Itabira continua avaliando a Vale positivamente mesmo com o risco das barragens e o anúncio da exaustão próxima de suas minas
A tragédia de Brumadinho, ocorrida em 25 de janeiro com o rompimento da barragem 1 da mina de Córrego Feijão, e que resultou em 249 óbitos confirmados e 21 desaparecidos, não foi suficiente para abalar a imagem da mineradora Vale em Itabira. Assim como não arranhou a sua avaliação positiva o anúncio de que as suas minas na cidade irão se exaurir já a partir de 2028.
Pelo menos foi o que constatou o Instituto DataMG Centro de Informação & Pesquisa, que ouviu 340 entrevistados (52% mulheres e 48% homens), com idade acima de 16 anos, entre os dias 2 e 8 de agosto, antes, portanto, da realização do simulado de rompimento de barragens, ocorrido no dia 17. Esse quadro, entretanto, não deve ter sido alterado.
Dos entrevistados, a grande maioria disse considerar positivamente a presença da mineradora no município: 62% responderam que a Vale faz bem a Itabira, enquanto apenas 20% responderam negativamente – e 18% não souberam ou não quiseram responder.
A pesquisa revela o que é perceptível na cidade. E que mesmo com a mobilização do Comitê Popular dos Atingidos pela Mineração em Itabira e Região, que tem procurado alertar o itabirano para os riscos das barragens localizadas à montante de grandes aglomerados humanos, que os ativistas chamam de “zonas de risco de morte”, essa avaliação positiva se mantém inabalável.
Essa avaliação, no entanto, não esvaziou a grande passeata de protesto contra a Vale, realizada durante a 4ª Romaria das Águas e da Terra da Bacia do Rio Doce, no inicio de junho. “Não foi acidente, foi crime humano e ambiental”, essa foi a palavra de ordem mais ouvida na manifestação cívica-religiosa, a maior já realizada contra a Vale em Itabira.
Na ocasião, foram coletadas mais de 5 mil assinaturas em um abaixo-assinado em que os fieis católicos cobram do Ministério Público a abertura de ação civil pública contra o alteamento da barragem de Itabiruçu, assim como pela remoção de moradores que temem continuar residindo abaixo dessas estruturas.
Credulidade
O que a pesquisa constata é que a tão propalada relação de amor e ódio entre o itabirano e a Vale está muito mais para a paz de cordatos.
O itabirano ainda acredita na mineradora e dela aguarda por bons resultados, ainda que sejam pelo imediatismo do emprego, dos impostos e de ganhos indiretos.
Como se observa, tudo permanece igual em Itabira do Mato Dentro:
“Parece que um poder superior tocou esses membros, encantando-os. Tudo aqui é inerte, indestrutível e silencioso. A cidade parece encantada. E de fato o é. Acordará algum dia? Os itabiranos afirmam peremptoriamente que sim. Enquanto isso, cruzam os braços e deixam a vida passar. A vida passa devagar em Itabira do Mato Dentro”, como já observou o seu filho mais ilustre, o poeta Carlos Drummond de Andrade, na crônica Vila de Utopia, de 1933.
QUE LIBEREM O RELATÓRIO INTEGRAL DA PESQUISA
Caros editores,
Seria ótimo conhecer o relatório completo desta pesquisa, e a metodologia aplicada.
A Vale poderia abrir o relatório da pesquisa. As informações obtidas pela “Vila” não passam a segmentação do público alvo e respostas relativas, e tampouco informações sobre a resposta da população face a diferentes cenários.
Essa foi certamente uma pesquisa realizada pela empresa para medir a temperatura da população de Itabira diante de diferentes questões a que o município está exposto, para muito além da empatia da população com a marca ou a empresa.
Estas pesquisas são normalmente encomendadas para planejar o esforço de comunicação em ações como a do ‘simulado’ e em situações ckmo a atualmente vivida em Itabira, com população ameaçada por barragens, apreensiva com seu futuro e cada vez mais ciente da necessidade de diversificação econômica.
Não devem ter encomendado esse serviço só para ver se os itabiranos aprovam ou não a Vale.