Entre alhos e muitos bugalhos que destemperam a cultura de Itabira

Mauro Andrade Moura

Passa ano, entra ano, sai governo municipal, entra governo municipal e a cantilena continua a mesma.

Todos os candidatos, sejam eles a prefeito ou a vereador, sempre saem com a conversa que Itabira é terra de muita cultura e que deve ser bem cuidada, mantida ou preservada.

Tratando de Cultura, a preservação da memória tem de ser constante. Isso passa pelo nosso Arquivo Histórico de Itabira. Já escrevi a respeito do descuido com o mesmo ainda no governo do Damon de Sena, sob a tutela da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo.

Ao longo dos anos, não importa sob qual tutela esteja, o Arquivo Histórico não tem tido administração para que tenha um bom funcionamento e preservação adequada. Não se vê tino nem tato a administrar o bom funcionamento do Arquivo Histórico.

Há uma lei municipal específica para o Arquivo Público Municipal, decretada ainda no governo do João Izael, mas nunca posta em funcionamento. O arquivo, que guarda preciosidades ainda por serem garimpadas e bamburradas sobre a história itabirana, encontra-se lacrado desde o início do governo passado.

Para piorar, Ronaldo Magalhães retirou a verba de manutenção do Arquivo Histórico e a transferiu para abrir o Museu de Itabira, que quase nada conta da história de nossa cidade.

Desleixo

Documento histórico carcomido no abandonado Arquivo Histórico de Itabira (Fotos: Mauro Moura)

O atual secretário municipal de desenvolvimento econômico e turismo, infelizmente até aqui, não tem demonstrado tino e tato para dar um tratamento à altura da importância do Arquivo Histórico de Itabira.

Passado já mais de seis meses do novo governo, que veio com discurso de mudança e respeito à história e à cultura local, o arquivo continua lacrado, sem cuidado com o acervo, constituído de papéis centenários e bicentenários. E o que é grave: muitos documentos já se encontram em estágio avançado de deterioração.

Até aqui nada de novo foi apresentado pelo governo que tomou posse em 1º de janeiro de 2021, em especial pelo secretário de Turismo, que é também do desenvolvimento econômico, para que essa já calamidade histórica, de desrespeito à nossa memória, possa chegar ao fim.

É preciso lembrar –e reiterar – que cultura e turismo podem e devem andar de mãos dadas. A bem dizer, são indissociáveis!

A cultura e a pistola

Que a cultura popular volte a brilhar neste palco

Tem uma frase muito repetida, que muitos atribuem a Joseph Goebbels, ministro da propaganda nazista de Adolf Hitler, ambos de tristíssima lembrança, que diz que “quando ouço falar de Cultura saco logo a pistola”, mas que na verdade consta de uma peça de teatro escrita pelo nazi Hanns Johst, o que dá no mesmo pelo significado.

Cito essa frase para ressaltar que ao longo dos últimos anos ela cabe perfeitamente para sintetizar o que tem sido a política cultural em Itabira.

Como o prefeito Marco Antônio Lage tem a sua vida ligada à cultura, até mesmo como mecenas quando esteve à frente da área de propaganda e marketing da multinacional Fiat Automóveis, não posso crer que ele seja adepto da política de sacar a pistola, como fez a maioria de seus antecessores, com raras exceções que não cabe aqui citar para não cair no aulicismo, o que não é do meu feitio.

Espero piamente que ele venha a sacar a caneta para aprovar projetos que não sejam caça-níquel, como temos visto em programação virtual, que não representam a nossa cidade, fazendo uso do bom nome de Itabira e da obra de Drummond, e que nada ou quase nada acrescentam à vida cultural itabirana.

Um cultura que precisa ser urgentemente revitalizada, não para voltar a ser pungente, que isso ela nunca foi, mas para dizer que existe e pode se desenvolver com bons projetos.

Mas tenho muitas dúvidas com relação aos rumos que a política cultural em Itabira parece tomar com o novo governo, como vem se desenhando, ainda que sejam rabiscos riscados aqui e ali, sem se ter uma palavra oficial.

Desde a campanha o prefeito disse que iria criar a Secretaria de Cultura. Mas até aqui, e já com nome de quem seria a gestora da nova pasta sendo citado em rodas de conversas, não se tem notícia de que o prefeito tenha aberto diálogo com os diferentes atores culturais, com esse segmento que existe e insiste em ter voz, mas que não têm visto as autoridades fazerem ouvidos de mercador aos seus reclames e anseios.

Se ouviu, deve ter sido somente a voz dos áulicos de costume, de ontem e os mais recentes, que com ele em tudo concordam, mesmo que contradizendo o passado, para ficarem bem com o novo Príncipe que administra esta urbe.

Fico triste ao ver que os rumos até aqui estejam sendo mal traçados. Na semana passada recebi a notícia de que, no pensamento e na vontade do prefeito, o trato da cultura itabirana será retirado da Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade (FCCDA) para ser incorporados à futura Secretaria Municipal de Esportes, que agregará a Cultura em seu nome e gestão.

Já escrevi a respeito dessa péssima ideia aqui na Vila de Utopia. A meu ver, é um tremendo engano. Ignora por certo que no quadro funcional da FCCDA existe o Departamento de Produção e Promoção Artística (DPPA). Leia aqui Em Itabira nada se cria, tudo se retira

Pois se quer o prefeito desenvolver a cultura, com os segmentos artísticos contribuindo para que se tenha uma efetiva política cultural, basta convocar pessoas de capacidade comprava para gerir o DPPA.

