Restauração arquitetônica da usina Ribeirão de São José deve ser licitada ainda neste ano, acredita secretária de Meio Ambiente

A restauração da Casa das Máquinas, e também do administrador, ambas na abandonada usina Ribeirão de São José, já foi prometida para ter início no ano passado. A previsão agora é licitar o projeto de restauro ainda neste ano, informa a secretária municipal de Meio Ambiente, Priscila Martins da Costa.

Placa sinalizando o parque permanece na estrada (Fotos: Carlos Cruz)

A usina fica a cerca de 15 quilômetros do centro da cidade, na região do Engenho, acesso pela MGC-120, rodovia que liga Itabira a Nova Era.

Com acesso à esquerda, a estrada vicinal é de chão batido. Até recentemente se encontrava em péssimo estado de conservação – e ainda deve estar nessas condições.

Priscila quer retornar o projeto do parque

A reforma desse patrimônio histórico e arquitetônico é urgente, antes que se torne mais uma fotografia na parede.

Sem vigilância desde o início da atual administração, tem sofrido com vandalismo e furto de valiosos equipamentos (leia mais aqui).

Segundo informa a secretária de Meio Ambiente, só para a reforma já existem recursos assegurados da ordem de R$ 1,2 milhão.

Priscila assegura que não são recursos provenientes do Fundo Especial de Meio Ambiente (Fega), diferentemente do que foi divulgado em reunião do Conselho Municipal de Meio Ambiente (Codema), no ano passado.

“São recursos provenientes de várias compensações ambientais, dentre elas a de uma rede de transmissão de energia elétrica que irá passar por lá em direção a Antônio Dias”, enfatiza.

Condicionante da Vale

A secretária admite que a restauração deveria ter ocorrido como parte da condicionante que trata da implantação de unidades de conservação, compromisso da empresa Vale no âmbito da Licença de Operação Corretiva (LOC) do Distrito Ferrífero de Itabira.

Ruínas da casa do administrador. No destaque, foto da usina, também degradada

“A condicionante cita a reforma e a implantação do parque, mas não foi cumprida. Vamos executar a reforma para não perder esse patrimônio. Depois vamos ver como a Vale pode participar com outras compensações na implantação do parque.”

Já a mineradora sustenta que já cumpriu a sua parte, tendo faltado à Prefeitura dar prosseguimento ao projeto. “A Vale adquiriu em Itabira quase 4 mil hectares de área (equivalentes a cerca de 4 mil campos de futebol) como forma de compensação ambiental a projetos operacionais que foram implantados recentemente”, defende-se a empresa, por meio de nota encaminhada a este site.

Especificamente para a implantação do parque Ribeirão de São José, a empresa adquiriu cerca de 300 hectares de terras em seu entorno. Antes, a área disponível era de menos de 100 hectares.

Na entrada da usina, a data da inauguração

Infelizmente, esses imóveis rurais hoje não passam de uma extensa propriedade improdutiva – uma área de pastagem invadida por gados de fazendeiros vizinhos e criatório de carrapatos.

A empresa informa também que efetuou os repasses financeiros previstos em taxas, compensações ambientais, convênios de cooperação técnica e de manutenção do parque.

Projeto de um parque temático continua valendo e precisa ser implantado já

Projeto do parque prevê centro de convivência, com venda de artesanato produzido na região

Priscila Martins da Costa conta que a ideia é retornar com a proposta de se instalar no local um parque temático de geração de energias alternativas.

“Queremos que se torne sustentável, que atraia público, que não seja apenas mais um prédio reformado”, propõe.

Para isso, ela diz estar mantendo contato com o Instituto Inhotim, em Brumadinho, referência mundial em unidade de conservação, um badalado espaço ecológico e de arte contemporânea.

“Estamos fazendo os primeiros contatos para trocar ideias e informações.” Ela diz ainda que irá se reunir com técnicos e responsáveis pela administração do Parque Estadual de Ibitipoca, na Zona da Mata, nos municípios de Lima Duarte e Santa Rita do Ibitipoca.

Turbina em perfeito estado de conservação, antes do vandalismo

“Não queremos só reformar, mas viabilizar um projeto que atraia público e parcerias para assegurar a sua sustentabilidade.”

A proposta continua sendo de um parque que gere não só energias alternativas, mas também recursos para o seu custeio e manutenção. “Que não seja um parque que só dê despesas.”

