Investimentos municipais ainda não impulsionam educação em Itabira e Ideb segue estagnado
Escola Municipal Marina Bragança de Mendonça, primeira escola em tempo integral em Itabira
Foto: Carlos Cruz
Apesar dos investimentos dos últimos anos, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de Itabira permanece estagnado, sem avanço ou recuo significativo.
Os dados mais recentes, de 2023, mostram que os anos iniciais do ensino fundamental registraram 5,8, os anos finais 4,8 e o ensino médio 4,2, patamares inalterados desde 2021.
A meta projetada para os anos finais era 5,6, mas não foi atingida. Essa estabilidade nos indicadores levanta questionamentos sobre a eficácia das políticas educacionais e dos investimentos realizados.
Os dados evidenciam que apesar de os investimentos cumprirem os preceitos constitucionais de aplicação de 25% do orçamento municipal na educação, não têm gerado as mudanças desejadas na aprendizagem.
Investimentos em infraestrutura

Nos últimos anos, segundo informações da Secretaria Municipal de Educação (SME), a Prefeitura de Itabira destinou R$ 749,4 mil para melhorias na infraestrutura escolar, incluindo reformas e manutenção das unidades municipais.
Tudo isso, além da aquisição de Smart TVs, microcomputadores, notebooks, materiais de laboratório de ciências, livros didáticos e kits de robótica.
Entretanto, apesar dos esforços, os números indicam que os investimentos estruturais não se traduziram, ainda, em avanços significativos no aprendizado de Português e Matemática.
Monitoramento e desafios pedagógicos
O município conta com o Sistema de Avaliação das Escolas Municipais de Itabira (SAEMI), criado em 2009, que cruza dados das avaliações estaduais e federais para identificar pontos de melhoria.
“Itabira é uma das poucas cidades do país que conta com uma avaliação própria”, diz a SME.
Porém, a estagnação do Ideb sugere que esse acompanhamento não tem gerado as intervenções necessárias para impulsionar os resultados.
Dados do QEdu revelam que o indicador de aprendizado dos alunos em Português e Matemática ficou em 5,37, enquanto o indicador de fluxo escolar, que mede a taxa de aprovação, foi de 0,89, indicando que 11% dos alunos foram reprovados.

Capacitação docente e estratégias pedagógicas
A SME reforça que a formação continuada dos professores da rede pública municipal é uma prioridade, com programas de capacitação embasados nos resultados dos estudantes e nas demandas dos docentes.
Para aprimorar o ensino de Português e Matemática, foram implementados laboratórios de matemática e a pedagogia de projetos, promovendo maior interdisciplinaridade.
Mesmo assim, os dados mostram que há dificuldades na implementação de metodologias eficazes que impactem diretamente o aprendizado.
Evasão escolar e distorção idade-série
Para combater a evasão escolar, a SME intensificou o monitoramento da frequência dos alunos, criando um sistema de premiação para turmas que atingem 100% de presença.
Além disso, há um acompanhamento individualizado para aqueles em risco de abandonar os estudos.
Observa-se, entretanto, que a estagnação dos índices educacionais reforça que essas iniciativas podem não estar sendo suficientes para reduzir a distorção idade-série e melhorar as taxas de aprovação.
Desigualdade entre redes pública e privada
A comparação entre as redes pública e privada revela disparidades significativas e isso, evidentemente, não é exclusividade do município.
Enquanto as escolas privadas registraram 6,3 nos anos iniciais e 5,2 nos anos finais do ensino fundamental, a rede pública municipal ficou em 5,5 e 4,3, respectivamente.
Essa diferença reflete desigualdades socioeconômicas que afetam diretamente o desempenho escolar, evidenciando a necessidade de investimentos pedagógicos além da infraestrutura.
“A comparação entre a rede pública e a rede privada, do ponto de vista dos resultados, não é adequada”, sustenta a SME, em retorno a este portal de notícias.
“Sabe-se que não só em Itabira, mas em todo país, os estudantes dessas redes comportam perfis muito diferentes, que estão ligados diretamente às desigualdades historicamente constituídas e constituintes de nossa gente.”

Comparação com outras cidades
Apesar de contar com um dos maiores orçamentos municipais da região, Itabira obteve desempenhos inferiores no Ideb em relação a municípios menores e com arrecadação inferior: Santa Bárbara alcançou 6,4 e João Monlevade registrou 6,6.
