Após Ronaldo Magalhães se lançar à reeleição, oposição intensifica conversas em busca de candidato único para Itabira sair das brumas
Depois que o prefeito Ronaldo Magalhães (PTB) decidiu que iria se candidatar à reeleição, no campo da oposição pelo menos três nomes despontam em condições de disputar a cadeira número um do Paço Municipal Juscelino Kubitschek.
São eles: o ex-vereador Bernardo Mucida (PSB), segundo colocado na eleição municipal de 2016, o ex-prefeito João Izael (atualmente no PR), que administrou o município por dois mandatos, entre 2005 e 2012, além da liderança emergente, o vereador e sindicalista André Viana (Podemos).
Mas nenhum deles, na presente conjuntura, assume que é pré-candidato a prefeito de Itabira. Todos dizem querer conversar um com o outro, o que eles admitem que já estejam fazendo. E assim tentar costurar uma candidatura única, com programa mínimo comum para administrar Itabira nos próximos anos.
Os três dizem ter propostas capazes de tirar Itabira da letargia econômica enquanto o município ainda figura entre as dez maiores receitas orçamentárias de Minas Gerais. Trata-se de uma condição privilegiada que deve se sustentar pelos próximos oito anos, enquanto ainda dispõe dos impostos e dos royalties do minério, até a sua exaustão a partir de 2028.
Situação
A tentativa de costurar uma candidatura única das “oposições”, todos admitem, é necessária como forma de reunir forças para enfrentar o grupo político do prefeito – que já está consolidado, inclusive partidariamente.
Ronaldo Magalhães lançou a sua pré-candidatura à reeleição recentemente, em uma reunião partidária, convencido que tem condições de reverter a forte rejeição dos primeiros anos de governo, acreditando que “quem sai na frente bebe água limpa”, como dizia o ex-prefeito Jairo Magalhães (já falecido) e que não era seu parente. Leia mais aqui.
Para reconquistar o seu eleitorado, Magalhães conta com a força política e econômica de seu grupo, que é majoritário no meio empresarial. E também com a vitrine eleitoral de grandes obras que tem para inaugurar (avenidas Machado de Assis e do Espigão), além de inúmeras pequenas obras que planeja realizar neste ano. Conta ainda com a divisão das “oposições”.
Entre os seus assessores há a firme convicção de que a imagem do governo que fica é a do último ano. Conforme eles acreditam, a avaliação da administração municipal será positiva suficiente para reeleger Ronaldo Magalhães ao chegar a hora do voto na eleição municipal de 4 de outubro, em um único turno.
Sem pressa
Bernardo Mucida sustenta que não há porque ter pressa – e que o momento político é mesmo de muita conversa.
Diz que irá decidir se sai candidato a prefeito nos próximos 15 dias – e só após conversar com todas as pessoas que ele considera importantes antes de tomar uma decisão.
Mucida avalia, inclusive, a possibilidade de não se candidatar, podendo assumir uma cadeira no legislativo itabirano, numa provável vaga a ser aberta caso um dos 13 deputados de sua coligação (PT, PR/PL e PSB), da qual ele é o primeiro suplente, eleja prefeito na próxima eleição. Leia também aqui.
“Muitos acham que estou atrasado na decisão, mas se esquecem que o calendário eleitoral ainda não teve início”, disse ele em entrevista a este site, lembrando que as convenções partidárias têm prazo para ocorrer até agosto, com a campanha eleitoral só tendo início na segunda quinzena desse mesmo mês.
Daí que Bernardo Mucida não endossa a tese de que vem perdendo terreno, caso decida se candidatar a prefeito. “O eleitor passa a preocupar com a política a partir de setembro e muitos só definem o voto na última semana”, é o que ele avalia.
Entretanto, o ex-vereador assegura que mesmo não se candidatando, participará ativamente da campanha para ajudar a eleger o candidato de sua futura coligação partidária. “Acredito na viabilidade de uma articulação política capaz de derrotar Ronaldo Magalhães, que quer se reeleger”.
No momento ele informa que o seu grupo político trabalha na formação da chapa de candidatos a vereadores. “Essa é a nossa prioridade. No momento é tudo que tenho a dizer”, afirma, na condição de presidente do PSB e possível candidato a prefeito de Itabira.
Auscultar o povo
Por seu lado, como que já afinado com Mucida, o ex-prefeito João Izael Querino Coelho diz também que pretende continuar conversando com apoiadores e “com o grupo político que irá fazer frente a essa força que está no poder”.
