Valério quer dar a volta por cima com apoio de Itabira
Carlos Cruz*
Mesmo com quase R$ 8 milhões de dívida, o Valeriodoce Esporte Clube (VEC) está em campanha para virar um time de futebol efetivamente de Itabira, desfazendo-se da imagem do passado de pertencer à mineradora, que foi por muitas décadas o seu patrocinador exclusivo.
Tradicional clube mineiro, nascido pouco depois do surgimento da então estatal Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), em 1942, daí o seu nome, a diretoria do clube já sabe que a chance de voltar a contar com o apoio da empresa é remota. Não nutre também esperança de retornar com a participação da Prefeitura, que no início deste século patrocinou o escrete profissional do Dragão itabirano, juntamente com a Vale, pouco depois de ser privatizada.
Por isso a saída, diz o seu presidente Luiz Antônio “Precata” de Oliveira, é contar com o apoio da sociedade itabirana, com torcida e patrocínio, inclusive ampliando o número de associados. O clube já teve mais de 3,7 mil sócios, caiu para 250 sócios pagantes. Hoje está com aproximadamente 400 associados.
“Vamos criar as categorias de sócios escolar e universitário, com mensalidades bem baratinhas, entre R$ 25 e R$ 30. Queremos trazer para as nossas dependências o itabirano que hoje não frequenta clube em Itabira e também os alunos da Unifei. Mas para isso, precisamos fazer algumas reformas”, disse Precata em reunião na Câmara nessa terça-feira (20), revelando uma das estratégias para melhorar as finanças do clube.
Categorias de base
Mas a aposta maior da diretoria do Valério hoje é na revelação de atletas das categorias de base – e também dos esportes especializados. “A chave para voltar à primeira divisão está nas categorias de base. O Valério tem tradição de revelar bons atletas.”
Além de formar quadros para retornar à primeira divisão do Mineiro, a diretoria espera também “fazer caixa” para ir pagando as suas dívidas com a venda de jogadores revelados nas categorias de base. “Já estamos com mais de 120 meninos de Itabira e cidades vizinhas tendo oportunidade de jogar futebol e de se profissionalizar”, entusiasma-se
Para tornar esses atletas competitivos, o Valério já se inscreveu para disputar os campeonatos Mineiro sub-15 e sub-20. Portanto, torcedoras e torcedores, agendai-vos! A partir de março (o calendário ainda não está fechado), um programa legal vai ser ir ao estádio Israel Pinheiro acompanhar e incentivar a garotada disputar a pelota com inspiração, a driblar o goleiro e só não entrar com a bola e tudo no gol por ter humildade. “E gol”, vai voltar gritar a torcida.
E no segundo semestre, com a maioria dos jogadores formada pelas categorias de base, o Valério retorna ao módulo 3 do Mineiro, depois de se ausentar no ano passado por falta de patrocínio. “O Valério é uma grande marca e quem se associar ele, com certeza terá um ótimo retorno”, propagandeia o presidente.
É assim, com patrocínio de empresas itabiranas e apoio da torcida, que o time itabirano, que um dia tocou o coração do poeta, espera voltar para a primeira divisão. Mas antes terá de passar e sair da segunda divisão.
“O nosso lugar é na prateleira de cima do campeonato Mineiro, de onde nunca devíamos ter saído”, prega o intrépido Luiz Precata.
Com a sua utopia planejada para deixar de ser sonho, se assumida por muitos, ele espera ver o Valério novamente derrotar no “Pinheirão” os grandes times da capital e do interior. “É o nosso sonho como dirigente e torcedor.”
Dívidas e obstáculos
Além de voltar a jogar um bom futebol, com a valorização dos atletas a diretoria pretende saldar as suas dívidas. São dívidas que, segundo Precata, aos poucos estão sendo quitadas. “Todos os dias vou ao fórum pagar uma dívidazinha”, confidencia. “Estamos inclusive negociando com alguns credores pagar parte dessa dívida cedendo direito sobre jogadores promissores da base”, projeta.
Para atingir os seus objetivos, o Valério tem uma maratona pela frente. Para vencê-la, diz Precata, o apoio do torcedor e dos patrocinadores será imprescindível. Tudo isso, além da ajuda de todos os santos.
Não é tarefa fácil, mas o fato é que o Dragão está renascendo, quase pronto para novamente soltar fogo pelas ventas. E retornar às grandes conquistas esportivas, inclusive nos esportes especializados.
Falta ainda convencer a torcida de que vale a pena voltar a torcer pelo Valério. E também provar aos patrocinadores de que é um bom custo-benefício se associar à sua marca. “Nada é impossível. Temos motivação, credibilidade e uma marca reconhecida em todo estado e no país. Até Drummond já beijou comovido a camisa do Valério”, entusiasma Luiz Precata.
Vale deixa de apoiar o Valério por falta de prestação de contas, diz presidente do clube
Nas inúmeras tentativas para salvar o Valério da bancarrota, a diretoria já procurou a Vale e a Prefeitura, mas sem muitas esperanças. Como era de se esperar, pelo menos para o momento, não obteve nem mesmo uma promessa vaga de apoio.
“A Prefeitura está em crise financeira e a Vale aguarda as prestações de contas dos patrocínios que fez no passado e que deixaram de ser apresentadas. Sem isso, não há como ela voltar a patrocinar o Valério. Foi o que me disse o seu gerente em Itabira”, revelou o presidente Luiz Precata aos vereadores, depois de ser perguntado o por quê de a mineradora não mais patrocinar o time profissional.
No início do século, por meio da Fundação Vale, o Valério assinou contrato com a empresa Romário Esportes, do ex-craque Romário de Souza Faria, atual senador pelo Rio de Janeiro. Romário esteve em Itabira por diversas vezes, tanto no início das atividades como para participar da formatura de atletas pelo projeto Romarinho, Bom de Escola, Bom de Bola. Além de o projeto propor formar cidadãos estudiosos, havia a expectativa de revelar alguns atletas profissionais.
Numa das vindas de Romário a Itabira, ele disse que havia possibilidade de participar de uma empresa que seria constituída para administrar o clube itabirano – e que atenderia pela razão social de VEC S.A. “Temos conversado com as diretorias do Valério e da Vale”, admitiu o ex-craque da seleção Brasileira na ocasião. Infelizmente, por razões diversas, o projeto não foi para frente.
Anos mais tarde, em 2004, a Vale voltou a patrocinar o time profissional, sob o argumento de apoiar a torcida. Foi quando o Valério voltou à primeira divisão do campeonato Mineiro, para em seguida cair novamente. Para incentivar a ida da torcida ao estádio, os portões eram abertos. A Vale patrocinava os ingressos.
Infelizmente, a fonte secou pelo menos enquanto o clube não prestar conta dos patrocínios anteriores, é o que revela o próprio presidente Luiz Precata. Entretanto, como os tempos são outros, ele ainda nutre esperança, pequena que seja, de que possa obter novos patrocínios da mineradora – e também muitos de outras empresas estabelecidas em Itabira. Afinal, otimismo não pode faltar quando se tem uma utopia com a qual se sonha um dia virar realidade.
*Carlos Cruz é jornalista, repórter e editor deste site Vila de Utopia
Queria ver mais fotos do dia da entrega dos diplomas aos atletas do Valerio deste dia !