Isso enquanto São Gonçalo do Rio Abaixo, única cidade da região com orçamento maior devido à uma maior arrecadação com os royalties do minério, e com número de alunos matriculados menor, obteve 7,2.
Revisão das políticas educacionais
Os dados reforçam a necessidade de uma revisão profunda das políticas educacionais, garantindo que os investimentos avancem além da infraestrutura e impactem diretamente a aprendizagem dos alunos.
É essencial que o município reavalie metodologias de ensino, especialmente em Português e Matemática, amplie a capacitação docente alinhada às dificuldades identificadas.
Tudo isso, além de aprimorar o acompanhamento dos alunos para reduzir reprovação e evasão escolar, como meio também de diminuir as disparidades entre redes pública e privada com um planejamento pedagógico mais consistente.
O desafio continua: não basta investir somas vultosas, mas também garantir que os recursos gerem avanço real no aprendizado dos estudantes. É o que se espera, sempre.
Fonte: QEdu: Dados Educacionais de Itabira:
Leia a integra dos questionamentos e respostas da Secretaria Municipal de Educação
Sobre os investimentos realizados
Quais foram os critérios utilizados pela Prefeitura de Itabira para investir em espaços físicos e laboratórios? Esses investimentos foram acompanhados de iniciativas pedagógicas para melhorar o aprendizado dos estudantes? Qual foi o montante investido nos últimos anos?
Considerando espaços físicos enquanto os locais onde propriamente acontecem as aprendizagens, nos referimos aos ambientes que compõem a infraestrutura das unidades escolares. Nesse sentido, os espaços precisam apresentar boas condições de conservação e estruturação de forma a favorecer o trabalho pedagógico docente.
Nesse aspecto é que se apresentam as principais razões motivadoras para os investimentos realizados pela Prefeitura Municipal em relação à Educação. Ou seja, em 2022, após o longo período de suspensão das aulas presenciais, verificou-se que a infraestrutura das escolas necessitava de reformas, na maior parte das unidades educacionais da rede municipal.
Nesse sentido, foram realizados investimentos que contemplaram reformas, com vistas à uma melhoria da estrutura das unidades ao mesmo tempo em que preocupou-se em equipar as escolas da melhor maneira possível.
Ao longo do governo passado, visando, do ponto de vista pedagógico, aprimorar e dar mais qualidade aos processos de ensino-aprendizagem, foram adquiridos aparelhos de Smart TV, microcomputadores, notebooks, equipamentos de laboratório de ciências, livros didáticos, material de robótica, além de outras tantas iniciativas com vistas ao aprimoramento do ensino na Rede Municipal.
Essas iniciativas de investimento na Educação do município somaram R$749.466.032,29.
Existe algum plano de monitoramento dos resultados dos investimentos, incluindo impacto na qualidade do ensino e no desempenho dos alunos? Quais?
Além dos resultados das avaliações externas, oriundas tanto do âmbito estadual quanto federal, Itabira é uma das poucas cidades do país que conta com uma avaliação própria.
Trata-se do SAEMI (Sistema de Avaliação das Escolas Municipais de Itabira), por meio dele, em articulação com outros resultados de avaliações externas a Secretaria Municipal de Educação realiza monitoramento das aprendizagens. Todo esse trabalho é coordenado e acompanhando por uma equipe de técnicos, desde 2009.
Além disso, os técnicos realizam, o acompanhamento pedagógico dos resultados de cada unidade escolar. Nesse aspecto, os segmentos de ensino são acompanhados por equipes específicas na SME.
Além dos segmentos a modalidade de Educação em Tempo Integral conta com uma coordenação que acompanha o desenvolvimento do projeto em nossas escolas e, ano a ano, tem atuado na ampliação da proposta, mantendo a qualidade que tem-se conseguido até então.
Sobre capacitação e metodologias
Há programas de formação continuada para professores da rede pública municipal? Qual o foco desses programas e como têm impactado a prática pedagógica nas escolas?
A formação continuada está presente na Rede Municipal de Itabira, ofertada tanto pelas equipes da SME, quanto por especialistas em Educação que atuam nas unidades escolares. Em ambos os casos, as propostas de formação partem da análise dos resultados alcançados com os estudantes, bem como, das necessidades apresentadas pelos docentes.
