Eles querem ocupar a principal cadeira do Paço Municipal Juscelino Kubitschek enquanto essas luzes não se apagam
Carlos Cruz
Dizia o ex-prefeito Jairo Magalhães Alves (1978/85), repetindo um velho chavão político, “que quem sai na frente bebe água limpa.” Já o burro, o animal de tração que nada tem de toupeira, ao chegar a um rio espera a boiada matar a sede – e só quando os sedimentos de barro que sujam a água voltam a se acomodar no leito é que vai matar a sua sede.
Ou seja, se for observar o que diz a sabedoria popular, tanto quem sai na frente como quem espera sempre alcança podem estar certos. Em política, como se sabe, não há verdade absoluta, ainda mais quando se trata de uma eleição cuja campanha ainda não teve início.
Mas os acontecimentos, sejam por atos deliberados ou fortuitos, podem antecipar a corrida sucessória. É o caso do autolançamento da pré-candidatura do prefeito Ronaldo Lage Magalhães (PTB), que assumiu, nessa segunda-feira (10), a sua intenção de se candidatar à reeleição.
Magalhães se sente motivado depois que viu cair a sua taxa de rejeição, com a realização de obras, marca de seu governo – e também com a anunciada parceria com a mineradora Vale para expansão do campus da Unifei.
O prefeito e os seus correligionários acreditam na viabilidade eleitoral. Isso ocorreria mesmo tendo o governo municipal adotado medidas desgastantes, como a demissão de vigias da Itaurb, que a Justiça do Trabalho mandou reintegrar, ainda sem efeito.
E também com a demissão de celetistas da Prefeitura, que não gozavam de estabilidade constitucional, sem que fossem pagos os direitos trabalhistas, que o juiz do Trabalho determinou que fossem quitados.
Apoio empresarial
A decisão de Ronaldo Magalhães de concorrer à sua própria reeleição foi comunicada pelo próprio mandatário desta urbe na reunião do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), ao qual ele é filiado, em reunião realizada na sede da Associação Comercial, Industrial, Serviços e Agropecuária de Itabira (Acita).
O lançamento de sua pré-candidatura na sede da associação dos empresários itabiranos é emblemática. É que os empresários itabiranos, em sua grande maioria, têm historicamente sustentado as suas candidaturas a prefeito por três vezes, sendo duas vitoriosas, e também a deputado estadual, cuja cadeira na Assembleia Legislativa Magalhães acabou assumindo em 2007, como primeiro suplente de sua coligação.
Mucida ainda não assume a sua candidatura. João Izael também pode entrar na disputa
Sem pressa de beber água limpa, pelo menos por enquanto, o ex-vereador Bernardo Mucida de Oliveira (PSB) ainda não assumiu se irá ou não candidatar a prefeito desta urbe nas eleições municipais de 4 de outubro.
“Nada tenho ainda definido. Até o final deste mês devo tomar uma posição, se saio ou não candidato”, disse ele em entrevista a este site. Reafirmou que avalia se assume ou não uma vaga de deputado estadual na Assembleia Legislativa, já que é o primeiro suplente de sua coligação.
Segundo ele disse em entrevista à Vila de Utopia, a sua preferência no momento é assumir a cadeira de deputado estadual, que pode vagar com a eleição a prefeito de um dos 13 deputados de sua coligação (PT, PR/PL e PSB).
Essa possibilidade é maior com uma possível eleição da deputada Marília Campos (PT), que irá disputar, com boas chances de vitória, a prefeitura de Contagem. Leia mais aqui.
Nessa mesma entrevista, Mucida lançou como seu possível candidato a prefeito, caso não se candidate, o nome do jornalista e empresário Marco Antônio Lage, atual diretor de comunicação da Cemig. O empresário, porém, em entrevista a este site, assegurou que não sai candidato. Pelo menos nessas eleições. Leia aqui.
Os correligionários de Mucida o pressionam para que saia candidato a prefeito de Itabira, já que figura como o nome mais lembrado à sucessão de Ronaldo Magalhães, de acordo com pesquisas estimuladas realizadas pelo instituto DataMG.
Alegam os seus apoiadores que o “cavalo está passando arriado”. E que se perder a oportunidade, o galope leva junto o seu recall, que é a lembrança que o eleitorado tem de seu nome.
Correndo por fora
Em segundo lugar nas pesquisas estimuladas aparece o nome do ex-prefeito João Izael Querino Coelho (PL, ex-PR), que ainda não assumiu publicamente a sua intenção de se candidatar mais uma vez a prefeito de Itabira.
Na última pesquisa estimulada do DataMG o nome de João Izael praticamente encostou ao de Mucida. Isso teria ocorrido em função da indecisão do ex-vereador em candidatar-se novamente.
Os adversários do ex-prefeito espalharam a informação de que ele estaria inelegível, por ter sido condenado em segunda instância em processo por improbidade administrativa. Portanto, não seria “ficha limpa”, que é pré-requisito para se lançar a candidatura.
Procurado pela reportagem, Querino Coelho não foi encontrado, pois se encontra em gozo de férias. Entretanto, seus correligionários, ouvidos pela reportagem, asseguram que ele não está inelegível, fato que só ocorreria caso o julgamento em segunda instância fosse definitivo, sem direito a mais recursos.
O que não seria o caso do ex-prefeito, lembrando que Ronaldo Magalhães também responde a inúmeros processos, inclusive já com julgamento em segunda instância, mas ainda cabendo recursos (leia aqui).
Mucida também responde processo por improbidade na Comarca de Itabira. Foi denunciado pelo Ministério Público por fazer uso de verbas de gabinete e de auxílio transporte para reformar um veículo de sua propriedade. Prática que, até recentemente, era comum entre os edis itabiranos.
Calendário
Como se observa, as cartas ainda estão sendo embaralhadas para o jogo sucessório. Outras candidaturas podem até surgir, mas é improvável que ganhem competitividade. Podem ser candidaturas de “farinha”, ou meros balões de ensaio.
Esses “balões de ensaio” são comuns no jogo político, seja como forma de se cacifar para assumir a vaga de candidato a vice-prefeito de um candidato tido como forte, ou mesmo para disputar uma cadeira no legislativo.
O jogo eleitoral está só começando – e foi antecipado com o autolançamento da candidatura de Ronaldo Magalhães à sua sucessão. O processo eleitoral só terá inicio em 20 de julho, quando é aberto o período para a realização das convenções partidárias, que se encerram em 5 de agosto.
Já a campanha só terá inicio em 26 de agosto, com o início do indefectível horário eleitoral gratuito – e com a consequente poluição sonora dos carros de propaganda volante, em alto e péssimo som, propagandeando os nomes dos candidatos.
Enquanto isso ruas esburacadas, canal da praia ruindo, estradas rurais intransitáveis, e avenidas e mais avenidas que levam a lugar nenhum, farmácias sem remédios, UBS sem médicos, UPA até hoje sem funcionar, restaurante popular engavetado. Falta água, falta tudo e ainda quer reeleição. “Eita, vida besta, meu Deus”.
A maquiagem já começou na cidade. Pinturas de muretas, colocação de vasos de plantas nos pontos de ônibus e outros pontos de visibilidade na cidade.