O destino mineral de Itabira, por José Miguel Wisnik, é leitura obrigatória para conhecer a cidade do poeta

Genin Guerra

No momento em que esquenta o debate sobre a exaustão da mineração em Itabira, a editora Companhia Das Letras lançou, no dia 28 de agosto, em Belo Horizonte, o livro Maquinação do Mundo – Drummond e a Mineração, de José Miguel Wisnik.

Ilustrações: Genin Guerra

Para quem não conhece, Wisnik é músico, compositor, ensaísta e professor aposentado de Literatura Brasileira da Universidade de São Paulo. Estudou piano clássico por muitos anos e tem realizado várias séries de “aula-show”. Fez quatro trilhas sonoras para o grupo de dança Corpo, de Belo Horizonte, sendo algumas em parceria com Tom Zé e Caetano Veloso.

Num ameno e ensolarado sábado, uma fila extensa se formou em frente à livraria Scriptum, na Savassi. Zé Miguel, pacientemente, autografou e conversou com cada um.

Identifiquei-me como um cartunista itabirano que teve a sorte de fazer um jornal em Itabira, que teve Drummond como colaborador. Wisnik logo perguntou-me qual era o jornal. Quando respondi que era O Cometa Itabirano, ele, para minha surpresa, disse que não só o conhecia, mas que também o jornal foi uma das suas fontes de pesquisa para escrever a publicação.

Circunstancialmente Wisnik esteve em Itabira em 2014. A viagem e a familiaridade com a obra de Drummond tiveram efeitos inesperados que desembocaram neste livro e o levaram a uma releitura da obra do Poeta. Ver in loco os resultados da atividade mineradora na terra do Poeta foi crucial.

“ …A pequena povoação de origem colonial incrustada entre imensas jazidas de ferro. Essa condição, que pôs desde o início do século XX no alvo do interesse econômico internacional, fez da cidade o epicentro silencioso de uma acirrada disputa pelo controle da exploração ferrífera, envolvendo desde a miúda realidade local até o cenário político nacional e o mercado mundial de minério…” (trecho da apresentação do livro. Leia mais aqui).

Genin com o autor José Miguel Wisnik (Foto: Altamir Barros)

O livro desnuda o impacto da máquina mineradora na avassaladora transformação da geologia e da ecologia sociocultural desse território material e afetivo, não só de Carlos Drummond, mas de todos os brasileiros.

“ … Tanto nos seus aspectos textuais como nos contextuais, na poesia, na crônica ou no debate jornalístico, a obra de Carlos Drummond de Andrade tocou pioneiramente numa ferida que está aberta hoje: a degradação do ambiente e da vida nas áreas afetadas pela mineração cega às suas próprias consequências.

Wisnik e Altamir Barros (Foto: Genin)

Esses sinais gritam na catástrofe de Mariana, gemem abafados em tantos lugares do território de Minas Gerais, alguns deles sujeitos a uma nova tragédia comparável, entranham-se como pó corrosivo nas estátuas de Aleijadinho em Congonhas do Campo, escondem-se por trás da Serra do Curral, postada hoje como um cenário de biombos minerais no Horizonte de Belo Horizonte. No momento em que escrevo, o vazamento de rejeitos da barragem de processamento de bauxita da empresa Hydro Alunorte no rio Pará, em Barcarena, na região metropolitana de Belém, expõe o potencial destrutivo da ação mineradora sobre a Bacia Amazônica.” (trecho  da apresentação do livro)

Portanto, é um livro de leitura obrigatória para quem quer entender o “destino mineral” Itabirano (e por quê não dizer: brasileiro) pela análise de Zé Miguel Wisnik, um poeta ensaísta de mão-cheia, fundada na obra do nosso Poeta maior.

SERVIÇO

A maquinação do Mundo – Drummond e a Mineração

Editora: Companhia das Letras

Preço: R$ 64,90

 

 

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