Essa demanda é percebida, analisada e refletida a partir do trabalho realizado pelas equipes da SME, juntos às unidade escolares no âmbito do acompanhamento pedagógico.
Essas formações têm impactado muito positivamente a prática docente na Rede Municipal, sobretudo, considerando as mudanças no perfil dos estudantes, verificadas ao longo dos últimos anos, principalmente em relação ao acompanhamento familiar e sua parceria, necessária com as unidades escolares.
Quais metodologias estão sendo aplicadas para melhorar o aprendizado em português e matemática, áreas centrais avaliadas pelo Ideb? Existe alguma consultoria especializada? Qual? Valor investido?
Tem-se investido na proposição da pedagogia de projetos visando a interdisciplinaridade do componente curricular de língua portuguesa e outras áreas de conhecimento, além de concentrar esforços na alfabetização no tempo certo com a centralidade do texto, em seus vários suportes nesse universo da área de linguagens.
Em matemática, para além de formações que visam apresentar com componente curricular de maneira mais lúdica e interessante, foi criado em nossas escolas o laboratório de matemática, cujo propósito é colaborar com as aulas que já conhecemos, porém, praticá-las em formato de oficinas procurando dar sentido e melhor entendimento aos usos e aplicabilidades da matemática no quotidiano.
As consultorias contratadas, não visaram os componentes curriculares de Língua Portuguesa e Matemática. Em função de demandas específicas da Rede Municipal elas aconteceram em forma de assessoria para elaboração do Plano Municipal de Educação Infantil, Elaboração do Projeto Político Pedagógico da Rede Municipal, elaboração do Currículo de Itabira, bem como curso de capacitação para mediação de conflitos, com a utilização de linguagem não violenta e a implementação de práticas de justiça restaurativa em comunidades mais vulneráveis. Ao todo, foram investidos R$1.788.569,56.
Sobre o fluxo escolar e distorção idade-série
Quais medidas têm sido adotadas para reduzir a evasão escolar e melhorar a taxa de aprovação?
Foram aprimorados os instrumentos de gestão já disponíveis. Nesse sentido, existe um monitoramento e principalmente um mapeamento dessas situações, que, quando verificadas mobilizam os professores que atuam na coordenação escolar.
Além disso, há pelo menos três anos, intensificou-se o acompanhamento da frequência escolar, com premiação e destaque para turmas que apresentam 100% de frequência a cada etapa do ensino.
Essas ações somadas ao acompanhamento realizado pela SME em cada unidade de ensino tem contribuído significativamente para a redução da distorção idade série bem como da evasão escolar e melhoria nas taxas de aprovação.
Comparação e análise dos resultados: -Como a Secretaria avalia os resultados da rede pública em comparação com a rede privada? Há iniciativas para reduzir as desigualdades entre as redes?
A comparação entre a rede pública e a rede privada, do ponto de vista dos resultados, não é adequada.. Sabe-se que não só em Itabira, mas em todo país, os estudantes dessas redes comportam perfis muito diferentes. Os mesmos estão ligados diretamente às desigualdades historicamente constituídas e constituintes de nossa gente.
Apenas para simplificar, convém lembrar que a população negra foi marginalizada em nosso país, recebendo menores salários, constituindo maioria nas periferias, nos cárceres, bem como engrossando as fileiras daqueles que vivem em condições de miséria.
A maior parte da população de nossa cidade é composta por pessoas negras, consequentemente os estudantes da rede pública também.
Ou seja, nesse tempo em que vivemos, no qual descobrem-se e se diagnosticam um sem número de transtornos, a maioria dos estudantes das escolas públicas não possuem condições de ter, no tempo certo, os atendimentos e suportes necessários, como a maior parte dos estudantes das escolas particulares possuem.
Como explicar a disparidade entre as redes pública e privada? São decorrentes de desigualdades sociais e estruturais que impactam diretamente a qualidade do ensino? Quais são e como superá-las?
Já respondido na questão Observação: a superação das desigualdades carece de políticas públicas de âmbito federal com engajamento de toda sociedade.
Os resultados do Ideb estão sendo usados como base para redefinir metas e estratégias educacionais? Qual a perspectiva de evolução para os próximos anos?
Sim, as unidade educacionais receberam orientação para visarem atingir como meta os índices projetados para o pós pandemia. Todas elas foram orientadas e recebem acompanhamento da Secretaria Municipal de Educação na composição de Plano de metas e ações.