João Izael evita fazer críticas a Ronaldo Magalhães, seu ex-companheiro político, do qual foi seu vice-prefeito antes de se eleger prefeito por duas vezes. Mas hoje ele assegura que não mais compartilham do mesmo ideal político.
Mas adianta que antes de se lançar candidato, além de ouvir a opinião de apoiadores, precisa saber como está a receptividade ao seu nome. “Não vou me lançar candidato sem saber qual é a minha real chance de vitória. Preciso saber se a população deseja a minha volta à Prefeitura.”
Além disso, se for mesmo se candidatar, João Izael pretende mudar de partido. “Minha relação com o PR era com o ex-deputado José Santana, que já não está mais no partido”, conta o ex-prefeito, que tem até o dia 3 de abril para tomar outro rumo partidário. “Tendo sido sondado por vários partidos para ser candidato.”
Com vários processos na Justiça, como também ocorre com o prefeito Ronaldo Magalhães, João Izael sustenta que não é “ficha-suja”. Segundo ele, não há impedimento legal à sua possível candidatura. “Tenho processos, mas estou me defendendo.”
Ele conta que em uma acusação de improbidade administrativa, o juiz federal reconhece expressamente na sentença que o município não sofreu qualquer prejuízo financeiro, uma vez que a obra, que teria sofrido falcatruas em sua execução, foi integralmente realizada pelo preço correto e de acordo com o que foi contratado. ”Não tenho envolvimento em corrupção.”
João Izael afirma ainda que mesmo não se candidatando, não ficará de fora das eleições. Nesse caso, diz que apoiará algum nome da oposição. “Nada tenho contra nem a favor (de Ronaldo Magalhães). Cada um seguiu o seu caminho, que hoje são caminhos diferentes”, define, sem querer entrar no mérito de suas divergências com o prefeito. “O governo já está com a sua candidatura encaminhada. Falta agora à oposição se definir.”
Sem rótulos
Mesmo sem desmentir que pretende sair candidato a prefeito, o vereador e sindicalista André Viana diz que o natural é ele sair candidato à reeleição para vereador.
“Mas tenho sido sondado por alguns partidos para saber se pretendo candidatar a prefeito. Tenho até mesmo a possibilidade de não me candidatar nesta eleição, para me dedicar mais ao sindicato e até mesmo pensando numa futura candidatura para deputado federal”, confidencia Viana à reportagem deste site.
É que segundo ele, a presença forte de um deputado federal, eleito por Itabira e região, pode ser tão importante como eleger um prefeito capaz de encaminhar Itabira no rumo da diversificação e independência econômica do município, além do encaminhamento da questão da exaustão das minas e das barragens.
Para viabilizar a sua pretensão política, André Viana confia na força do movimento sindical. “Nosso sindicato tem base em 32 cidades. A questão trabalhista no país tende a agravar e Itabira precisa ter uma representação forte no Congresso Nacional. Tenho paixão pelo parlamento, embora o executivo também me atraia.”
O vereador sindicalista admite que pode até mesmo sair candidato a vice-prefeito numa chapa das “oposições”, já que ele não vê, nas eleições municipais, a possibilidade de ocorrer polarização entre esquerda e direita.
“Isso não está em discussão, até porque quem é de direita ou de esquerda em Itabira?”, pergunta, para ele mesmo responder aos que o chamam de direita por ter votado em Bolsonaro.
“Não sou uma caixinha para ser colocado rótulo de direita ou de esquerda, o ser humano é muito maior que isso. Votei duas vezes no Lula e uma vez na Dilma”, diz o vereador, que promete voltar com o projeto de escola sem partido e persistir na articulação para trazer uma escola cívico-militar para Itabira.
Isso ao mesmo tempo em que se compromete a se manter na luta contra as reformas do governo Bolsonaro, que retiram mais direitos dos trabalhadores.
“Sou oposição a Ronaldo Magalhães, que faz um governo elitista, não governa para os pobres, mas para um grupo que o acompanha desde o primeiro mandato. E que pratica uma política de frouxidão em relação à mineração, ao futuro de Itabira e à segurança das barragens”, critica ao enumerar alguns dos motivos que o levam a transitar entre as “oposições”, independentemente de o seu candidato a prefeito ser de direita ou de esquerda.