Como parque temático, além do atrativo histórico e turístico, pode ser transformado em um laboratório de geração de energias alternativas – um local onde estudantes de todos os níveis poderão conhecer também como se gerava luz elétrica no início do século passado.

Outros atrativos 

Para viabilizar a sustentabilidade do parque, basta executar o que foi inicialmente previsto, com algumas adaptações e melhorias. Atrás da usina, uma cachoeira compõe o bucólico cenário. O ribeirão precisa ser também saneado, uma vez que recebe esgoto da comunidade vizinha. É apontado também com uma das alternativas para o abastecimento de água em Itabira.

Geração de energia eólica, fotovoltaica e retorno da usina: parque temático

O projeto original valoriza o lazer e a contemplação da natureza, em uma região onde abunda a vegetação da Mata Atlântica.

Ao lado se encontra a Reserva Biológica Mata do Bispo, adquirida da Diocese pela Vale e repassada ao município para preservação.

O projeto prevê espaços para a prática de esportes radicais, como arvorismo e trekking.

Uma área de convivência ofereceria aos visitantes oficinas e palestras, com lanchonetes e loja de artesanato.

Com o parque aberto a visitas, pode ser incentivado o microempreendedorismo, a produção artesanal e a agropecuária no seu entorno. Haveria, ainda, uma biblioteca e um centro de pesquisa com laboratório.

Por enquanto, tudo isso é só projeto que não saiu do papel e de uma maquete que deve estar guardada em algum escaninho do Centro de Educação Ambiental do Parque Natural Municipal do Intelecto.

Que o projeto do Parque Natural Municipal Ribeirão de São José vire realidade. E deixe de ser mais uma derrota incomparável.

Já não vai ser fácil fazer a usina funcionar novamente

Cachoeira é outra atração natural

Para a recuperação do maquinário ainda não existem recursos disponíveis. Com a depredação e furtos ocorridos recentemente, vai ser preciso buscar parcerias para tornar viável o reparo dos equipamentos.

Uma das ideias discutidas no início do detalhamento do projeto conceitual do parque era buscar parceria com a fabricante dos equipamentos, a alemã Siemens Schuckertwerke. Para convencer a empresa da importância histórica dessa parceria, argumentos não faltam.

O início do funcionamento da usina data de 1915 – foi uma das primeiras hidrelétricas instaladas em Minas Gerais, com capacidade de 22HP. Era movida por uma turbina Pelton de 53 cavalos de alta pressão.

Mais equipamentos deteriorados por falta de vigilância

Com a usina em funcionamento, a cidade “passou a ser iluminada por mais de 250 focos de 50 velas, 200 deles instalados em postes tubulares de aço Manesmann”. Gerou energia até 1965.

Na cidade, quase no adro da Catedral, funcionava o centro de distribuição, edificado com a mesma arquitetura de inspiração alemã da Casa de Máquinas da usina.

Os recursos necessários para a sua instalação foram captados em 1912, junto ao Banco Hipotecário de Belo Horizonte – um empréstimo de 30:000$00 (trinta mil réis). Incluiu também a implantação de rede de água e esgoto – e da iluminação pública na cidade.

Parceria com a Unifei

Equipamentos danificados: recuperação é difícil, mas não impossível

No início do ano passado, antes do furto de equipamentos da usina, professores da Unifei visitaram o local com funcionários da Prefeitura.

Foram até lá para ver se havia possibilidade de transformar a usina em uma extensão do laboratório de elétrica do campus da universidade.

“Estamos vendo a viabilidade de uma parceria futura com a Prefeitura”, disse na ocasião o professor João Lucas da Silva a este site.

Ele visitou o local acompanhado do professor Clodualdo Vinício de Souza, ambos do grupo de pesquisa de Controle e Conversão de Energia, do campus local.

“O potencial do lugar é grande, turístico e cultural. Além disso, pode servir como extensão universitária”, vislumbrou o professor João Lucas.

Depois do vandalismo ocorrido no local, ele já não sabe se será possível colocar a usina para funcionar novamente.

 

 

 

 

 

 

 

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3 Comentários

  1. Noves foras, o duro foi assistir a prefeitura retirando o dinheiro do Projeto da Água para restaurar ou refazer a Usina de São José e deixar a mineradora quietinha no seu lugar não cobrando a obrigação dela com a LOC.
    Como dizia meu centenário pai, aqui em Itabira só tem japonês, pois ninguém envermelha e só fica amarelo…

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