positivamente pela empregadora, e que já está em vigor valendo para o pagamento dos salários no primeiro dia útil de cada mês.

André Viana, presidente do Metabase. Na foto em destaque, assembleia de trabalhadores que aprovou greve em abril de 1989 (Foto: Eduardo Cruz)

“Só na quinta-feira a Vale pretende nos apresentar uma contraproposta à nossa pauta de reivindicação”, lamenta o sindicalista. “A receptividade foi seca, desrespeitosa. A empresa chegou ao despautério de negar almoço a dois companheiros. Recusamos o almoço, não somos ‘pelegos’.”

Segundo André Viana, o sindicato representa uma categoria que, com o seu trabalho, transformou a Vale em uma das maiores mineradoras do mundo.

“Devemos ser tratados pela Vale com o mesmo respeito que nos trata a Anglo American, que, mesmo estando com as suas atividades minerárias paralisadas há sete meses em Conceição do Mato Dentro, está oferecendo ganho real para o trabalhador.”

De acordo com o presidente do Metabase, além de aumentar o piso salarial, a Anglo ofereceu proposta de reajuste de 5% no cartão alimentação, 5% no auxílio creche. “A Anglo mantém piso salarial maior que o da Vale”, compara.

Reivindicações

Na pauta de reivindicações, os mineiros de Itabira reivindicam reposição salarial de 6,5%, uma vez que a categoria não teve reajuste salarial em 2015, ano em que ocorreu o rompimento da barragem da Samarco em Mariana, da qual a Vale é sócia juntamente com a anglo-australiana BHP Billinton.

Outra reivindicação econômicas, aprovada em assembleia, é de reposição salarial de 10,6%, referente às perdas salariais desde 2013. A pauta inclui ainda o pagamento de produtividade e Participação nos Lucros e Resultados (PLR) equivalente a quatro salários base de cada empregado.

Além das reivindicações econômicas e sociais, a categoria reivindica da empresa que não se aplique a reforma trabalhista do governo Temer, que retira direitos dos trabalhadores. “A empresa já respondeu que não irá aplicar a reforma trabalhista em sua íntegra e que também não irá mexer no plano de saúde neste ano”, pondera o sindicalista.

Mas André Viana teme que as novas regras para as relações de trabalho devem passar a vigorar nos próximos anos. “É uma reforma que achincalha com o trabalhador”, considera.

Como exemplo, ele cita que é intenção da Vale terceirizar atividades fins, o que antes era proibido. “Com a nova legislação a empresa pode colocar um caminhão que vale US$ 5 milhões na mão de uma empreiteira que paga pouco mais de R$ 900 ao operador. Se isso ocorrer, será uma irresponsabilidade”, classifica.

Outra preocupação é com um provável fim do turno de revezamento e o fim do pagamento das horas in intinere, que é o tempo gasto pelo trabalhador para se deslocar de sua residência até o local de trabalho.

Pela nova legislação, se o empregador oferece transporte, como é o caso da Vale, não é obrigado a pagar pelo tempo que o empregado gasta nesse deslocamento. Antes da desregulamentação da CLT, esse acréscimo era incorporado ao salário como horas extras.

Com a desmobilização da categoria, o sindicalista considera que será difícil assegurar a manutenção dessas conquistas. “O trabalhador da Vale está anestesiado, principalmente os mais jovens.”

Ele adianta que o sindicato irá desencadear uma campanha de filiação ao sindicato – e também de conscientização para que o trabalhador não perca mais direitos tão duramente conquistados. “Essa será uma das campanhas mais difíceis que teremos pela frente”, prevê o vereador sindicalista.

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