O fim do minério é mesmo próximo e Itabira ainda não está preparada para ficar sem os royalties”, disse Marco Antônio Lage, no bate-papo com a OAB
O candidato a prefeito de Itabira, jornalista Marco Antônio Lage (PSB), afirmou nessa terça-feira (10), na quarta e última rodada do Bate-Papo Eleitoral com a OAB, que muito ainda precisa ser feito para Itabira diversificar as suas atividades produtivas, tornando-se independente da mineração.
Isso para que não vire uma “cidade fantasma”, à semelhança das cidades caricaturadas do Velho Oeste norte-americano após a corrida do ouro.
Para instrumentalizar ainda mais o município na busca urgente da diversificação, ele disse ser preciso instalar imediatamente o Parque Científico e Tecnológico. De fato, a sua implantação está atrasada em pelo menos 12 anos, uma vez que deveria ter tido a sua infraestrutura construída juntamente com o campus da Unifei.
A mesma posição defendeu o professor Renato de Aquino Farias Nunes, em entrevista a este site em janeiro de 2018. Segundo o ex-reitor da Unifei, Itabira está perdendo a guerra da diversificação econômica, justamente por não ter feito o dever de casa para atrair novos empreendimentos de alta tecnológica.
Na entrevista, Aquino acentuou que, se o parque tecnológico estivesse implantado, no município estaria sendo desenvolvidas pesquisas de ponta com aplicabilidade imediata no fomento de empresas tecnológicas, inclusive incentivando o empreendedorismo entre estudantes, professores, empresários locais e da região. Leia a entrevista aqui.
“Estamos atrasados na diversificação econômica”, foi o que também observou Marco Antônio Lage no bate-papo com a OAB. “É uma grande preocupação, uma angústia que o itabirano ainda tem depois de 78 anos de exploração mineral pela Vale”, salientou o candidato.
Exaustão inexorável
“O fim de nosso minério foi anunciado oficialmente pela Vale na Bolsa de Nova Iorque. Foi quando acendeu o sinal amarelo. Infelizmente não nos preparamos para esse momento”, lamentou o candidato.
Marco Antônio se referiu ao relatório Formulário 20 (Form-20), que desde 2001 a mineradora Vale encaminha à Comissão de Valores Imobiliários dos Estados Unidos. Ao longo dos anos, o anúncio para o horizonte da exaustão inexorável tem sido modificado.
Em 2017 e 2018 a empresa cravou que se daria em 2028, mas no relatório do ano passado, relativo a 2019, as minas de Itabira ganharam mais um ano de vida útil, estendendo a data da exaustão para 2029.
Antes, em 2001, a projeção era de que o fim aconteceria já em 2014. No ano seguinte a previsão veio mais otimista: a exaustão só ocorreria em 2021. Em 2003, a Vale projetou a exaustão das Minas do Meio e Conceição para 2022. Leia aqui.
É fato que a Vale tem mais recursos minerais na cidade e que podem ser transformados em reservas, conforme foi anunciado por diversas vezes. Leia aqui e aqui. Mas também é fato que o fim é iminente, inexorável, mesmo que avance para pouco alem de 2030. Leia também aqui.
“O minério de Itabira ficou mais pobre em ferro e a cada dia fica mais difícil (a sua extração e beneficiamento). A Vale tem minério de mais qualidade em outras regiões. Ela irá permanecer por mais tempo em Itabira, mas apenas processando minério de outros lugares. A geração de empregos será menor e de impostos também. Não bastam para assegurar o desenvolvimento macrorregional de alta complexidade que projetamos para Itabira”, acrescentou Marco Antônio Lage.
“Mesmo que Itabira tenha um veio a mais de minério a ser explorado, será muito caro. Não compensa. Terá que deslocar um terço da área urbana”, disse o candidato. Tudo isso sem falar no custo ambiental, social, territorial e patrimonial, acrescente-se.
Quarta Itabira
Daí que Marco Antônio Lage se propõe a apresentar um planejamento estratégico para o desenvolvimento sustentável do município, na cidade e no campo. E se compromete a cumprir metas para quebrar a letargia itabirana, dando um salto à frente em busca do tempo perdido.
É certo que medidas urgentes são mais que urgentes para que a quarta Itabira, que virá após a terceira Itabira que Carlos Drummond faz referência na crônica Vila de Utopia, se torne um município sustentável e feliz, com melhor qualidade de vida.
A primeira Itabira, segundo Drummond, foi a Itabira do ouro, com “exploração intensa e ruinosa das lavras”, enquanto a segunda se esvaziara com o fim do ciclo do ouro – e foi essa que ele revisitou em 1933, deixando o registro de suas impressões na referida crônica.
“A cidade não avança nem recua. A cidade é paralítica. (…) Tudo aqui é inerte, indestrutível e silencioso. A cidade parece encantada. E de fato o é. Acordará algum dia? Os itabiranos afirmam peremptoriamente que sim. Enquanto isso, cruzam os braços e deixam a vida passar. A vida passa devagar em Itabira do Mato Dentro”, escreveu o poeta, para em seguida indagar e lamentar:
“Haverá uma terceira e diversa Itabira? Meu Deus, como me doeria responder sim à pergunta, e confessar que em 1933 o antigo menino da rua Municipal foi encontrar a sua cidade habitada por um pelotão de velhos, que nada poderiam dizer, e por um exército de rapazes e meninas, aos quais não tinha nenhuma mensagem para dirigir.”
