Verdades e mentiras sobre o tratamento de esgoto em Itabira que segue quase todo a “céu aberto” poluindo o rio de Peixe
No destaque, esgoto escorrendo sem interceptores no rio de Peixe, no bairro Gabiroba
Fotos: Carlos Cruz
Itabira sucateada
Com a aprovação pela Câmara Municipal do projeto de lei 36/2022, que permite ao prefeito Marco Antônio Lage (PSB) captar R$ 98 milhões junto à Caixa Econômica Federal (CEF), por meio da linha de crédito de Financiamento à Infraestrutura e ao Financiamento (Finisa), com a justificativa de que a infraestrutura urbana está sucateada e precisa ser recuperada, emerge também a precariedade do funcionamento da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Laboreaux.
A ETE foi construída com moderna tecnologia e contou com financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), negociado pelo ex-prefeito Jackson Tavares (1997-2000), mas que só foi instalada e começou a operar, ainda que precariamente, no primeiro governo de João Izael Querino Coelho (2005/2008).
Na fase inicial era para tratar 160 litros por segundo (l/s) de esgoto. E tinha previsão para chegar a 360 l/s. Mas sem interceptores, nenhuma dessas etapas foi alcançada, embora a estação esteja sendo, mais uma vez, ampliada para aumentar a sua capacidade de tratamento.
Ociosidade
É que “passaram o carro na frente dos bois”, diz um técnico da área ouvido pela reportagem, e que acompanhou desde o início a sua instalação. “Construíram a ETE sem que fossem instalados os interceptores. Sem eles, não há o que ser tratado. O esgoto de Itabira, em sua maior parte, continua seguindo sem tratamento pelo rio de Peixe”, lamenta.
Essa informação foi confirmada pelo prefeito em sua última live. “Na administração passada, o Saae dizia tratar 91% do esgoto de Itabira. Não é verdade”, afirma.
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“A ETE Laboreaux só está tratando pouco mais de 40% do esgoto da cidade”, disse o prefeito, esquecendo-se de acrescentar que isso só ocorre agora, depois de ter sido restaurado um dos poucos emissários que chegam até a ETE – e que rompeu com a chuva do dia 22 de janeiro deste ano.
Ou seja, até recentemente, por mais de seis meses, a ETE ficou por todo esse tempo sem tratar o esgoto dos principais efluentes da cidade.
Gargalos
Marco Antônio Lage promete solucionar esse e outros gargalos existentes na infraestrutura urbana e assim elevar Itabira para um patamar minimamente aceitável para começar a se tornar uma cidade sustentável. Mas não será tarefa fácil.
Por exemplo, terá que solucionar o desde sempre problema existente com o emissário que foi desativado na avenida João Pinheiro, na esquina com a rua São José. Foi quando se verificou a existência de uma diferença de nível nessa localidade, o que ocasiono, assim que o canal foi fechado, o estancamento do esgoto que passou a invadir as residências.
Como não acharam solução adequada, decidiram que o melhor era deixar o esgoto escorrer juntamente com a água do córrego da Penha. E assim foi feito e permanece.
É o que pode ser observado com os efluentes seguindo junto com a água do córrego da Penha pelo canal aberto (e assim deve permanecer aberto, sem ser fechado), depois da praça Acrísio de Alvarenga, na avenida Carlos de Paula Andrade, bem em frente da prefeitura.
Em decorrência, todo o esgoto que escorre dos bairros Pará, Vila Paciência, Moinho Velho, Chacrinha, Alto Pereira não é tratado pela ETE Laboreaux. Como não é tratado o esgoto que escorre juntamente com o córrego subterrâneo na avenida Osório Sampaio.
Não se sabe também se os interceptores instalados de “modo não invasivo” pelo Saae, na administração passada, passando por debaixo da linha férrea, estão conectados a ETE Laboreaux. Se não estiverem, também nada dos esgotos vindos dos bairros situados do outro lado da estrada de ferro está sendo tratado.
O esgoto que escorre pelo rio de Peixe, passando pela região do bairro Gabiroba, também não vem sendo tratado. Para comprovar a afirmação, basta passar pela avenida Almir Magalhães e seguir pelo córrego pelo trecho ainda não urbanizado.
Essa é outra situação de precariedade e sucateamento urbanístico que afeta os moradores vizinhos com o mau-cheiro – e também agravando a saúde pelo contato e proliferação de animais peçonhentos.
Ociosidade
“A ETE tem eficácia para tratar todo esgoto que recebe. Mas quase nada, até pouco tempo, estava entrando no circuito para tratamento”, diz essa fonte ouvida pela reportagem. A afirmação pode ser constatada pelo volume de esgoto que escorre pelo rio de Peixe abaixo da estação de tratamento.
“Até meados da década passada a ETE Laboreaux estava entre as 20 melhores do Brasil. Chegou a ser selecionada para um projeto de potencial energético do biogás, mas isso não foi para frente por falta de interesse da direção do Saae naquela época”, recorda esse mesmo técnico.
“Na administração pública muito se fala que o principal problema é a corrupção, mas é também a ineficiência, o pouco caso, a falta de comprometimento de muitos dirigentes”, considera essa mesma fonte.
Para viabilizar o projeto, recorda, o Saae chegou a instalar diversos equipamentos para medição qualitativa e quantitativa do biogás. “Essa seria a primeira fase do projeto. A segunda viria com a instalação dos equipamentos para transformação do biogás em energia. Infelizmente o projeto não passou da primeira etapa. O Saae não fez a contrapartida, que era coisa mínima.”
Gás poluente
Ainda segundo essa mesma fonte, nem mesmo a queima do gás metano, que corresponde a 70% dos gases gerados no processo de tratamento, e que é altamente agressivo à camada de ozônio, já não ocorre há mais de seis anos. “Antes era possível ver a fumaça que saia da queima do metano. Isso já não ocorre mais. Sem queimar, o metano é um gás altamente poluente.”
Essa queima teria deixado de ocorrer com o entupimento, por falta de manejo adequado, do compartimento de gases, por materiais que não foram retirados. Foi o que bloqueou a passagem do gás metano para ser queimado. “A linha de gás foi agora trocada, mas sem retirar esse material o problema vai persistir. E não vai ficar barato”, adverte.
Da mesma forma, por desinteresse das administrações passadas, ainda não é aproveitado os demais resíduos provenientes do processo de tratamento do esgoto. “O lodo resultante da parte orgânica do material em decomposição poderia ser transformado em adubo para as praças e jardins da cidade.”
Merda gerando merda!