E retirar o departamento da influência nefasta dos vereadores que indicam seus compinchas apoiadores, uma verdadeira pistolagem contra a cultura, em troca de votos na Câmara, como vimos nos governos passados.

Gente estranha que nada entendem de cultura, outras tantas burocráticas que entravam o seu fluir moderno, daquilo que não pode mais esperar, pois já está atrasado há anos, sem que se tenha solução à vista, infelizmente.

Já tivemos na chefia do DPPA um ex-padre, uma técnica de segurança do trabalho e outros sem qualquer vivência com o segmento cultural – e que lá estiveram para receber seus salários às custas do erário municipal, sem qualquer utilidade e contribuição cultural.

Idas e vindas

Ronaldo Magalhães em seu primeiro governo, por demanda do ex-secretário Cácio Guerra, alterou a nomenclatura e organograma da Secretaria de Desenvolvimento Econômico que passou a ser também “de Turismo”.

Dizia o Guerra que turismo pesa pelo lado econômico. Foi daí que convenceu o ex-prefeito a aprovar essa junção, prontamente referendada pelos vereadores daquela legislatura que em tudo apoiavam o prefeito, por mais estapafúrdio que fosse o projeto a ser votado.

Afinal, os seus afilhados foram atendidos em suas necessidades básicas que o emprego público ainda oferece, ainda que sejam minguados os salários, defasados que estão em toda a administração municipal, menos para o primeiro escalão.

Essa tese de que o econômico determina o turismo perdura até hoje, infelizmente e, obviamente, sem a boa resolução quanto ao trato desse setor no município.

Continuando com esses alhos e bugalhos, ano governo passado Ronaldo Magalhães resolveu criar uma super secretaria e misturou a de Desenvolvimento Urbano com a de Meio Ambiente e a Transita. Deu no que deu. Uma baita confusão e conflitos de interesses.

Depois teve que, alopradamente, desmembrar e recriar novamente a Secretaria Municipal de Meio Ambiente até para abrigar a imprescindível correligionária, que estava ficando de fora de sua malfadada administração municipal.

É assim que, novamente com essa mistura sem pé e muito menos cabeça, o prefeito Marco Antônio Lage resolve reunificar a Secretaria de Desenvolvimento Urbano com a de Meio Ambiente.

Dia vai, dia vem e vemos, aliás, não vemos o devido funcionamento e evolução do meio ambiente na cidade, até pela dificuldade de se administrar duas secretarias em muitas situações até antagônicas e com ampliadas demandas como as imposturas municipais e os agentes poluidores, que não é só a Vale, sem que sejam fiscalizados.

O Codema, que esperava-se uma reformulação em sua composição, continua o de sempre: empresarial em seus objetivos e resultados práticos. É só ver a sua composição, majoritariamente representativa do segmento patronal, com duas mineradoras presentes, a Vale e a Belmont.

Há ainda a demanda das famílias dos bairros Bela Vista e Nova Vista, ameaçadas de despejo compulsório pela mineração eterna dona do pedaço, seja em Itabira e alhures.

Antes, na gestão passada, dizia-se peremptoriamente que assunto de mineração não é da alçada do Codema e nem da Secretaria de Meio Ambiente.

Agora, pelo menos, deixou de ser assunto proibido nas reuniões do conselho, que foi criado na gestão do ex-prefeito José Maurício Silva para ser um órgão de defesa do meio ambiente fortemente impactado pela mineração predatória.

Entre esses alhos e muitos bugalhos, perdemos todos nós cidadãos itabiranos que vemos o tempo passar sem que as soluções já desenhadas, mas nunca colocadas em prática, aconteçam E perde mais ainda Itabira que continua vendo a vida passar devagar com as suas perdas incomparáveis.

 

Posts Similares

3 Comentários

    1. Então, Aguilay.
      Os alhos eu sei que tempera a comida e os bugalhos devem ser só para atrapalhar mesmo.
      Do jeito que está, só nos resta viver na Vila de Utopia…
      Grato pela leitura,
      Mauro

  1. Mauroquerido, tu em mais uma grita e vai dá grita pra sempre…
    o Centro Cultural fala o nada para o nada, outro dia o Zuenir Ventura falou virtualmente pra Itabira…. hum… Zuenir??? e depois um padre Melo, um padre pleibói falando de sua literaturazinha, foi de arrepiar a intolerância de uma semi-analfa como eu…
    Até agora não ouvimos as escritoras (res) de Itabira.
    A escritora Graça Lima fala e tem muito mais a dizer do que Zuenir/Melo – contra mão da cultura.
    Itabira ignora a juventude por isso o quadro é doloroso.
    Uma secretaria de Cultura hoje para ser extinta amanhã. Para que serve a FCCDA?
    O prefeito Ronaldo do Posto Alvarenga (o mais ignaro prefeito que Itabira já teve, é da turma da bufunfa, mas não tem perspectiva história pra cidade e nem pra ele mesmo) comprovou que qualquer imbecil pode governar/destruir a Cidade. A turma do Ronaldo enricou a carteira e engordou o corpitio…., comprovou Que qualquer beócio pode decidir pelo descarte do ARQUIVO.
    Sinto lhe dizer caro Mauro que vamos morrer e Itabira continuará sendo uma cidade da Vale S/A e os imbecis que ela criou. Essa gente não gosta da cidade eles gostam da mineradora
    Itabira não sabe o que AMoR.
    Itabira é um saco!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *