Vereadores cobram da Vale contrapartidas diante da gradativa exaustão das minas de Itabira

A mina Cauê exauriu em 2003, sem que a mineradora comunicasse oficialmente o encerramento à população de Itabira

Foto: Eduardo Cruz/
Acervo O Cometa

Parlamentares exigem plano de descomissionamento e investimentos que assegurem futuro econômico e sustentável para o município

Carlos Cruz

A iminente exaustão das minas de ferro em Itabira, após mais de 83 anos de exploração ininterrupta, foi pauta dos pronunciamentos dos vereadores na reunião da Câmara Municipal realizada nessa terça-feira (18).

Os vereadores cobraram da mineradora Vale ações concretas para compensar os impactos da atividade mineral e garantir alternativas econômicas para o município.

Das minas de Itabira já foram retiradas mais de 2 bilhões de toneladas de minério de ferro, gerando lucros bilionários para a Vale. No entanto, segundo os parlamentares, o município recebeu muito pouco em contrapartidas proporcionais a essa riqueza.

A exaustão vem ocorrendo de forma gradativa. A primeira mina exaurida foi a do Cauê, em 2003, sem que a cidade fosse sequer oficialmente comunicada. Para os vereadores, essa falta de transparência é um desrespeito à população.

“O que se tirou daqui é impagável. A Vale precisa investir em diversificação econômica local, trazer indústrias e projetos que garantam emprego e renda para os itabiranos. Não podemos aceitar que o berço da empresa seja deixado de lado enquanto outras cidades recebem investimentos robustos”, afirmou o vereador Bernardo Rosa (PSB), que tem sido um dos mais enfáticos na cobrança.

Falta de plano para áreas mineradas

Vereadores cobram investimentos da Vale para assegurar o futuro sustentável de Itabira após a mineração (Foto: Carlos Cruz)

Os parlamentares também criticaram a ausência de um plano de descomissionamento das minas e de uso futuro das áreas exauridas. Esse plano existe e foi obtido de forma oficiosa por este site Vila de Utopia – e pode ser acessado aqui: Cultivo de plantas medicinais e novo hospital constam, em 2013, do Plano de Descomissionamento das Minas de Itabira

A Vale reconhece a existência desse Plano Regional de Fechamento Integrado das Minas de Itabira (PRFIMI), elaborado em 2013 pela empresa de consultoria Bureau, que tem os mesmos responsáveis técnicos da Tüv Süd, empresa internacional indiciada pelo crime do rompimento de barragem na mina Córrego do Feijão, em Brumadinho.

Representantes da empresa disseram em reunião do Codema que esse documento não foi enviado à Agência Nacional de Mineração (ANM) nem aos órgãos estaduais. Mas também não explicou o motivo para o qual foi contratado e elaborado. Leia aqui: Vale apresenta ao Codema plano de fechamento das minas de Itabira sem alternativas econômicas para o pós-mineração.

O documento, mantido em sigilo por anos e divulgado apenas parcialmente após insistentes cobranças deste site Vila de Utopia e por conselheiros do Codema, não informa como serão tratadas questões como o uso futuro de áreas exauridas, inclusive das barragens, assim como se dará a reconversão econômica e reabilitação de todo o território exaurido e degradado pela mineração.

“É hora de discutir o pós-mineração com seriedade e responsabilidade. Precisamos de um modelo de cidade sustentável, com envolvimento das entidades de classe e do terceiro setor”, cobrou o vereador Júber Madeira (PSDB).

Na mesma linha, o vereador Heraldo Noronha (PRB) reforçou. “É inadmissível que uma empresa desse porte encerre atividades sem informar claramente à comunidade. Precisamos de transparência sobre o presente e o futuro das minas locais. Só assim teremos uma relação democrática e sustentável”.

A Vale abriu e desativou bairros, como a vila Sagrado Coração de Jesus (Explosivo), que cedeu espaço para se instalar o complexo Cauê na década de 1970 (Foto: Tibor Jablonsky/Ney Strauch/IBGE)
Transparência e responsabilidade social

Os vereadores ressaltaram ainda que Itabira deve ser vitrine mundial de fechamento de mina com justiça social.

Mas para isso, é necessário que a empresa assuma responsabilidades e abra diálogo com a sociedade, abandonando práticas de greenwashing, que ocorrem quando empresas simulam compromisso ambiental apenas para melhorar sua imagem, além de investir de fato, e não de ficção, em projetos sustentáveis.

Entre esses projetos está o Itabira Sustentável, que precisa sair do papel para não se tornar mais uma promessa vazia, como ocorreu com o Itabira 2025, lançado em 1992 pela Associação Comercial e Industrial de Itabira (Acita), mas que nunca foi implementado.

Um futuro incerto sem contrapartidas

A crítica recorrente entre os vereadores é que, enquanto cidades como São Gonçalo do Rio Abaixo recebem novos empreendimentos da Vale, Itabira, berço da mineradora, não tem garantias de investimentos que assegurem sua sobrevivência econômica após o fim da exploração mineral.

“Se não fosse Itabira, não haveria a Vale. É hora de exigir que a empresa retribua à altura o que tirou daqui”, concluiu Bernardo Rosa.

Leia também:

Vale não reconhece dívida histórica com Itabira, mas registra em relatório as várias ações de cobranças que responde nos tribunais

 

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