Confissão
Marina Procópio de Oliveira*
Nunca fui Amada.
O filme, jamais visto,
obsediava minha mente,
fazendo-me crer,
tonta,
na promessa de amor,
nunca cumprida.
Em vão, entreguei ouro,
incenso e mirra,
e lambi o verme
e curei a ferida,
buscando ver o amor,
concreto,
para ser dele objeto.
Aos quatro ventos
escutei sobre a solidão
dos homens;
ainda assim de mim me desprendi
e deixei apenas o eco.
Ninguém nunca me amou.
A não ser, talvez,
aquele cão cego,
que gania,
cujos olhos brancos, na morte,
procuravam por mim,
escondida sobre o catre,
mãos nos ouvidos,
o coração estatelado
de dor.
*Marina Procópio de Oliveira é poeta e escritora itabirana. Mora em Belo Horizonte