Sobre a participação da comunidade
A Secretaria tem iniciativas que promovem a participação de pais, alunos e professores na elaboração e implementação de projetos pedagógicos? Como isso ocorre?
Existem espaços já programados em calendário escolar para realização de reuniões e encontro com o pais. Além disso, por meio do programa Conexão Jovem são realizadas ações de escuta dos estudantes, sobretudo, considerando situações que envolvem a temática da violência e relações interpessoais.
Os professores participam, semanalmente, de reuniões, nas quais são figuras centrais nos planejamentos e projetos propostos dentro das unidades escolares, bem como, em períodos específicos, ao longo do ano atuam ativamente na construção e adequação do Projeto Político Pedagógico e do Plano de Ação de cada escola.
Para além dessa organização, considerando a organização das unidades escolares a partir do princípio da gestão democrática, as vias de comunicação tanto com as diretoras escolares quanto com a SME estão sempre disponíveis para agendamento, escutas e reuniões.
Há algum canal de diálogo ativo entre escolas e a comunidade para identificar e atender às demandas específicas? Quais são as dificuldades? Falta tempo, disponibilidade dos pais de participarem e acompanharem a vida escolar dos filhos?
Não há um canal específico para tal finalidade. Existem ações que acontecem de forma contínua para que sejam oferecidas oportunidades de participação da comunidade na vida escolar.
Contando com as reuniões de pais, todas as unidades escolares dispõem de um conselho escolar, que possui representação da comunidade escolar e da comunidade externa.
Além disso, os projetos realizados pelas escolas, seguindo os princípios da LDBEN e da importante noção de território educativo, se alicerça no entendimento de que a abertura e colaboração com a comunidade é fundamental e imprescindível para a formação mais ampla de nossos estudantes.
O problema da educação no Governo Marco Lage é a incompetência generalizada que tomou conta da SME. A primeira secretária (Luziene), que permaneceu no cargo por um ano era incapaz de tomar decisões. A segunda secretária (Laura), que ficou dois anos a frente de uma secretaria com 12 mil alunos, era inconsequente e nem comparecia a SME para trabalhar. A atual que assumiu há 1 ano tem dificuldades básicas de leitura e interpretação, seu conhecimento é mínimo, basta observar as respostas dadas a este jornal. Para piorar é autoritária e está isolada na secretaria. Se continuar como está, a crise na educação tende a acentuar.
Como pai de criança com deficiência, eu não podia deixar de me manifestar. Quando a secretária fala que não dá pra comparar a rede pública com a privada porque ‘os perfis são diferentes’, e começa a falar das crianças da periferia, negras, pobres, e que hoje em dia ‘se descobrem e diagnosticam um sem número de transtornos’, ela joga nas costas dessas crianças a culpa pelos baixos resultados do Ideb. E isso é muito grave.
Porque se ela sabe que essas crianças estão em situação de vulnerabilidade, com mais dificuldades pra acessar diagnóstico, atendimento, suporte, então isso só prova que a gestão tinha que estar investindo pesado em educação inclusiva, em cuidado, em estrutura, em equipe. Mas o que acontece? A Secretaria foi condenada pelo Ministério Público justamente por não garantir um sistema educacional inclusivo. E ao invés de resolver o problema, a Prefeitura recorreu! Tá na segunda instância, e enquanto isso, somos nós, as famílias, que seguimos tendo que acionar o Ministério Público pra garantir o básico: professora de apoio, material adaptado, PDI, acessibilidade. E nem sempre a gente consegue, é uma luta exaustiva.
Então, não. O problema não tá nas crianças, nem nos chamados ‘transtornos’, nem na pobreza, nem na cor da pele. E veja que a secretária é negra e recentemente registrou queixa de racismo contra um professor.
Se os resultados estão baixos, a responsabilidade é da gestão, que não faz o dever de casa. Inclusão não é favor, é direito. Educação de qualidade não é luxo, é obrigação do poder público. E enquanto a Prefeitura segue brigando na Justiça pra não cumprir o que deveria ser política pública, nossas crianças seguem sendo negligenciadas. A conta não pode cair sempre nas costas das famílias e dos estudantes mais vulnerabilizados.
O problema tá na falta de política pública séria, estruturada, comprometida. E isso sim é um transtorno!