A terceira Itabira foi inaugurada em 1942, com o novo ciclo de exploração de minério de ferro em larga escala. E é esse ciclo que agora está se exaurindo. Cabe agora perguntar: como será a quarta Itabira? Como o município sobreviverá sem a mineração em larga escala? Acordará algum dia? Ou os itabiranos continuarão de braços cruzados vendo a vida passar devagar enquanto se esvai a última tonelada de minério de ferro transportada pelo maior trem do mundo?
Marco Antônio Lage afirma, peremptoriamente, que sim, que é possível projetar e trabalhar por um futuro sustentável. Mas disse que é preciso agir com mais celeridade.
“Faltam sete anos para definir como será o futuro de Itabira (sem a mineração). Vamos persistir com os investimentos na educação, na Unifei e também na Funcesi, que encolheu nos últimos anos, e que também pode desempenhar um papel importante”, se dispõe fazer o candidato, caso seja eleito em 15 de novembro. “Temos que ter uma agenda estratégica, soberana, para discutir e negociar com a Vale, governos do Estado e Federal, com as instituições.”
De imediato, o candidato propõe readequar a administração municipal à essa nova realidade que está por vir, de recursos escassos. “Com transparência, vamos investir os mais de R$ 620 milhões do orçamento municipal, otimizando resultados na educação, saúde, com treinamento, capacitação e valorização do servidor público”, disse ele, ao responder como manter a máquina administrativa prestando serviços à sociedade itabirana com qualidade após a exaustão mineral. Não vai ser fácil e esse futuro já bate às portas da cidade.
Mobilidade
Já para os próximos quatro anos, ainda enquanto há recursos minerais a ser explorado, se eleito, Marco Antônio Lage quer negociar a mudança da linha férrea que passa pela cidade transportando minério, abrindo-se um novo ramal ferroviário no entorno da cidade.
“Já existem estudos para a Vale retirar a linha férrea de dento da cidade. Ao invés de abrir uma nova avenida, podemos ter um metrô relativamente barato passando pelas bitolas já existentes. Podemos ter estações saindo do Campestre, seguindo pelo Pará/Vila Paciência, Vila Amélia, Areão, uma estação central na Mauro Ribeiro, passando pelo Caminho Novo, Praia. E ao lado podemos ter uma ciclovia”, projetou.
Com essa alternativa de transporte de passageiros, o candidato espera descongestionar o trânsito e melhorar a mobilidade urbana.
“Não precisamos de mais avenidas, que são espaços para o automóvel. Vim da indústria automobilística e sei o quanto isso é problema em todo o mundo”, afirmou Marco Antônio Lage, em mais uma crítica ao prefeito candidato à reeleição, que se auto intitulou como um tocador de obras ao abrir extensas avenidas, apresentadas como modernas, mas sem contar sequer com ciclovias.
É assim que para o candidato oposicionista a cidade precisa virar espaço para as pessoas – e não para os automóveis. Para isso, disse, é preciso restaurar e revitalizar áreas de lazer, retornar com áreas verdes, ampliar os espaços coletivos de convivência e cidadania. “Queremos uma cidade com mais qualidade de vida para todos, por isso serei um prefeito também dos bairros”, prometeu
Rodada de conversa
A campanha eleitoral em Itabira está chegando ao fim sem que alguma instituição tenha promovido debates virtuais entre os candidatos.
O confronto de ideias e propostas para os próximos quatro anos, necessário para o eleitor se definir com “base na razão e não na emoção”, ficou assim prejudicado.
O bate-papo on line com a OAB foi a única iniciativa organizada para ouvir, separadamente, e com perguntas previamente estabelecidas, os prefeituráveis de Itabira.
Por discordar do modelo e da ordem sorteada das apresentações, o candidato Marcinho “da Loteria” não participou do bate-papo. Para a OAB ele alegou ter compromissos anteriores de campanha para o mesmo horário.
O segundo encontro foi com Alexandre “Banana” (PT) e o terceiro com Jânio Nunes (PSOL). Na terça-feira (10) o encontro foi o prefeito Ronaldo Magalhães (PTB), candidato à reeleição.
E por fim, a programação eleitoral da OAB foi encerrada com o bate-papo com o candidato oposicionista Marco Antônio Lage (PSB).
Assista os bate-papos com a OAB acessando os links
– Marcinho da Loteria (não compareceu)
Links:
Facebook: https://www.facebook.com/events/2585757525018291/
Youtube: https://youtu.be/-3QYy1n2YWc
– Alexandre Banana (já realizado, disponível na rede social)
Links:
Facebook: https://www.facebook.com/events/290156378757804/
Youtube: https://youtu.be/ZjcDj8YZGZ8
– Jânio Nunes (já realizado, disponível na rede social)
Links:
Facebook: https://www.facebook.com/events/2409430166020108/
Youtube: https://youtu.be/C0Ah2boCIfs
– Ronaldo Lage Magalhães (já realizado, disponível na rede social)
Links:
Facebook: https://www.facebook.com/events/278248500203454/
Youtube: https://youtu.be/TiW1GuU13N4
– Marco Antônio Lage
Links:
Facebook:
https://www.facebook.com/events/700756700561035/
Youtube: https://youtu.be/9ZapG-DIvSU